Tudo o que Ruben Amorim disse na última conferência como treinador do Sporting
Treinador do Sporting deu a última conferência de imprensa, antes de se apresentar como novo treinador do Manchester United; técnico apareceu visivelmente emocionado e foi agradecendo aos seus jogadores e à estrutura do Sporting
Ruben Amorim, treinador do Sporting, falou perante os jornalistas após uma reviravolta épica frente ao SC Braga e na antecâmara da sua saída para Inglaterra. Técnico, de 39 anos, abordou vários assuntos, com especial destaque para a aposta feita por António Salvador, por exemplo, e ainda para as diferenças que a equipa de hoje apresenta em relação ao que tinha feito há quatro anos. Voltou a fugir às perguntas de mercado, agora que vai para o Manchester United.
Balanço destes praticamente cinco anos à frente do Sporting?
- É difícil resumir tudo, neste momento. Foi uma aventura incrível. Sempre pareci ter as certezas todas, mas em algumas fases tive muitas dúvidas, por isso insisto que nada disto foi conseguido sozinho. Cheguei num período complicado. Eu é que digo obrigado aos sportinguistas. Fiz o que pude, cometi alguns erros, algumas teimosias, mas sempre a pensar no melhor para a equipa. Desta vez, foi a única vez que pensei em mim, mas tinha que o fazer. Senti que era a minha hora e o meu caminho. Ao sentir isto tinha de partir, pois quando estou, tenho de estar a tempo inteiro. É continuar, porque ainda há muito a fazer.
Em relação ao jogo qual foi a diferença entre a primeira parte e a segunda? O que disse aos seus jogadores ao intervalo?
- Na segunda parte, há coisas que não se explicam. Se calhar entraram em campo o Vitorino, o Coates, o Neto, algo de especial aconteceu. Parece que toda a gente que passou aqui em quatro anos e foi um grande momento. Muito melhor que na terça-feira. Ganhamos o jogo todos juntos, na minha despedida. Tinha de ser assim…
Muitas emoções, pois regressou a uma casa que o lançou como treinador principal, foi realmente especial esta despedida?
- Estava muito difícil o jogo, mas sentia que se marcássemos um golo, a nossa equipa estava mais fresca e íamos conseguir dar a volta. A diferença nos dias de descanso notou-se neste jogo. Mas, estávamos a jogar muito devagar, talvez porque estas semanas foram complicadas. Mal marcamos, senti que conseguíamos dar a volta ao resultado. Foi aqui que comecei, nem sabia onde por as mãos e já lá vai algum tempo. Agradecer ao presidente António Salvador que fez uma aposta muito arriscada e acreditou em mim, também ao Hugo Vieira que fez força para que apostassem em mim. Vou muito feliz. Senti que estava difícil, mas assim que fizemos o 2-1 acreditei que íamos dar a volta ao resultado.
Jogadores com saudades, adeptos com dúvidas e em maio vai voltar para eventualmente celebrar o título?
- Não trouxe tudo, deixei alguma coisa que depois será entregue. Tenho confiança, porque acredito muito nos jogadores. Sei quem é o próximo treinador e também acredito muito nele. Disse isso aos jogadores. A essência vai estar lá, pois isto estava a ser planeado. Os jogadores vão ter de ser muito humildes e puxarem uns pelos outros. Como o Quaresma que nem sempre treina bem e tenho de o orientar de certa forma. O treinador que vem tem todas as características para encaixar bem e levar a equipa para o Marquês.
O que se passou com o Edwards?
- O Edwards levou uma pancada que estava feia. Não vai ser nada demais, mas decidi não arriscar. Já o fiz com outros, como o Pote que voltou a sentir qualquer coisa e teve de sair.
Vai enviar algumas mensagens para a equipa ou dar algumas dicas ao novo treinador?
- Não. Vou torcer, vai haver um treinador, uma estrutura. A verdade é que a partir de amanhã vou ser o mesmo, mas com outra camisola. Focado no meu trabalho, criar uma relação com os novos jogadores, porque é assim que trabalho. Apenas apoiar e acredito no novo treinador e que vão estar no Marquês, até porque também sou campeão [risos].
Este jogo foi dos melhores momentos que passou no comando técnico do Sporting?
- Houve as festas, mas este momento é dos mais marcantes, senão o mais marcante, também por ser a despedida. Pois contamos a nossa história aqui, em 90 minutos. Não estávamos à espera dos dois extremos nas alas do SC Braga. Volto a dizer que a frescura fez diferença. Carvalhal montou estratégia para ocupar os espaços. Roger e Gabri bateram-se bem a atacar e a defender. Podíamos ter evitado os dois golos, pois fomos algo lentos a voltar para trás. A esperteza do SC Braga deu frutos, mas depois acabamos por ser mais fortes.
O futebol português vai ficar mais pobre sem o Ruben Amorim?
- Sou um produto do futebol português e tenho muito orgulho nisso. O facto de um benfiquista ter significado tanto para o Sporting, foi graças aos adeptos conseguirem lidar com isso. No início também tive alguns problemas, pois estava nervoso. Protegi-me várias vezes, por exemplo, nas fases más não podemos ler nada. Proibir redes sociais é o ponto essencial. Sempre tive muito orgulho no futebol português. Algo que me frustra é ter de vender jogadores. Pois, queríamos dar passos em frente e estávamos sempre limitados. É preciso os grandes olharem para as diferenças e verem que senão, não nos desenvolvermos todos, isto ainda vai ficar pior. Foquei-me no trabalho e com sorte as coisas foram acontecendo.
Falando de mercado, o Man. United vai dar-lhe 80 milhões. Serão para levar o Harder ou pedir um desconto para tentar levar o Gyokeres?
- Não podemos ir para um sítio replicar o que fizemos aqui. Não sei as carências e aquilo que a equipa vai precisar mais. Gyokeres é um jogador especial e o Harder vai ficar com o lugar dele, mas não sei quando…
Os golos que sofreu deixaram-no mais insatisfeito por ser no último jogo?
- Tudo se pode melhorar. Se olharmos para os golos ou para as oportunidades que não deixamos o SC Braga fazer. Por isso, podiam ter sido evitados. No jogo do Man. City, estava lá o Franco [Israel], caso contrário podíamos ter sofrido mais. Há fases em que sofremos mais golos do que queríamos.
Ao próximo treinador basta colocar a equipa em piloto automático e pode ser campeão?
- Estou tão tranquilo que vai acrescentar coisas novas que um treinador que está cá há cinco anos não conseguiu ver. Um treinador vende uma ideia, não vai vender a do outro. Estou confiante, pois tem competência, pode é não ter tanta sorte. Às vezes é bom uma nova pessoa a olhar para a equipa e perceber aquilo que pode fazer ou não. É muito inteligente.
Trocou alguma mensagem com António Salvador?
- Às vezes trocava umas mensagens com ele, mais quando vinha buscar jogadores e ele dizia que o estava a lixar. Nesta fase não falei com ele.
Quais as principais diferenças entre o que apresentou quando chegou e agora?
- A mobilidade dos centrais é completamente diferente do que era no início. A construção da nossa equipa melhorou, devido à subida de qualidade dos centrais. São eles que constroem e não tanto os médios. Fomos mais ao pormenor, principalmente a nível ofensivo. No início trabalhamos mais defensivamente e confiamos no talento dos jogadores da frente. Fomos dando mais dicas para o ataque, o terceiro médio mais como número 10 também melhorou o nosso futebol. O avançado a dar profundidade e outros jogadores a ocuparem outros espaços. Segredo disto tudo é arranjar melhores jogadores. Sempre na qualidade dos jogadores. Tivemos estabilidade diferente que nos ajuda a todos.
Como viveu os golos da reviravolta?
- Queria muito que a equipa ganhasse, era muito importante por tudo o que está a acontecer no campeonato, por ser antes da paragem. Um grande golo de um grande jogador, enorme capitão ao fim de um ano. Quando fui falar com os adjuntos ouvi-o a gritar no balneário ao intervalo. Harder esteve em todos os momentos em que foi preciso. Tem um fenómeno à frente dele e tem de saber lidar com ele.
Pretende falar com Van Nistelrooy?
- Vou falar com ele, já amanhã, como tem de ser e depois tudo se vai desenrolar por aí…