Desporto e a prática de atividade física está ao alcance de todos, mas o país permanece na cauda dos mais ativos na Europa
Segundo um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) do ano passado, mais de 45% dos adultos portugueses fazia menos de 150 minutos de atividade física semanal. Isto coloca Portugal como o país da União Europeia (UE) que realiza menos exercício físico.
Para Nuno Ferro, Presidente da Sociedade Portuguesa de Educação Física, a forma como o Estado Novo tratou o desporto está relacionada com indicadores destes (que, segundo o mesmo relatório, pioram desde 2017): «Há uma dimensão cultural sobre a atividade física que em Portugal não se entendia como sendo algo importante para ter o estatuto que devia ter. Temos uma baixa prática desportiva devido a uma questão cultural e educacional.»
Durante os 41 anos em que vigorou o Estado Novo, as conceções de desporto e de atividade física pouco foram fomentadas. Tal teve um impacto direto no desenvolvimento do desporto no país, que ainda hoje se sente
Igualmente relevante é o facto de muitas destas práticas pouco desportivas se tornarem hábitos logo na infância.
«A atividade física é vista como algo que só cansa os miúdos. Temos um 1.º ciclo que, apesar de a Educação Física estar nos currículos, os professores não sentem capacidade nem necessidade de a terem como uma área sistemática no currículo. Estamos logo a privar os miúdos da atividade física numa idade essencial», indica Nuno Fialho, vice-presidente do Conselho Nacional das Associações de Professores de Educação Física.
Deste modo, não é de admirar que o mesmo estudo da OMS indique Portugal, Itália e França como os Estados-membros da UE com piores níveis de atividade física entre adolescentes.
Tal também se deve a uma falta de esforço dos governos em proporcionar espaços para a atividade física. Nuno Ferro explica que «há países na Europa que têm a obrigatoriedade de construir espaços de atividades desportivas consoante a população de cada local». «Por exemplo, num sítio com 3 mil habitantes, tem de haver um pavilhão com certas condições. Isso em Portugal não existe.»
Tradicionalmente separadas dos rapazes, incontáveis foram as raparigas que não seguiram a veia desportiva por questões sociais, estruturais ou culturais, durante o regime salazarista. Mas alguns dos destes problemas marcantes dessa época continuam presentes na atualidade
O fim do Estado Novo deu asas à democratização da Educação Física em Portugal. Onde dantes havia restrições, passou a haver oportunidades que muitos entusiastas da prática desportiva aproveitaram, e aproveitam, da melhor maneira - «a diferença na disciplina de Educação Física entre o pré e o pós 25 de abril é enorme», diz Nuno Ferro.
No entanto, há sempre um mas. Neste caso, a “nova” Educação Física que a Revolução dos Cravos provocou não se estendeu à cultura desportiva dos portugueses. Como explica Nuno Fialho: «Apesar de haver uma valorização da atividade física na escola, apesar de haver programas e de ser senso comum, não vemos muita valorização da mesma. Diria que ainda estamos a tentar resolver a questão da cultura desportiva.»
Nuno Ferro também conclui o tema com um ligeiro desalento: «No que toca à perspetiva cultura da atividade física… digamos que estamos em processo. E que muitos índices desta continuam muito aquém do desejável.»