Seis emblemas do segundo escalão inglês têm uma ligação através do dono com um outro além-fronteiras; capital norte-americano distribui-se por várias equipas
As ligações além-fronteiras não terminam na Premier League, prolongam-se pelo Championship. O italiano Gino Pozzo estudou em Harvard e, na Udinese, tem por hábito persistente despedir treinadores. Controla ainda o Watford e, ao mesmo tempo, uma empresa privada de cerca de 30 scouts em todo o mundo, que lhe permite encontrar jogadores a baixo custo, muitos provenientes da América do Sul. Ao longo dos últimos anos foram vários os negócios entre os dois clubes e ainda os espanhóis do Granada, que pertenceu à família Pozzo até junho de 2016, altura em que foi comprado pelo chinês Jiang Lizhang.
Doze clubes da Premier League dominam pelo menos um outro emblema além fronteiras; império do Manchester City é já vastíssimo; só a Red Bull tem projeção mais ou menos semelhante
No Southampton, 80% das ações são da Sport Republic, liderada pelo inglês Henrik Kraft e pelo dinamarquês Rasmus Arkensen, também presidente dos turcos do Goztepe e antigo diretor do futebol do Brentford e dos franceses do Valenciennes, e outros 20% à suíça Katharina Liebherr, filha do bilionário Markus Herr – que impediu a insolvência do clube em 2009 e a consequente descida à League One – desde 2017.
É bem conhecida ainda a liderança tailandesa do Leicester, com Aiyawatt Srivaddhanaprabha a suceder ao pai Vichai, morto num acidente de helicóptero em 2018, oito anos depois de assumir os destinos dos Foxes. Aiyawatt é igualmente CEO do OH Leuven da Bélgica e também da King Retail, grupo de viagens a retalho que também patrocina o emblema britânico e dá nome ao estádio.
Já o malaio Vincent Tan detém 51% do Cardiff através do Berjaya Group, que está ligado a uma vasta gama de atividades, desde a hotelaria ao jogo e à restauração, e que detém ainda o clube bósnio FK Sarajevo, o belga KV Kortrijk e metade do norte-americano Los Angeles FC.
Os norte-americanos Steven Kaplan e Jason Levien, respetivamente ligados à franchise da NBA Memphis Grizzlies (participação minoritária) e à equipa de soccer DC United, detêm 66% do Swansea, com 21% a pertencer a um fundo detido por adeptos.
Também norte-americano é o dono do Huddersfield, Kevin McNagle, um magnata da farmacêutica, que detém ainda a equipa de soccer Sacramento Republic FC e investe nos Sacramento Kings, da NBA.
O Ipswich viu em 2021 a chegada da Gamechanger 20, um grupo que inclui três diretores do clube de soccer Phoenix Rising, e que colocou ponto final a um ciclo de 13 anos de Marcus Evans na liderança. Na origem da empresa, está um fundo de investimento chamado ORG ligado a pensões.
Sem ligações, mas propriedade estrangeira
No West Bromwich Albion, é o investidor chinês Lai Guochan, proprietário da Yuni Guokai Sports Development Limited, quem decide.
O italiano Andrea Radrizzani, CEO e fundador da Eleven Sports, cedeu em julho passado os 56% que ainda detinha no Leeds à 49ers Enterprises, dona da equipa de futebol norte-americano San Francisco 49ers, que passou assim a possuir 100% do emblema.
O norte-americano Tom Wagner, dono de uma empresa de investimento e de crédito, comprou o Birmingham em 2023, e o consórcio indiano V H Group, que opera em atividades ligados à pecuária e aos derivados de animais, tem praticamente a totalidade das ações do histórico Blackburn Rovers.
Dois norte-americanos, James Berylson e Richard Smith, são os donos do Millwall, através da empresa de capital de risco Chestnut Hill Ventures.
O malaio Tony Fernandes (66%) e o indiano Lakshmi Mittal (33%) comandam os destinos do Queens Park Rangers e negócios ligados à aviação low cost (Air Asia), entretenimento (Tune Group) e produção de aço (ArcelorMittal).
O Thai Union Group, o maior produtor mundial de atum de conserva, de Dejphon Chansiri, controla 100% do Sheffield Wednesday desde 2015, quando contratou o português Carlos Carvalhal para pôr all the meat in the barbecue a fim de alcançar a subida de divisão prevista para dois anos depois. Ainda não a conseguiu.
Ali Acun Ilicali é, desde 2022, o presidente do Hull City. Antigo jornalista desportivo turco, mais tarde broadcaster e empresário, é dono de dois canais no seu país.
Há 18% de poder no norte-americano Mark Attanasio, dono dos Milwaukee Brewers (basebol), no Norwich, e 97% do compatriota Simon Hallet, licenciado em Harvard e hábil na gestão de investimentos, no Plymouth Argyle.
O Sunderland, famoso depois do documentário da Netflix, é desde 2022 liderado pelo jovem franco-suíço, de apenas 26 anos, Kyril Louis-Dreyfus, que possui 64% das ações. Trata-se do filho de Robert Louis-Dreyfus, antigo diretor-executivo da Adidas e acionista maioritário do Marselha nos tempos de glória do clube durante a década de 90.
No que diz respeito ao poder britânico, Steve Lansdown, que fez fortuna ao setor financeiro, controla o Bristol City, os Bristol Bears (râguebi) e Bristol Flyers (basquetebol); Doug King, que trabalhou no setor alimentar, comércio de petróleo, consultoria e capital de risco, detém desde janeiro de 2023 100% do Coventry; Steve Gibson, que fundou uma empresa de transporte global de gases, poeiras e líquidos, é, há 30 anos, presidente e dono do Middlesbrough, com cerca de 90% das ações; Craig Hemmings, filho de um magnata das corridas de cavalos, controla o Preston North End; à frente do Rotherham United está Tony Stewart, ligado à área da iluminação; e, por fim, Peter Coates, co-fundador da empresa de apostas bet365 e da rádio Signal Radio, dita as leis no Stoke City.