Primeira mulher trans nos Jogos Paralímpicos: «Sei que o que faço é real»
Valentina Petrillo (Imago)

Primeira mulher trans nos Jogos Paralímpicos: «Sei que o que faço é real»

MAIS DESPORTO20.08.202413:08

Valentina Petrillo vai fazer história em Paris

Promete ser uma das participações mais polémicas dos jogos Paralímpicos em Paris 2024: Valentina Petrillo - até 2019 Fabrizio – é a primeira atleta transgénero de sempre a competir neste evento.

A italiana, com deficiência visual, vai competir nas provas de 200 metros e 400m t12 e promete ter forças para lutar contra aqueles que consideram que não devia poder competir contra mulheres.

«Sinceramente, mal posso esperar para estar em Paris e correr naquela bela pista. Acho que haverá muito mais carinho por mim do que posso imaginar», diz em entrevista ao jornal espanhol Relevo. «É justo que cada um de nós se possa expressar no seu próprio género. O desporto deve ensinar-nos o valor da inclusão e isso é fundamental para a felicidade das pessoas», completa.

No entanto, carinho não é o que tem recebido sempre. E até de Espanha, depois de nos mundiais paralímpicos de 2023 ter ficado à frente da espanhola Melani Bergés, carimbando passagem aos olímpicos à frente desta. Vários atletas criticaram o resultado e pediram à federação internacional de para-atletismo que tomasse a decisão da homónima World Athletics, que barra acesso a atletas transexuais que tenham passado pelo processo de puberdade enquanto homens, bem como, e também de forma polémica, a mulheres com níveis de testosterona acima de um certo limite. Mas essa é outra polémica.

Uma prova em 2023:

Nascida em Nápoles em 1973, iniciou em 2018, aos 45 anos, a transição de género, e tornou-se a primeira mulher trans a participar nos  Campeonatos Paralímpicos de atletismo de Itália em 2020, mas a federação italiana excluiu a sua participação em Tóquio 2020.

Agora estará em Paris. «Pouco a pouco, compreendi que, infelizmente, é preciso viver com a inveja e o ciúme das pessoas, mas, pela minha parte, tenho consciência de que o que faço é real e, por isso, não tenho nada a temer», afirma a atleta, que conquistou duas medalhas de bronze nos Mundiais de Paris. «Agora posso ganhar uma medalha, mas tenho de fazer melhor do que o meu recorde pessoal do ano passado (58,011), porque o nível aumentou», completa.

A recente polémica em Paris 2024 com as pugilistas Imane Khelif e Lin Yu-ting, que acabaram por se sagrar campeãs olímpicas, tornará o seu caso alvo de atenção.

Valentina Petrilho, primeira atleta trans nos Jogos Paralímpicos

Antes da transição:

Pela sua parte, Valentina espera que a sua presença ajude a normalizar a comunidade trans no dia a dia.

«Estou consciente do valor social e cultural da minha presença em Paris 2024. Farei o meu melhor para estar à altura da situação e conseguir um resultado desportivo com algum valor competitivo. Há uma comunidade que me apoia e me admira, mas mesmo aqueles que não são do mundo LGTBIQ+ estão a torcer por mim, porque me veem como um modelo inspirador.»

«Só queremos que ela esteja feliz e satisfeita por ter alcançado este objetivo paralímpico», defende Dario Merelli, representante da ASD Omero Bergamo, clube onde se treina, em declarações à FranceInfo.

Merelli diz que não foi fácil aceitar Valentina, mas que o fizeram pela inclusão trans e pelas pessoas com deficiência: «Recebemos e-mails e mensagens discriminatórias, dizendo que as pessoas transgénero devem competir noutras categorias. Mas não somos nós que fazemos as regras.»