Varandas: do «rebentar com eles» às ameaças e à missão no Sporting
Frederico Varandas e Daniel Oliveira no programa Alta Definição (X/SIC)

Varandas: do «rebentar com eles» às ameaças e à missão no Sporting

NACIONAL08.06.202414:39

Presidente leonino em entrevista intimista na SIC, no programa 'Alta Definição'

Frederico Varandas, presidente do Sporting, deu a conhecer o lado mais íntimo da sua vida numa entrevista a Daniel Oliveira, no programa da SIC, Alta Definição, gravado na Biblioteca da Academia Militar, em Lisboa.

Após revelar que é sócio do clube desde que nasceu, inscrito pelo avô paterno, foi questionado porque é que é do Sporting, ao que respondeu assim: «Foi através do meu avô, pai do meu pai, verdadeiro leão e sócio desde sempre. Depois entrei na ginástica, mas o que gostava era mesmo o futebol. Ainda levei com a natação, mas esse foi o lado emotivo. Aprendi a ir ao futebol, íamos três horas antes aos jogos dos juniores, depois víamos a equipa a entrar. Era um ritual. Depois ia para o antigo campo do Sporting, via a equipa principal a treinar, miúdos da ginástica a ver os treinos. Eram outros tempos. Isso criou sempre uma paixão pelo futebol, pelo Sporting. Costumo dizer, por brincadeira, que quem não é do Sporting é porque quem os educou não ligava a futebol. [Risos] Aconteceu com os meus amigos. Se a pessoa que nos educa liga ao futebol, é do Sporting

A frase «vamos rebentar com eles», que proferiu num jantar de celebração do título, foi assunto abordado.
«Houve um caso bem recente onde saiu cá para fora uma comunicação minha, onde usei o termo vamos 'rebentar com eles. Esse é o Frederico Varandas presidente dentro do Sporting, não o que está na tribuna. Houve muita gente ofendida. Pessoas que não percebem. O que ninguém viu ou vai ver sou eu a criticar um jogador publicamente. Mas ao longo do ano falo com vários jogadores a pedir para não terem certo comportamento. E isso também faço para motivar internamente os meus soldados.»

Quanto ao que representa ser presidente do Sporting, Varandas foi claro: «Sinto responsabilidade de cumprir a missão, achei que tenho condições para ser presidente com dois objetivos: devolver a dignidade do clube e fazer com que a nova geração não passasse o que eu passei.»

No Afeganistão aprendi que coragem não é não ter medo, é não ceder ao medo

Questionado sobre o motivo que o levou ao cemitério do Alto de S. João, em Lisboa, no dia em que foi eleito para a direção dos leões pela primeira vez, em 2018, Frederico Varandas emocionou-se na resposta: «Fui de manhã, antes do resultado sair, dizer ao meu avô que ia ser presidente do Sporting. Quando ele morreu, eu era médico... ele nunca sonhou que um neto dele fosse presidente do Sporting. Disse-lhe só que ia tomar conta do clube.»

Que ameaças já recebeu enquanto presidente do Sporting?
«[Risos] Tenho para troca. Já tive de tudo. O Afeganistão deu-me uma lição, aprender a viver com o medo. Quando cheguei lá, fomos ativados porque havia ameaça de um veículo que estava, possivelmente, armadilhado para um ataque. Nos primeiros dez segundos, vi quarenta carros brancos daquela descrição. Andámos horas numa patrulha. Quando cheguei, o batimento cardíaco. E eu 'correu bem'. Depois fiz uma conta de cabeça e pensei que ia fazer aquilo seis meses. Pela primeira vez na vida coloquei na minha cabeça que não ia aguentar. Um dia fomos fazer outra patrulha, numa zona completamente controlada pelos talibãs. Começo a preparar-me e entra um oficial como eu. Ele fecha a porta, entrega-me uma carta, e diz-me que era para a namorada dele, caso algo corra mal. E eu digo-lhe que também ia com ele. Ele encosta-se à parede e vomita de ansiedade. Ele olha para baixo, limpa-se. Chega cá fora, está o pelotão dele à espera. E eu a pensar 'este estava com medo, a achar que ia acontecer alguma coisa, mas chega lá fora e está de cabeça levantada para os seus homens'. Eu aprendi que era normal ter medo. Aprendi que coragem não é não ter medo, é não ceder ao medo.»

Varandas diz que a sua casa é o porto seguro, elogia mulher, Katarina Larsson, que fez publicação após a conquista do título nacional a mostrar todo o orgulho no marido.

«Não deve ter ficado tão orgulhosa da maneira como cheguei a casa [risos]... Sinto que a minha mulher admira aquilo que a minha equipa alcançou, que tem orgulho em mim, em nós. Nunca se meteu na parte do futebol, não gosta, mas na pré-época ouvia muitos telefonemas e o Viana dizia 'não vamos conseguir esse gajo'. E ela, sueca, disse: 'Vais contratar um sueco? Agora é que vamos ganhar.'

Ainda sobre o que faz com que se identifique com o clube, o presidente leonino não se fez rogado: «Sou do Sporting porque me identifico com os valores do Sporting. O que fiz foi reorientar o Sporting para esses valores. Enquanto for presidente, o Sporting vai ter o mesmo caminho. Mesmo perdendo amanhã. A nossa postura, dignidade e integridade tem de ser inabalável. Um dos fenómenos do Sporting é que vencer ajuda, mas com os nossos valores. É uma coisa fortíssima. Não há nada mais inspirador do que vencer pelo mérito, sem nunca ligar ao presidente do Conselho de Arbitragem a perguntar por que vai ser certo árbitro. Muitas vezes chego ao jogo e nem sei quem é o árbitro. Temos de nos controlar nas variáveis que controlamos.

É tutor de Paulinho

Paulinho, o roupeiro, é figura carismática do clube, por quem Frederico Varandas nutre sentimento especial: «É uma grande figura do Sporting, um ser humano espetacular. Uma pessoa super intuitiva, sensível, muito, muito esperto, mais esperto que a maioria das pessoas julga. O exemplo de uma pessoa feliz. O meu papel? Eu sou o doutor Varandas para ele. Como ele diz, 'Varanas'. Tenho um carinho especial por ele. Apesar de ele ser completamente independente, tomo conta dele, sou um tutor. Ele sempre teve o senhor Mário Lino. Há uns anos, fomos almoçar os três e o Mário disse que já tinha uma certa idade. Eu disse ao Paulinho que estava na altura de alguém tomar conta dele caso acontecesse alguma coisa. O Paulinho disse 'eu quero o senhor Varandas'. Até tenho um quarto dele em minha casa. De vez em quando vai lá jantar, costuma comer um frango inteiro, literalmente [risos]. Pago-lhe o IRS. Mas ele sabe tomar conta dele melhor do que ninguém.»

Ainda sobre a festa no Marquês, após a consagração de campeões nacionais, Frederico Varandas emociona-se na resposta: «Jamais vou esquecer o que vivi no Marquês. Há coisas que não me lembro tão bem, tive de ir ver à televisão [risos]. Ver um mar de gente a cantar. Aquele dia é para os jogadores, para os artistas. É viver o dia. E ser feliz é onde eu vivo. Viver não é um mar de rosas, há dias que são duros, que são maus, dias em que chego a casa e não me apetece falar. Mas o outro dia vai correr melhor, é estar vivo. Todos os dias acontecem centenas de coisas que podem mudar a nossa vida.»

A finalizar a entrevista, Daniel Oliveira perguntou: «O que dizem os seus olhos?»
«Que esta é a minha essência. Lutei para entrar na Academia Militar, lutei no exército, no covid, no Sporting e vou continuar a lutar.»

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