Snooker Mundial: Si às portas da final e Selby já na frente

SNOOKER28.04.202323:19

O chinês Si Jiahui, de 20 anos, 36.º da hierarquia - e que era… 80.º (!) antes de o Mundial se iniciar – continua o seu conto de fadas e, vindo das qualificações, está a três ‘frames’ da final do Campeonato do Mundo, prova maior da época 2022/23 da World Snooker, que decorre desde dia 15 e termina na segunda-feira, dia 1 de maio, em Sheffield (Inglaterra), após concluir as duas sessões do dia do seu embate com o Luca Brecel belga, de 28 anos, quinto da tabela mundial, a liderar por 14-10.

Um duelo que se irá concluir na tarde de sábado (14.30 horas). Na outra meia-final, o norte-irlandês Mark Allen, de 37 anos, segundo do ranking, e que chegou à frente à segunda sessão ante o sexto da hierarquia, Mark Selby, de 39 anos, tetracampeão mundial (2014, 2016, 2017 e 2021), por 5-3, viu o inglês dar a volta e termina a única sessão do dia do duelo na frente, ao virar de 3-6 para… 7-6 a seu favor, numa sessão de ‘frames’ tão mentalmente intensos e de batalhas táticas extenuantes que acabaram por ser jogados apenas cinco dos oito parciais previstos.

Preparemo-nos, pois, todos, para uma madrugada até um chegar aos 17 na noite de sábado, no Crucible Theatre, na quarta e última sessão (terceira pela manhã, 10 horas, mais oito ‘frames’).

Figura do dia, Si Jiahui, uma vez mais, que durante a manhã revelou que, independentemente do que suceder – e está a três ‘frames’ de imitar o compatriota Ding Junhui, último a chegar à final vindo das qualificações, em 2016 (14-18 ante Selby), e a 21 de, 18 anos depois, imitar Shaun Murphy, último campeão vindo do ‘qualifying’ (2005) – é já figura do Mundial: nasceu uma estrela.

Os sinais estão lá todos, o ‘pacote’ é completo de calma, resiliência, teoria e prática conjugadas… e muita coragem. Espetacular a exibição do jogador – que em 2020/21 jogou com o cabelo pintado… de azul -, natural de Zhuji, cidade com 12 milhões de habitantes, na província de Zheijiang, centro-norte da China, na sessão matinal.

Brecel, com ‘break’ de 52 pontos, ainda encostou a 4-5, mas a partir daí, o Mundo abriu os olhos de espanto e questionou-se por onde andava escondido este chinês que joga, aos 20 anos, com a classe e o estofo de um tarimbado na alta roda.

Jogo ofensivo longo, entradas estonteantes, de 65, 122, 89 e 71 pontos, respetivamente e por esta ordem, permitiram ao asiático, que começou a jogar snooker aos 11 anos no clube detido pelo seu pai, disparar até 9-4, antes de Luca vencer o que seria o seu último parcial da manhã (5-9), pois mais duas visitas à mesa e o ‘aspirador de bolas’ - que o progenitor, para que evoluísse, colocou num ‘campus’ em Xangai – ‘limpou’ dois últimos parciais da manhã: 6-2 na sessão, 11-5 no final da sessão. Puro deleito.

O ‘samba de uma nota só’, em Si, continuou no início da sessão noturna: ‘break’ de 90 pontos, e 12-5, centenária (entrada de 132 pontos) e 13-5, e no 19.º parcial ‘break’ de 97 pontos para 14-5. O risco de dispensar quarta sessão estava omnipresente, tal o desequilíbrio. E se ao chinês tudo saía perfeito, já o belga afundava-se na cadeira e… apreciava o show.

Mas Luca, como mostrou a 2-6 e 6-10 ante Ronnie, vai ‘do 8 ao 80’ num estalar de dedos. Centenária (entrada de 108 pontos) antes do intervalo deu-lhe o 6-14 ao intervalo. E surgiu transfigurado, para melhor, após a pausa: 4-0 em parciais, com entradas de 60, 66 e 53 pontos, a atenuar até 10-14 e lançar a dúvida sobre se se terá acabado o ‘gás’ a Jiahui.

O chinês, fã de música, cinema e de leitura, refira-se, vive num apartamento arrendado em Sheffield e pratica na Victoria Academy, a dois passos do Crucible. Passou inenarrável ausência da família devido à pandemia do Covid-19: esteve três anos sem ver os seus próximos, até que, em fevereiro do corrente ano, por fim os conseguiu ir visitar à China e matou saudades, durante três semanas. Os frutos de tanto treino estão à vista: conquistou o respeito e a admiração do Mundo, pelo que já fez, e como fez, até aqui, onde todos têm de provar: à mesa.

Tenso e intenso ‘duelo dos Mark’s’

Já no ‘duelo dos Mark’s’, ‘The Pistol’ (Allen) terá dificuldades em adormecer mas já sabe o que o espera ante o cerebral e colossal Selby dos bons velhos tempos: ampliou a vantagem que trazia, de 5-3 para 6-3, mas o 10.º ‘frame’ virou o jogo: uma tremenda batalha tática, de 45 minutos de parcial.

Se Luca e Si parecem na via rápida, Allen e Selby mostram que também se chega lá a parar em cada apeadeiro para reabastecer: o snooker puro e duro, defensivo, é extraordinário e mentalmente tremendo, mesmo se porventura não espetacular a olho nu como o ofensivo.

O norte-irlandês protagonizou ‘break’ de 60 pontos nesse 10.º parcial mas não conseguiu fechar o ‘frame’, desperdiçando três bolas que em dez embolsaria nove delas em condições normais para fazer o 7-2 (duas amarelas e uma verde, depois).

Mas Selby, que precisava de snookers (defesas) e de uma falta do rival, acabou por levar a melhor e, de antes quebrar que torcer – imagem de marca, um competidor que elevou o jogo defensivo ao galarim e obrigou todos os outros a subirem também o nível neste departamento -, selou mesmo o 4-6.

Canto do cisne para Allen no dia. O inglês, através de entrada de 65 pontos, a encostar, depois, a 5-6, a igualar 6-6 com Allen estranhamente a conceder quando só precisava de duas faltas do rival (para não se desgastar) e Selby a passar para a frente: 7-6!

Sábado, vão ter de jogar até um chegar a 17, e no limite… mais 20 parciais, podendo jogar 12 ou mais na sessão noturna: promete noite épica, ‘à la Crucible’, até pelo tempo de 30 a 40 minutos que, em média, têm demorado os ‘frames’, o que dispensa comentários sobre a intensidade e tensão presentes.

O Mundial, prova que encerra a época 2022/23 da World Snooker, disputa-se no Crucible Theatre, em Sheffield (Inglaterra) durante 17 dias, até 1 de maio, e é transmitido para Portugal (EuroSport).

Ronnie O’Sullivan venceu em 2022 (18-13 a Judd Trump na final). A prova dá £2,395 M (€2,704 M), das quais meio milhão de libras (€564.589) ao campeão e £200 mil (€225.836) ao ‘vice’. Os quatro semifinalistas já têm garantido um prémio mínimo de £100 mil (€112.918).

As meias-finais, recorde-se são jogadas em quatro sessões, à melhor de 33 ‘frames’ - oito parciais em cada uma das três primeiras sessões, até possíveis mais nove na quarta -, vencendo e passando à final o primeiro a chegar a 17 (de 17-0 a possíveis 17-16).

A final do Mundial é domingo e segunda-feira, dias 30 do corrente mês e 1 de maio, em dose dupla diária (13 e 19 horas) e também em quatro sessões – oito parciais na primeira, nove na segunda, oito ‘frames’ na terceira e até possíveis mais dez na quarta -, à melhor de 35 parciais: é campeão o primeiro a chegar a 18 (de 18-0 a possíveis 18-17)

Meias-finais do Mundial:

Luca Brecel (Bel) - Si Jiahui (Chn), 10-14

(conclusão sábado, 14.30 h)

Mark Allen, IrN - Mark Selby, Ing, 6-7

(3.ª sessão sábado, 10 horas; conclusão 19 horas)

Final do Mundial (domingo e 2.ª feira, 13 e 19 h):

Luca Brecel (Bel) / Si Jiahui (Chn) – Mark Allen (IrN) / Mark Selby (Ing)