Snooker «Governo disse-nos que podíamos continuar com os Europeus», defende-se presidente da EBSA
Umas «condições únicas» e «os jogadores estão seguros», além de consonância com instruções do Governo português e acordo com o mesmo e a Federação Portuguesa de Bilhar (FPB) para continuar com a prova, são os argumentos que o presidente European Billiards and Snooker Association, Maxime Cassis (EBSA), destacou para, em entrevista exclusiva a A BOLA, defender a continuidade dos ESC Online Campeonatos Europeus de Snooker, cuja prova principal, após os sub-18, sub-21 e ‘6 Vermelhas’, se inicia esta terça-feira nos Salgados, com 59 jogadores, mesmo com a pandemia do Covid-19.
O francês, responsável pelo snooker na Europa há um quarto de século, é sensível a todos os argumentos e rebate as críticas, mas percebe que, com a ameaça à saúde global, sejam muitas as vozes a clamar para suspender e/ou cancelar pura e simplesmente o evento… como sucede com tudo o resto o que é acontecimento desportivo na Europa.
O fato de o evento público, com jogadores de 20 países, não comportar, nunca, mais de 100 pessoas – 32 jogadores mais 16 árbitros nas 16 mesas, 48 profissionais, com a lotação de público limitada a 40 espectadores na Sala Loulé do Salgados Palace Hotel – está em consonância com as diretrizes do Governo. E Maxime Cassis lembra que também há que respeitar os que vieram «de 20 países» mesmo com uma pandemia para competir em Portugal.
Eis, na íntegra, a entrevista exclusiva do ‘chairman’ da EBSA, que, em consonância com a FPB e obedecendo estritamente às instruções do Governo, decidiu ir avante com a prova, embora encurtando-a em três dias: tudo irá terminar na quinta-feira, dia 19 do corrente mês, e não apenas no domingo, 22, como inicialmente previsto… para os 148 então inscritos, com 59 não é preciso tanto.
- Não há um único evento desportivo do calibre deste na Europa: tudo foi suspenso, adiado ou cancelado… menos estes Europeus. Disse-me ter sido pressionado e recebido centenas de mensagens a chamar-lhe irresponsável, inconsciente, louco até. Porque foi avante com o evento mesmo com a pandemia do Covid-19?
- Não é uma decisão contra os países. Estamos aqui para apoiar todas as federações nossa filiadas mas antes de tudo temos de respeitar a decisão da federação anfitriã [Federação Portuguesa de Bilhar] e o secretário de Estado do Desporto [João Paulo Rebelo]. Deram-nos o seu consentimento para continuar com a competição. A FPB está satisfeita por a competição continuar. Temos 20 países a enviar jogadores para estes Europeus, que chegaram sábado, domingo e hoje [ontem] e há todas as condições para seguir com o evento. Temos de ser justos para com todos e é absolutamente injusto cancelarmos porque alguns têm de voltar para os seus países. Encurtámos a prova, vai ser em 3 dias e não em 7, todos terão chance de jogar. Foi uma decisão tomada por toda a direção da EBSA juntamente com a federação portuguesa.
- O senso comum mandaria cancelar os Europeus. Sente o peso da responsabilidade da decisão tomada nos seus ombros? Está consciente do perigo que todos corremos e ao qual todos estamos expostos?
- Sim, e estou bastante preocupado com os jogadores. A minha primeira preocupação é que todos possam jogar seguros. Não quero que alguém seja afetado pelo Covid-19. Estamos afastados da cidade, num hotel fantástico, as condições são únicas, não nos misturamos com ninguém vindo de fora. De certa forma, estamos numa espécie de quarentena. Diria que estamos mais a salvo aqui do que a viajar e andar em aeroportos e comboios, metidos em comboios e aviões, ou a ir para grandes cidades trabalhar.
- Multiplicam-se as vozes que clamam ser uma inconsciência ou irresponsabilidade continuar com os Europeus. Tem plena consciência do que esta decisão acarreta, dos riscos?
- Se o secretário de Estado do Desporto do vosso País me tivesse dito ‘têm de parar’, teríamos suspenso a prova… imediatamente! Tal como se a FPB me tivesse comunicado ser esse o seu desejo. Disseram-nos para continuar, o hotel está satisfeito por a prova continuar, as condições são seguras, não temos um caso na região. Para ser honesto, temos boas condições para continuar. Lamento pelos que tiveram de voltar para casa porque os seus governos ou federações, respeito. Mas também tenho de respeitar os que cá estão e dar a chance a todos de jogar.
- De 148 inscritos há 15 dias, há agora 59 para prova principal, os Europeus Absolutos, esta terça-feira. Acha que o vencedor terá a legitimidade e mérito de um campeão europeu ou sairá sempre diminuído?
- Sem dúvida! Uma coisa é segura: ando nisto há 25 anos e estas são as melhores condições que já tivemos para uns Campeonatos europeus, lamento pela federação portuguesa e pelos jogadores que tiveram de voltar para casa, mas estas condições são únicas: o salão com as mesas é fantástico, o hotel é soberbo, o tempo está ótimo e a FPB fez o seu melhor em hospitalidade e quero agradecer-lhes por isso mesmo.