França a sonhar com o regresso a 1984, o ano de ouro
Os gauleses foram os únicos na história do futebol a sagrarem-se campeões da Europa e Olímpicos no mesmo ano. Espanha pode agora repetir o feito. Thierry Henry destaca importância do fator casa
Já só restam quatro seleções com o sonho do ouro olímpico e França parte com a grande vantagem de jogar em casa, o que foi decisivo frente à Argentina, que partia com a ambição de juntar o título olímpico ao de campeã do mundo. O França-Egito e o Espanha-Marrocos são já esta segunda-feira.
França terá de ultrapassar o Egito, que procura tornar-se na terceira seleção africana a ganhar o ouro, depois da Nigéria (1996, Atalanta) e os Camarões (2000, Sidney). Com o mítico Thierry Henry como treinador, os Blues lutam por voltar a 1984.
O porquê do regresso a 1984? Nesse ano foi a primeira e única vez que a mesma seleção conquistou o Campeonato da Europa e os Jogos Olímpicos, ficando na memória dos portugueses aquela meia-final em Marselha em que Chalana fez magia e Rui Jordão marcou dois golos que colocaram a equipa das quinas a vencer no prolongamento, até Domergue chegar ao empate e o genial Platini a levar os gauleses à final. E foi também o único ouro da história do futebol masculino francês.
Depois disso, apenas duas seleções europeias se sagraram campeãs olímpicas, a União Soviética (1988, Seul) e Espanha (1992, Barcelona), o que faz da formação espanhola a única capaz que alcançar o feito que os Bleus conseguiram nesse ano de 1984.
E se Espanha ganhou em Barcelona na única vez que subiu ao lugar mais alto do pódio, França quer ser de ouro em Paris e Thierry Henry assume sem rodeios que o fator casa pode ser determinante.
« Agradeço aos nossos adeptos porque a reta final do jogo com a Argentina foi muito dura e o apoio deles permitiu que aguentássemos toda aquela pressão e continuarmos na luta pela medalha de ouro. Pedi aos jogadores para ficarem ligados aos nossos apoiantes e devo dizer que foi realmente extraordinário. De verdade. No hotel, no caminho, o espírito olímpico, o povo... é tudo lindo. As Olimpíadas são diferentes, nós conseguimos sentir o fervor de verdade», começou por dizer o antigo jogador, que foi campeão do mundo em 1998 e em 2003 ganhou a Taça das Confederações.
O o capitão Alexandre Lacazette destacou também op papel do 12.º jogador.
«Queremos ganhar uma medalha para nós e para França. Jogar em casa dá-nos ainda mais motivação, ter o público a apoiar-nos e saber que os nossos familiares e amigos também estarão presentes é sempre melhor», afirmou.
Já Jean-Philippe Mateta, avançado francês que marcou o golo que colocou França nas meias-finais no escaldante jogo com a Argentina, logo aos cinco minutos, avisa os companheiros que é fundamental esquecer esse encontro e estar ficado apenas no duelo com o Egito.
«Nós precisamos de nos mentalizar que o jogo dos quartos de final já acabou. Agora, temos outro tão importante como o anterior. Precisamos de estar felizes e concentrados ao mesmo tempo. Não é fácil, mas acreditamos que podemos conquistar o ouro.
«É DIFÍCIL TREINAR PENÁLTIS», SANTI DENIA
Como já dissemos, Espanha quer voltar a entrar na história e juntar-se a França como as seleções que no mesmo ano foram ouro nos Jogos Olímpicos e ganharam um Campeonato da Europa masculino.
O selecionador de Espanha, Santi Denia, não fala ainda do que seria mais um feito incrível para o futebol espanhol. Antes, faz elogios à seleção de Marrocos e quando lhe perguntaram se já treinou os penáltis num possível desempate por +pontapés da marca dos 11 metros, garante que não.
«Eu sei que isso é um debate, mas acho que treinar penáltis é muito difícil, a menos que você faça 15 ou 20 remates seguidos com uma determinada técnica. É muito complicado dizer a um jogador como bater um penálti numa meia-final de uma grande competição. É preciso estar preparado, sem dúvida, mas é mais uma questão psicológica do que física», afirmou Santi Denia.
Seguiu-se a demonstração de grande respeito por Marrocos: «Estão nas meias-finais porque estão a fazer as coisas muito bem. Fizeram uma ótima fase de grupos e nos quartos venceram por 4 a 0 [aos EUA]. Têm jogadores muito bons e tenho de dar os parabéns ao treinador Tarik Sektioui porque está a fazer um trabalho extraordinário. Penso que a chave pode ser gerir os tempos, tentar praticar um bom futebol e proteger a nossa baliza.»
O nome do treinador de Marrocos diz muito ao futebol português, já que Tarik Sektioui chegou ao FC Porto em 2006 e só em 2009 deixou os dragões, tendo ganho três campeonatos, uma Taça de Portugal e uma Supertaça.
Na oitava vez que está no torneio de futebol olímpico, Marrocos chega pela primeira vez às meias-finais e a grande figura da equipa tem sido Soufiane Rahimi, que marcou em todas as partidas neste Paris 2024 e é o melhor marcador com cinco tentos. Pode tornar-se no único africano a marcar em cinco jogos consecutivos nesta competição e garante que os marroquinos se têm sentido como se jogassem em casa.
«Esperamos avançar e para isso temos o apoio dos adeptos, o que vai continuar até o fim do torneio. A minha prioridade é ajudar a equipa, mas espero marcar na meia-final e assim ajudar Marrocos a estar na final.»