«António Morgado é tão forte como Van der Poel»
Elogio do diretor desportivo da UAE Emirates ao jovem português. Mas Fabio Baldato também é assertivo a apontar o maior defeito do 5.º classificado na Volta a Flandres...
Quinto classificado na Volta à Flandres aos 20 anos e 63 dias de idade, António Morgado não poderia ter sonhado com melhor estreia numa clássica monumento e em particular na mítica Ronde. O jovem corredor português da equipa UAE Emirates foi de menos a mais, bastante forte na parte final da duríssima competição de 270 quilómetros com os seus 17 temíveis bergs, íngremes subidas em piso empedrado.
O natural de Salir do Porto, nascido em 2004, confirmou o talento que se lhe reconhece desde as categorias mais jovens – vice-campeão mundial de juniores e de sub-23 em anos consecutivos (2022 e 23) Flandres – e que já exibira no arranque da temporada, a primeira numa WorldTeam e em provas do WorldTour, com resultados e desempenhos relevantes.
E se poderia estranhar-se a maldade dos responsáveis da UAE Emirates ao atirá-lo às feras da Flandres em tão tenra idade e experiência ao mais alto nível, a verdade é que havia motivo e sensatez na decisão. Morgado respondeu a preceito e o brilharete na Volta a Flandres, um dos cinco monumentos, uma das mais prestigiadas, competitivas e exigentes corridas do calendário do ciclismo de estrada, não surpreendeu os dirigentes da formação árabe.
«Ele [António Morgado] foi feito para esta corrida, nasceu para esta corrida!», afirmou Fabio Baldato, diretor desportivo da UAE Emirates, no último domingo, em Oudenaarde, cidade belga onde, por tradição, termina a Volta a Flandres.
Mas o elogio do italiano, antigo corredor profissional, vem acompanhado de uma crítica crucial: ao posicionamento de Morgado nos momentos determinantes das corridas, e uma pecha impeditiva numa clássica como a Flandres. «É uma guerra quando se aproximam os setores de empedrado, é cotovelo com cotovelo, a travagem no último instante… O que vi do António… Que tem receio de lutar, ombro a ombro, pelo posicionamento, com os adversários. Por isso, está sempre atrás», explicou Baldato.
Na primeira passagem pelo Kwaremont, ele era o último; na primeira pelo Paterberg, era o último… Cada vez que se iniciavam as subidas, os muros, ele era sempre o último», reforça o responsável, que, todavia, reconhece o talento. «Mas, depois, ele sobe! Se se posicionasse bem, poderia acompanhar Van der Poel. Digo-lhe, António é forte como Mathieu [van der Poel]. Mas ainda é jovem…», declara.
Enquanto se augura vê-lo ascender ao galarim do ciclismo nos próximos anos – quiçá ainda esta temporada… -, Morgado já ocupa o seu lugar na história da modalidade, após ter-se tornado o corredor mais jovem no top-5 da classificação de um monumento nos últimos 80 anos, desde 1944. Precisamente, na edição da Volta a Flandres ganha pelo belga Rik Van Steenbergen, então ainda com 19 anos de idade, demonstrando o talento precoce que o fez tricampeão mundial, duas vezes vencedor da Ronde e da Paris-Roubaix, uma vez ganhador da Milão-Sanremo e de 15 etapas da Volta a Itália, entre muitas outras conquistas importantes.