Mais de duas horas e um quarto para ficar decidido aquilo a que se convencionou chamar de ‘campeão de inverno’, mas que não é mais do que, apenas e só, o vencedor da Taça da Liga. Noventa minutinhos recheados de emoção e para finalizar, espécie de cerejinha em cima de apetitoso bolo, nada menos de 14 remates da marca dos 11 metros para se definir que seria o Benfica a ficar na posse do troféu. Falhou Trincão, não falhou Trubin e o troféu vai para o Museu da Luz. Muitos minutos depois de ter falhado o 14.º penálti ainda Trincão era acarinhado pelos companheiros, sobretudo por Israel. Calma, Francisco, não é o fim do Mundo. Do outro lado, junto aos adeptos do Benfica, Trubin mantinha-se calmo e sereno, mostrando personalidade quase inabalável. Menos calma, Anatoliy, não é ser campeão do Mundo, mas é um troféu, meu caro. Parece, assim, que o jogo foi entre Trubin e Trincão. Não foi. Foram os dois t’s que resolveram a final da Taça da Liga, mas o jogo teve muito mais. Teve 45 minutos iniciais verdadeiramente eletrizantes, como se todos os jogadores, sobretudo os do Benfica, tivessem entrado em campo depois de algumas horas a carregar energias como fazem os veículos híbridos durante a noite. O Benfica tinha menos 24 horas de descanso, sim, mas não se percebeu. Pelo menos até ao intervalo. Grandíssima pressão aos médios e alas do Sporting portadores da bola, com Florentino, Kokçu e Aursnes a ofuscarem um setor adversário que, sem Morita, perdia muito do seu equilíbrio. Di María teve remate dimariano da mesma zona em que, na quarta-feira, marcara ao SC Braga, mas sem foi defendido com segurança por Israel. Foi uma espécie de chapada na cara do leão. Que terá pensado que tinha de fazer mais qualquer coisa para evitar tanto sufoco. E fez. Sacudiu a pressão das costas e partiu para cima do adversário de uma forma diferente. Enquanto o Benfica atacava forte, mas de forma pensada e organizada, o Sporting fazia-o à custa de maior intensidade, coração e alma e através da lucidez de Hjulmand, do talento de Quenda e da agressividade de Maxi Araújo. Remates muito perigosos de Gyokeres, Maxi Araújo e Quenda tiveram o mesmo sucesso do de Di María e assim, num jogo quase de ténis, com ataque para cá, ataque para lá, ataque para cá, ataque para lá, as balizas continuavam imaculadas. Até que, inesperadamente, a bola chegou ao pé esquerdo de Di María. Sentiu-se que dali podia nascer perigo, como tantas vezes nasce quando o argentino pena na bola. Mas Angelito não fez o que costuma fazer. Estava no meio-campo e não fazia qualquer sentido lançar a bola para a cabeça, por exemplo, de Pavlidis. Nem sequer tentar o remate de longe. O argentino preferiu naquele instante ligar uma espécie de máquina de costura e começou a dar pequenos toques atrás de pequenos toques, espécie de imitação do genial Messi. Depois, quando achou que já chegava de toques, abriu na esquerda para Schjelderup. O homem cujo nome tem tantas consoantes encavalitadas umas nas outras, pegou na bola, dançou levemente em frente a Quaresma e fez golo. Era um golo justo. Tal como justo foi, quase a fechar o primeiro tempo, o golo de Gyokeres, de penálti, é certo, após falta de Florentino sobre Maxi Araújo. Os mísseis do sueco são quase sempre indefensáveis e o remate do empate voltou a sê-lo. O intervalo chegava com a justa igualdade, após 45 minutos empolgantes e eletrizantes. O segundo tempo foi diferente. Se o primeiro teve dedo de jogadores, o segundo teve dedo de treinadores. A começar por Bruno Lage, que decidiu logo trocar Schjelderup por Akturkoglu, outro nome recheadinho de consoantes. O jogo baixou duas velocidade e foi então tempo para, pelo meio de remates perigosos de Di María, Kokçu e Pavlidis, o Sporting pegar na bola. Pegou, sim, mas nunca a colocou perto de Trubin. E assim, suavemente, entre trocas e trocas de jogadores por questões meramente táticas, o segundo se esfumou. Sem a espetacularidade do primeiro. Depois, ao 14.º penálti, Trubin defendeu o remate de Trincão. Coisa de t’s. Calma, Francisco, não é o fim do Mundo; menos calma, Anatoliy, é um troféu, caramba!