O ciclismo quer aumentar pedalada pelo ambiente
União Ciclista Internacional (UCI) quer acabar com as ligações aéreas nas grandes voltas. Objetivo: reduzir pegada carbónica. Todavia, reuniões à margem do COP28 sem resultados
As reuniões entre a União Ciclista Internacional (UCI), os organizadores das grandes voltas, Giro (RCS Sports), Tour (ASO) e Vuelta (Unipublic), e os representantes das equipas (AIGCP) e dos ciclistas profissionais (CPA) não tiveram os resultados que se esperavam sobre a diminuição da pegada de carbono do ciclismo, Os encontros, na última segunda-feira, no Dubai, à margem da Cimeira do Clima (COP28) entre aquelas entidades, que visavam um entendimento sobre a restrição do recurso ao avião nos transfers das equipas e restante caravana nas referidas grandes competições por etapas, de modo a reduzir as emissões de carbono, não resultaram em decisões importantes.
A UCI insiste em diminuir o número de voos durante as competições e na falta de acordo admite recorrer à União Europeia. Contudo, as equipas, através da AIGCP, os ciclistas, com a CPA, e os organizadores de corridas, pela AIOC, acordaram desde já em não utilizar meios aéreos nos finais de etapas de alta montanha para a deslocação mais rápida e cómoda dos ciclistas para os hotéis.
A pretensão da UCI de que as equipas e as competições do WorldTour reduzam as suas emissões de carbono em 50% até 2030 é uma das medidas que esteve em cima da mesa das conversações, mas que o acordo parece não ser fácil, segundo a versão de David Lappartient presidente da UCI.
Os transfers de avião nas grandes voltas da temporada constituem uma das questões mais controversas da maior proteção ambiental requerida pela UCI para o ciclismo.
Este ano, apenas as organizações da Vuelta e do Giro recorreram a ligações aéreas para as deslocações durante a competição. Em Espanha, entre a 9.ª e a 10.ª etapa, de Múrcia e Valladolid, e em Itália, entre os Alpes (20.ª) e Roma (21.º). Os responsáveis do Tour utilizaram o TGV para fazer o trajeto entre os Vosges (no nordeste do país) e Paris, também na véspera do último dia de prova.
Em 2024, o Tour já garantiu que manterá a utilização do comboio de alta velocidade, entre Orleans e Troyes (do final da 11.ª etapa para o ínico da 12.ª), mas o Giro continuará a voar, no caso para levar a comitiva de Vicenza a Roma para a tirada de consagração. O percurso da Vuelta do próximo ano ainda não é conhecido na sua totalidade, mas sabe-se que a prova arrancará em Portugal (Lisboa) e que seguirá para o centro do país, antes de rumar ao norte de Espanha (Astúrias). Prevê-se, nesta ligação, a dispensa de ligações aéreas. Mas só.
Os benefícios das viagens aéreas numa grande volta são claros. Abrem novas partes do mundo aos organizadores de corridas. O Giro não voa dos Alpes para Roma por diversão e todos entendem porque parece ser claramente um imperativo financeiro, e culturalmente que a corrida termine ali (e a mesma coisa para o Tour, com o histórico final em Paris - em 2024 excecionalmente quebrado pela realização dos Jogos Olímpicos na capital), mas com 21 etapas que as grandes voltas certamente podem organizar-se (melhor) para proporcionar a mesma abrangência territorial e a partidas no estrangeiro sem ter que recorrer ao avião. A Vuelta frequentemente voa por Espanha para cobrir uma maior parte do seu território.
O impacto ambiental destas corridas já é suficiente, começando pela caravana publicitária, seguindo-se a procissão de autocarros e carros das equipas, as infraestruturas e os adeptos. As transmissões televisivas são em grande parte responsáveis pelas elevadas emissões de carbono que movimenta centenas de pessoas em automóveis e motos, a que se juntam as transmissões diretas cuja produções são da responsabilidade das televisões dos países onde se realiza o evento. As coberturas que incluem a emissão de sinal que nas grandes voltas chega a movimentar dez helicópteros e três aviões a que se juntam os meios logísticos de reportagens em viaturas ligeiras e motos.
As Grande Partidas (no Tour, a célebre Grande Départ) exigem grandes começos, como lhe quiserem chamar, deveriam ser restritos aos países vizinhos, locais que podem ser atravessados por estradas. Isto pode parecer punitivo para o Giro e para os países no fim da Europa, mas dentro das fronteiras de Itália e de Espanha há o suficiente para proporcionar três semanas de entretenimento.
Passado o tempo de excesso devemos procurar manter-nos dentro das nossas possibilidades, e manter as grandes Voltas fundamentadas, porque chegou a hora da UCI intervir e mostrar o seu valor. «Não Queremos Mais aviões nas Grandes Voltas», é o objetivo pelo qual luta a UCI e que constitui um grito de alerta para o ciclismo que deverá tomar medidas a curto prazo antes que a situação alastre e se torne difícil de controlar, a reunião no Dubai terminou sem acordo entre as partes interessadas.
A UCI admite recorrer à União Europeia para avançar com as decisões a serem implantadas no decorrer de 2024, a dúvida está em saber se o fator financeiro vai continuar a ter mais força do que aqueles que lutam pela redução de carbono.