«Não terminou como um conto de fadas, mas foi como um filme de super-heróis»
Telma Monteiro ficou a um lugar da repescagem para os Jogos Olímpicos de Paris (Foto: Imago)
Foto: IMAGO

«Não terminou como um conto de fadas, mas foi como um filme de super-heróis»

JUDO03.07.202422:54

Telma Monteiro viu confirmado adeus a Paris 2024, naquela que seria a sexta participação em Jogos Olímpicos da judoca que conquistou o bronze no Rio2016

Frustrada e triste, assim se mostrou Telma Monteiro depois de ver confirmada a sua ausência dos Jogos Olímpicos de Paris. A judoca do Benfica foi operada em novembro e contra todas as expectativas voltou à competição e lutou por um lugar no ranking que lhe permitisse a repescagem. Ficou a um lugar.

«Por onde se começa um texto que nunca imaginamos escrever… Receio que um post não seja suficiente para tudo o que sinto, senti e vivi nos últimos meses», começou por escrever nas redes sociais.

«Este ciclo não termina como os últimos cinco. Foram cinco ciclos olímpicos e tudo indicava que iam ser 6 e assim história. Quando, em novembro, fui operada ao lateral interno, meniscos, 99 por cento das pessoas achou que não voltaria para terminar a qualificação olímpica. Talvez nem voltasse a tempo de Paris 2024. Nem sei quantas vezes ouvi isto. Isolei-me, foquei-me em trabalhar e estar perto de quem me desse energia positiva. A verdade, é que contra todas as expectativas, voltei cinco meses depois.»

Telma Monteiro foi a primeira, e única, judoca portuguesa a conquistar uma medalha olímpica, há oito anos no Brasil. «O desgaste mental para estar pronta foi enorme. Passei mais horas no ginásio e na fisioterapia do que em casa. Faltava um mês para terminar a qualificação quando voltei à competição. Tinha pela frente quatro provas seguidas. Nem em forma faço esse planeamento, mas não havia outra opção. Sabia que ia agarrar com tudo, todas as hipóteses que tinha. O risco de voltar a rasgar o joelho era, na teoria, quase 100 por cento. Mas havia 0,1 por cento de dar certo e eu ia tentar contra todos os prognósticos. Arriscar a minha saúde foi uma decisão consciente. Senti medo? Já vos disse noutra altura, sim, muito. E se rasgasse? A dor… o fim da qualificação… era um filme de terror que queria passar na minha cabeça e que tinha de constantemente pôr em pausa para poder lutar.»

Aos 38 anos, a menina de Almada vê o sonho de fazer história deitado por terra, apesar de todo o esforço que colocou nos objetivos, como ela própria conta. «Para ser sincera, a determinada altura decidi aceitar que ia rasgar. Só rezava para que não fosse grave e já tivesse conseguido os pontos suficientes. Era um pensamento kamikaze, mas o único que me deixava livre para lutar. Mas não rasgou! Consegui um 7.º lugar no Europeu, praticamente sem preparação especifica nenhuma. E seguiram-se mais dois Grand Slams e o Mundial, tudo seguido. O corpo foi ficando cansado, a cabeça queria, mas o corpo com falta de preparação não conseguia corresponder. Tantas emoções, um aperto no peito, muitas lágrimas mas a exigência de ter de manter o foco semana após semana tinha de ser maior. Fui frustrante, duro em todos os aspetos.»

Telma Monteiro é a judoca mais medalhada do Mundo

A judoca do Benfica é das atletas mais medalhadas do Mundo tendo conquistado, além do bronze olímpico, cinco medalhas em mundiais, 15 em Europeus, seis destas como campeã da Europa, e quatro no Masters. «Queria ser e fazer mais mas não conseguia! Uma exigência fora do normal e injusta. Porque só o facto de estar a lutar já era um feito gigante. Mas eu queria mais! Fisicamente exausta, mentalmente no limite.»

Fora as medalhas do circuito mundial, Telma Monteiro tem 25 medalhas com que todos sonham, por isso, tem direito a grandes desabafos. «Ficar a um lugar de ir aos Jogos Olímpicos depois de tudo o que aconteceu, depois de todo o esforço é muito duro. Não parece real, mas fx@2@@, é! Mas estar triste não em impede de estar, ao mesmo tempo, grata e sentir um profundo orgulho em tudo o que fiz, como fiz. E isso estende-se a todos os que me ajudaram e embarcaram nesta tarefa «impossível». Fizemos o impensável. Obrigada por terem tentado comigo. Não terminou como um conto de fadas, mas foi sem dúvida um percurso daqueles como nos filmes de super-heróis.

Obrigada Deus. PS. Era possível»