Filipa Martins arriscou e fez «algo inimaginável na ginástica portuguesa»
Filipa Martins, em competição nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 (José Sena Goulão/Lusa)

Filipa Martins arriscou e fez «algo inimaginável na ginástica portuguesa»

JOGOS OLÍMPICOS28.07.202419:16

Ginasta portuguesa está à porta da final da prova de all-around

PARIS - O sorriso não engana ninguém. Filipa Martins chega à zona mista com o orgulho estampado no rosto.

Antes de começar a falar aos jornalistas sobre a exibição histórica que acabara de fazer, pede só uns instantes para ouvir uma mensagem áudio da mãe. E é histeria pura que recebe para lhe rasgar ainda mais o sorriso.

«Ainda estou um bocadinho emocionada. Acho que fizemos aqui algo inimaginável na ginástica portuguesa. Acho que nos superámos a todos os níveis e estou super-orgulhosa do nosso trabalho, o meu, da Joana [Carvalho] e do [José] Ferreirinha, além de todas as pessoas que treinam connosco diariamente e que nos ajudam a chegar aqui», começou por dizer.

Filipa Martins com o treinador José Ferreirinha nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 (José Sena Goulão/Lusa)

Aquele «aqui» é o quase certo apuramento para a final all-around de uns Jogos Olímpicos. Algo nunca antes conseguido por ginastas portugueses. Nem tão pouco sonhado, admitia Filipa.

«Estava quase a chorar ali no final da prova, tentei conter-me porque estava difícil até de respirar. Estou estou muito orgulhosa daquilo que fizemos, acho que podemos sonhar com a final, apesar de termos de esperar até o final do dia», acrescentou.

«Histórico foi fazer aquele salto!»

A final ainda não estava garantida, mas para Filipa Martins a conquista de Paris estava feita. Porque tivera a coragem de arriscar e deu-se bem com o risco.
«O histórico foi fazer aquela dupla [pirueta] nos saltos. Para mim, como atleta, e acho que para Portugal também. Porque vai ajudar outros atletas e mais treinadores a abrirem horizontes e a não fazer só aquilo a que estamos habituados», realçou.
«Para o fazer é preciso treinar muito mais, são precisos muito mais apoios, e nós não temos. Por isso são processos que demoram. Mas aos pouquinhos, Portugal está a crescer muito na nossa modalidade. E continua a não haver muitos apoios. Ou seja, é histórico não só pelo que fizemos, mas porque o conseguimos fazer sem apoio», reforçou a atleta.
Mas afinal, que salto foi aquele?
«O nome técnico é Yurchenko com dupla pirueta. É uma rondada, quase um flic por cima da mesa, e um mortal com duas piruetas. Não vão perceber nada, mas é isso», terminou numa gargalhada.
Obrigada, parabéns por estarem aqui também.

Filipa Martins estava particularmente satisfeita com o risco que tinha corrido no salto, logo o primeiro aparelho em que atuou, o qual, revelou, estava há muito tempo a ser preparado e que, na terceira participação olímpica da ginasta do Acro, após cinco operações aos tornozelos, saiu perfeita.

Filipa Martins, em competição nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 (José Sena Goulão/Lusa)

«Estou a treinar aquele salto, talvez desde 2014 ou 2015. Só que é um salto tão arriscado que temos sempre medo de o meter em competição. Mas aos meus 28 anos, apresentei-o aqui. Não tenho palavras! Eu e o meu treinador estávamos um bocadinho com medo, porque é um salto bastante difícil. Por isso, termos conseguido superar esse primeiro aparelho e esse passo tão difícil foi muito positivo e acho que nos permitiu abordar com mais força o resto da competição», sublinhou.

Houve também um empurrão a vir das bancadas. Numa Arena de Bercy com os 20.300 lugares praticamente lotados, quase sempre que a portuguesa ia iniciar um exercício ouviu-se alguém a gritar por ela.

«Bora, Filipa!». «Força, Filipa!»

«A quantidade de portugueses que eu vi na bancada, parecia que estava em casa! Foi muito, muito, muito bom», descreveu, ela que revelou que ia ficar na Arena a assistir ao que restava das provas, para saber se via confirmado o apuramento para a final. E com a melhor companhia que podia desejar.

«Tenho cá a minha família e agora vou aproveitar para estar com eles e desfrutar. Aquilo que vier vai ser ótimo, porque estou super-satisfeita com a prova», terminou, antes de partilhar com os jornalistas a ‘vitória’ alcançada.

«Obrigada, e parabéns também por estarem aqui. É muito importante para nós», finalizou.

Filipa Martins, em competição nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 (José Sena Goulão/Lusa)