RB Leipzig-Sporting, 2-1 Um leão disfarçado na bancada e no relvado (crónica)

NACIONAL22.01.202521:13

Sporting ficou-se pelas boas intenções e raramente teve critério para ferir um adversário que estava ao alcance. Adeptos bem tentaram não dar nas vistas pelo castigo da UEFA mas a equipa também acabou por não se mostrar na sua melhor versão e foi punida com uma derrota que acabou por se justificar

LEIPZIG - Poucas manchas verdes no Red Bull Arena. Os adeptos leoninos, punidos pela UEFA, procuraram entrar disfarçados em Leipzig. Poucos queriam dar nas vistas. Com roupa quente, térmicas e gorros e botas para o frio. Mas preparados para festejar um golo, camuflados pelas camisolas verde e brancas debaixo do corpo, cachecóis, mas aqui e ali a aquecerem a voz, ansiosos para retirarem o disfarce de um simples apaixonado de futebol, sem cores clubísticas. O ambiente nas bancadas, à exceção do minuto 55’ em que alguns procuraram dar nas vistas rebentando petardos e foguetes com mensagens injuriosas para a UEFA - numa área onde supostamente não deveriam estar… - passava muito por isto. Largas centenas de leões espalhados pelo recinto, ansiosos para poder gritar golo.

As mensagens injuriosas dos leões para a UEFA bem visíveis (IMAGO)

No relvado gelado de Leipzig a história seria outra. Um leão devidamente equipado, sem restrições. Mas também sem amarras e com a ambição de fechar um dos objetivos da época, o playoff dos oitavos da Champions. De rugir mais alto do que um adversário que, tendo qualidade, era uma das desilusões da prova. Zero pontos. Pior era impossível. Mas, balanço final, contas feitas, também no relvado houve uma equipa disfarçada. De que poderia ser ameaçadora (mas que na realidade poucas vezes o foi), de segura (mas que raramente conseguiu ser como prova sobretudo um segundo golo cheio de equívocos), inspirada (Trincão, Quenda, Diomande, entre outros provaram estar em dia não…) e organizada (mas que em boa verdade se perdeu no campo em vários períodos). Um disfarce que o leão só conseguiu retirar (durante poucos minutos…) por aquele homem, um sueco que nunca retira a máscara de guerreiro, que deu uma ténue esperança com um golo para outro desfecho. Mas já lá vamos.

Ponto um: o Leipzig foi justo vencedor. Mesmo perante uma entrada hesitante, na qual o leão, sobretudo pelo arrojado Harder (uma das surpresas no onze, assim como Debast que manteve o lugar no meio-campo), que foi tentando disparar de tudo quanto era lado. Muita vontade, pouca assertividade. O Leipzig, que utilizava muito a ideia do leão, com uma linha de quatro mas a construir muitas vezes a três, uma linha de meio campo onde Xavi Simons fazia muito aquilo que Quenda procurava fazer, jogando numa ala mas com liberdade para atacar espaços interiores, com Openda no apoio a Sesko, como Trincão (tentou) fazer com Harder. Nestes jogos de duelos foi a equipa germânica que levou a melhor. Sobretudo pela eficácia e fragilidade do leão em alguns setores. Como no corredor direito onde nasceu o primeiro golo do Leipzig. Fresneda e Geny Catamo não se entenderam na marcação a Raum que surgiu sem oposição para cruzar de forma perfeita para Sesko abrir o marcador. O Sporting sentiu o golpe, perdeu fulgor e também St. Juste que saiu por lesão muito cedo.

Gyokeres voltou a sair do banco e marcou mas desta vez não foi suficiente (IMAGO)

E quando o leão tentou reagir… quase caiu novamente. Com um golo de Raum que haveria de ser anulado pelo VAR por fora de jogo de Openda. Muitos avisos para um leão que quase foi ao tapete apesar de um controlo sem efeitos práticos. Só os instantes finais do primeiro tempo se viu muito daquele Sporting que, por exemplo, venceu o Rio Ave. Mais consistente e inteligente. Harder, Fresneda em dose dupla e Debast, nos últimos sete minutos do descanso, poderiam ter ferido um adversário que provou estar ao alcance do leão.

Na etapa final, a história ameaçava repetir-se e Rui Borges não perdeu tempo em mexer. Lançou Gyokeres (trocando Harder), mas também Bragança (para jogar no corredor esquerdo e ter maior presença do que Geny no jogo interior) e Morita para o lugar de Debast de forma a haver maior critério e dinâmica no miolo. O Sporting cresceu e lá apareceu o golo de Gyokeres (quem mais…) em mais um lance que irá arregalar os olhos dos muitos scouts que ontem marcaram presença em Leipzig, a ganhar na explosão sobre Orban e a disparar uma bomba de pé esquerdo.

Uma ténue esperança que durou escassos segundos. Com um erro gigante de marcação a Poulsen que, com alguma sorte à mistura é certo, surgiu na área ganhando um ressalto a Franco Israel e um duelo com o recém-entrado Esgaio para fazer o segundo. Uma pena pesada para um leão que procurava ressurgir mas que se ficou sempre pelas intenções. Com insegurança, erros individuais e uma falta de maturidade que neste tipo de competição se paga muito caro…