Tratado de Zamora, abraço entre Pinto da Costa e Villas-Boas, Chaves e Iván Jaime: tudo o que disse Sérgio Conceição
Treinador do FC Porto fez a antevisão do jogo com o Chaves, agendado para amanhã, às 20.30 horas
-- O que espera do jogo com o Chaves, que está numa zona aflita e precisa de pontuar?
-- É isso mesmo, acho que é um fator de motivação para os jogadores [do Chaves], defrontarem o FC Porto, um grande do futebol português e perceberem que dentro desse jogo vão ter a esperança de ficarem na 1.ª Liga. Nós temos que olhar para o nosso jogo. Preparámos nestas semanas limpas, deu tempo para nos prepararmos tendo em conta algumas ausências. Vamos encarar o melhor jogo da melhor forma para ganhar.
-- Na última jornada foi obrigado a mexer na defesa, com Martim Fernandes e Zé Pedro. Estas mexidas, que deverão acontecer novamente, podem mudar o que quer para o jogo?
-- São problemas que tenho de resolver, sou pago para isso. Tenho de contar com toda a gente, mas não é possível. Tenho de arranjar soluções. No final, os sócios, adeptos e simpatizantes querem é que o FC Porto ganhe. Não olham para as ausências, olham para outras situações. Nós temos de estar focados em arranjar soluções e entrar com uma equipa competitiva, dentro de um jogo que envolve todo um contexto. É um jogo difícil. Mas estamos preparados para ganhar e é com esse intuito que vamos a Chaves.
-- O Chaves reforçou-se relativamente ao primeiro jogo no Dragão. O desafio também é renovado para o FC Porto?
-- O Chaves tem um jogo decisivo. Para nós, todos são decisivos. É verdade que mudou um pouco e tem mudado ao longo da época [o Chaves], a partir do momento em que o Moreno assumiu a equipa. Depois, obviamente que a entrada de um ou outro jogador em janeiro fez com que, por essas caraterísticas, a equipa jogasse de forma diferente. Nós olhámos para alguns cenários. O Guzzo não está por castigo, o Guima provavelmente regressa de lesão, o Júnior Pius também me parece que vai regressar, poderão apresentar-se com uma linha de cinco. Têm feito mudanças nesse sentido e nós temos de estar bem no jogo percebendo o que o adversário pode fazer em função de quem joga.
-- Como sócio do FC Porto, que legenda colocaria no abraço entre Pinto da Costa e André Villas-Boas?
-- Não tenho de meter legenda nenhuma. É um presidente que perdeu as eleições e outro que ganhou. Por enquanto, ainda temos o nosso presidente, a passagem de testemunho vai acontecer. Eu, como treinador, tenho de preparar a equipa e focar-me no jogo de amanhã, os jogadores igual. Vivendo um bocadinho à margem do ruído que existe neste período. Não há nada mais do que isso. Mas claro que gosto de ver duas pessoas a abraçarem-se, é bom sinal.
-- Já conversou com André Villas-Boas ou essa conversa vai acontecer depois da final da Taça?
-- [risos] Esta conversa faz-me lembrar o que dei em história, o Tratado de Zamora. É uma conversa normal, do presidente para um funcionário do clube que é o treinador. Todas as questões que o novo presidente quiser falar comigo, vou responder. Vai inteirar-se de várias coisas, falar com vários funcionários. Acho normal.
-- Esta semana saiu um comunicado duro de Iván Jaime e dos representantes. Como viu esse comentário? Quatro jogadores ainda estão a trabalhar à parte?
-- A equipa técnica, liderada por mim, decide o que fazer em função da produção e daquilo que é o trabalho dos atletas aqui. Podem trabalhar dois, três, quatro grupos diferentes, até na equipa B, alguns até vão ser convocados para amanhã. Temos uma equipa profissional grande. Os comunicados e todo esse ruído não tem a ver comigo, sou treinador, faço as minhas escolhas e o meu trabalho. Comunicado nem vi, não li. Sei que houve. O mais importante é o jogo de amanhã, os jogadores estão disponíveis dentro das condições que quero de trabalhar no máximo e darem o máximo.
-- Sempre se mostrou muito reticente a mudanças. Neste momento, verifica-se uma mudança grande no FC Porto, em todo o clube. Que sensações lhe tem provocado?
-- Tenho de olhar para a equipa de futebol, de perceber que temos algumas, pelas lesões e castigos, limitações. Não sou de meter um miúdo rapidamente porque tem qualidade, de forma a que depois queime as tais etapas necessárias. Estou a falar do exemplo do Martim ter entrado contra o Sporting, entrou porque achámos que estava preparado e porque, estrategicamente, era fundamental o Pepê jogar mais adiantado. Essas mudanças é que vejo, aquilo que a equipa necessita. Olhando para o início da época e para a equipa que jogou agora contra o Sporting... Já tenho essas mudanças todas que fazem parte do meu trabalho. Depois, a vida associativa do clube, é a que é. Os sócios são soberanos, eles é que decidem. Estamos aqui como funcionários para dar o nosso melhor, sendo que, como sempre disse e vou repetir, para estar no FC Porto não basta ter contrato. Aqui ninguém está agarrado a nada, há uma instituição acima de tudo e todos.
-- Já decidiu o que vai dizer na reunião com André Villas-Boas?
-- Não sei o que me vão perguntar... Parece que estamos a falar de algo que não é normal, um presidente sentar-se com o treinador, alguém que também é importante nos clubes. Não vejo nada de estranho nisso, acho que é absolutamente normal e natural.
-- FC Porto habituou-se a lutar pelo título nos últimos anos, esta época isso já está fora de questão. É mais difícil manter o foco dos jogadores?
-- Uma vez disse aqui que já vi treinadores a irem embora na pré-época. Já vi pré-épocas menos bem conseguidas e o treinador já estava na 'baila'. Se um jogo de pré-época é importante numa equipa como o FC Porto, imagine um jogo de campeonato. Não podemos esquecer que temos dois adversários connosco e que isso nos pode custar estar mais acima ou abaixo na tabela. Temos essa consciência, sem dúvida.