Vizela reverente e um FC Porto competente e sério; Conceição muito bem a improvisar novas alas; tudo ficou decidido até ao intervalo
Dizem que as camisolas não ganham jogos, mas a verdade é que ajudam muito. Sobretudo em Portugal, onde há uma tradição de reverência às equipas grandes, num conservadorismo muito assente numa realidade de grande desigualdade de meios. Mesmo assim, é também necessário que a equipa grande faça por merecer esse respeito e tem sido, desde há muitos anos, um dos segredos do FC Porto.
O jogo de ontem, em Vizela, foi um exemplo disso mesmo. Num campo infelizmente despido de gente (pouco mais de quatro mil espectadores para ver um candidato ao título), o FC Porto começou por beneficiar de um adversário tímido, assustado, olhando o desafio como um tormento. Perante um cenário favorável, a equipa de Sérgio Conceição, mesmo remendada e em ressaca europeia, foi, em toda a primeira parte, igual a si mesma. Responsável, competente e competitivamente honesta. E foi quanto lhe bastou para exercer autoridade no jogo e garantir até ao intervalo que ficaria dispensada de sofrimentos para o ganhar e cumprir a sua obrigação de candidato ao título.
A invenção das alas
Preocupado com um número algo inusitado de lesões, Sérgio Conceição teve de se confrontar com um problema principal na formação do onze. Sendo o FC Porto uma equipa muito dependente de organização, solidariedade e rotinas, surgia a questão de improvisar toda a ala esquerda. Sérgio optou por um decisão inteligente, embora imprevista. Preferiu manter a relação de paridade e dinâmica entre João Mário e Pepê, mas colocou ambos no corredor lateral esquerdo e, na direita, reiventou uma solução, com a novidade da estreia de Jorge Sanchez na equipa inicial, ligando com Francisco Conceição nessa ala.
Quanto ao resto, o expectável. Alan Varela e Eustáquio pendulares num equilíbrio compensado por dois jogadores com evidentes qualidades defensivas, mas capazes de entenderem a extensão do jogo atacante, e dois homens na frente, Taremi e Evanilson.
Belo golo do médio portista deu a segurança que o FC Porto procurava, mas Taremi foi o primeiro a desequilibrar; Pepê de um lado e Francisco Conceição do outro deram asas à equipa
Perante um Vizela num 4X1X4X1 sem dinâmica ofensiva e sem capacidade de risco, o FC_Porto dominou toda a primeira parte e chegou ao intervalo com dois golos de vantagem e com a vitória metida no bolso.
Uma dieta de suores
Na segunda parte, o FC_Porto não precisou mais do que ser uma equipa em dieta de suores. Sereno, realista, escusando-se a ir além do esforço necessário para manter o controlo do jogo.
Extremo representou o verdadeiro perigo dos vizelenses, Buntic travou o que foi possível travar.
É verdade que o Vizela foi procurando alguma ousadia, inclusivamente, com mudança de jogadores e de sistema. No entanto, a diferença de qualidade individual continuou a ser tão evidente que tornou as ambições do Vizela meramente platónicas. Até porque o FC Porto, mesmo quando não tem a habitual intensidade que coloca no jogo, mantém uma organização que apenas se pode desmoronar por um qualquer erro individual, como o que aconteceu com David Carmo, aos 63 minutos, e que poderia ter estado na origem do golo do Vizela que, a acontecer, poderia ter obrigado a equipa portista a inesperadas horas extraordinárias de esforço e de desgaste. Mas Sabu não acertou na baliza e o FC Porto não precisou de acelerar, deixando que o jogo escorregasse pelo tempo sem grande contemplação pela ideia de fazer espetáculo, mas com o pragmatismo de ganhar o jogo pelo melhor preço de hora e meia de trabalho.
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Foi, de facto, uma segunda parte que se sentiu a mais numa véspera de dia de trabalho e num jogo decidido em quarenta e cinco minutos. Mesmo assim, um momento que vale a pena assinalar, quando Sérgio Conceição não deixou de dar um sinal de que em qualquer circunstância, mesmo quando o jogo está controlado e o resultado favorável, não deixa de exigir o máximo de profissionalismo. Quando viu David Carmo a pisar o risco de uma hipótese disparatada de segundo amarelo e respetiva expulsão, castigou-o trocando-o por Fábio Cardoso.