Com a conferência de imprensa de Carlos Queiroz marcada para as 13.30 horas de Teerão para anúncio da lista final do Irão para o Campeonato do Mundo, os minutos foram passando e nem sinal do treinador português. Mais de 30 minutos após a hora marcada, o porta-voz da federação comunicou às dezenas de jornalistas presentes que «um problema técnico» obrigava a adiar a conferência para hoje. Mas não demorou muito a que a imprensa local ligasse a ausência de Queiroz a alegada tentativa de interferência sobre a lista - da própria federação ou do governo, dependendo das fontes. Em causa estará a presença do avançado Sardar Azmoun na lista.
O jogador do Leverkusen (lesionado, não joga desde o final de setembro, mas esteve a fazer um trabalho de recuperação no Catar com um fisioterapeuta da seleção e espera-se que possa estar disponível) furou as ordens federativas para que os jogadores não se pronunciassem sobre o assassinato de Mahsa Amini, mulher de 22 anos que em setembro foi detida pela polícia de costumes por usar de forma errada o hijab, lenço que cobre cabelos e pescoço, e morreu sob custódia das autoridades, depois de ser violentamente agredida.
Azmoun contrariou então as instruções de silêncio com uma mensagem cáustica no Instagram. «O maior [castigo] é ser expulso da seleção, o que seria um pequeno preço a pagar por sequer um cabelo de uma mulher iraniana. Vergonha por matarem tão facilmente. Vivam as mulheres do Irão», escreveu - e depois apagou. Outros jogadores, como o portista Taremi, associaram-se com imagens mas sem palavras tão duras aos protestos que encheram as ruas do Irão.
Mais tarde, outros órgãos de informação iranianos avançaram que Carlos Queiroz se recusou a falar na conferência se não fosse ele a divulgar os nomes dos convocados, com receio de que a lista que a federação libertasse fosse diferente do combinado. A verdade é que, de forma surpreendente, pelas 23 horas locais a federação iraniana libertou mesmo a lista de jogadores escolhidos para o Catar.
Com apenas 25 nomes, entre eles o de Azmoun, e sem surpresas: em relação aos atletas do campeonato local que estavam em estágio, saíram Noorafkan, Sarlak, Akhbari e Fallah, que já não tinham estado no último treino, e o médio Ebrahimi, que se lesionou no particular de quinta-feira frente à Nicarágua; entre os estrangeiros estão todos os nomes esperados, com Azmoun e o portista Taremi como principais figuras. Mais uma vez de acordo com jornalistas locais, Queiroz ganhou o braço de ferro. Falta saber se falará mesmo hoje aos jornalistas, depois da agitação de ontem.