«Um leão a passear com relógio suíço», a crónica da vitória em Berna

Young Boys-Sporting, 1-3 «Um leão a passear com relógio suíço», a crónica da vitória em Berna

INTERNACIONAL15.02.202421:59

Na mesma exibição, o Sporting juntou classe, competência e autoridade; jogar, ganhar e ...gerir; ganhar prestígio internacional

Noutros tempos estaria o Sporting a queixar-se daquela traiçoeira relva sintética, que não deixa fluir o jogo, trava a bola, assusta os jogadores com o fantasma de lesões graves. Não neste tempo. O Sporting de Rúben Amorim ganhou uma maturidade competitiva, uma personalidade e um confiança em si próprio que lhe permite juntar, na mesma exibição, classe, competência e autoridade. Não é pouco, sobretudo quando se joga fora, e num piso adverso, como se joga em casa. As coisas não correram bem em Berna porque o Sporting teve a sorte de chegar à vantagem com um golo suíço na própria baliza. 

As coisas correram bem porque o Sporting foi, durante todo o jogo, o melhor, o mais forte, o mais eficaz. Uma exibição notável de afirmação de um estilo, de um sistema, de um objetivo. Desde o primeiro minuto, o leão soube impôr o seu poder, a sua superioridade e quando sentiu o resultado construído, passeou-se em Berna com o seu fiável relógio suíço. 

Um ataque estonteante

Logo que a equipa conseguiu ganhar algum controlo na adaptação ao piso sintético, Edwars, Gyokeres e Pedro Gonçalves puderam formar um trio de ataque estonteante, que deu cabo da organização defensiva suiça. Porque todos eles se completam na diferença e por isso se tornam imprevisíveis. Edwards, com a bola nos pés, é um desequilibrador; Pedro Gonçalves um “cirurgião” no último passe e no sentido de baliza; Gyokeres é imparável no seu poder atlético, mas também na destruição de marcações e na extraordinária capacidade de finalização. 

Um trio que, no entanto, teve mais tempo e mais espaço para afirmar a sua diferenciadora dinâmica pelo precioso apoio de Hjulmand e de Bragança, uma dupla inexcedível de suor, de intuição e de entendimento do que o jogo deles precisava. 

Deu para pensar em Portugal

Com o terceiro golo a surgir na aurora da segunda parte, o Sporting percebeu que podia começar a não correr demasiados riscos. Por isso tornou o jogo menos espontâneo e, porventura, mais controlado. Podia ter sido mais ambisioso e resolver, de vez, a eliminatória? Sim, podia, mas era, claramente, uma das opções e o Sporting escolheu a que provocava menos desgaste e menos perigo de lesões. Deu para gerir a pensar em Portugal e nas exigências de liderança do campeonato. 

Aos 60 minutos, Hjulman teve direito a descansar e dar lugar a Morita, um quarto de hora depois, foi a vez de Gyokeres e de Pedro Gonçalves sairem e de Rúben Amorim optar por uma frente de ataque experimentalista, com Edwards na direita, Trincão no meio e Geny Catamo na esquerda. E ainda deu para, dez minutos depois, estrear Rafael Melo e Koindredi. Por aqui se percebe como o Sporting sentia o jogo controlado e a vitória adquirida. Haverá sempre aquela tendência muito portuguesinha de dizer que o adversário era pobrezinho de qualidade. Não é verdade. 

O Young Boys terá uma equipa inferior à do Sporting, sim, mas é o líder, a larga distância do segundo (Servette), no campeonato suíço, joga num relvado sintético ao qual está obviamente adaptado e o futebol português está farto de sofrer desgostos com o futebol suíço. Não se deve, nem se pode desvalorizar esta vitória do Sporting, qualquer que seja o ponto de vista. Estes jogos são decisivos para se entrar numa fase das competições europeias em que os palcos são mais admirados e onde as equipas que resistem podem ganhar prestígio internacional. E esse é um objetivo essencial para o novo Sporting que não deve pensar, apenas, na pequena realidade nacional, mas na sua afirmação como equipa de qualidade europeia. O que se viu em Berna dará aos sportinguistas uma perceção otimista do futuro. Pela perspetiva que manifestamente se abre de seguir em frente na Liga Europa e pela resposta dada pela equipa, que se traduz numa expressão de confiança no título nacional.