Tozé Marreco: «O Gil Vicente tem todas as condições para crescer»
Tozé Marreco falou de tudo nesta entrevista exclusiva ao nosso jornal. (Foto: A BOLA)

ENTREVISTA A BOLA Tozé Marreco: «O Gil Vicente tem todas as condições para crescer»

NACIONAL08.06.202409:30

Técnico do emblema de Barcelos não poupa elogios à estrutura gilista; o modelo de jogo e o poder de adaptação às várias realidades; as soluções que terão de ser encontradas caso o mercado leve algumas das 'joias da coroa'; muito feliz no Minho e a pensar... dia a dia

Não faltam objetivos na cabeça de Tozé Marreco. O jovem técnico sabe bem para onde quer ir, os sonhos abundam na sua mente, mas, defende, só o trabalho pode dar asas a esses mesmos sonhos. O futuro será, sempre e só, apenas... o futuro, sendo que, dessa forma, o foco está em viver intensamente o presente. Apenas assim o melhor poderá estar para vir. O treinador está muito feliz em Barcelos e por lá quer continuar. Agora? Agora é projetar a pré-época e o primeiro jogo oficial da nova temporada. Uma temporada que, assume, tem tudo para devolver o Gil às grandes tardes e noites de glória. Para isso, Tozé Marreco conta com toda a estrutura, com os adeptos e com a cidade. Porque, assume, esta comunhão de gilismo será absolutamente determinante para as vitórias que todos anseiam no universo barcelense.

Comandou o Gil Vicente em cinco jogos, com duas vitórias, dois empates e uma derrota. E a derrota numa altura em que a permanência já estava garantida. Que balanço faz?

Era difícil pedir melhor aos rapazes. Tínhamos um ponto de vantagem relativamente à zona de play-off e defrontámos adversários muito difíceis. Muita gente pensou em que é que eu me ia meter. Encontrei um grupo absolutamente aberto ao que quisemos mudar, aos métodos que quisemos utilizar e os jogadores trabalharam nos limites. Uma mudança nunca é agradável para ninguém, mas demos as mãos e alterámos muita coisa. Assumi claramente o risco, tal como o Gil Vicente correu o risco de ir-me buscar. Tentámos ser muito assertivos no que era preciso mudar e trabalhar, tanto na parte defensiva como na ofensiva. Aproveitámos muita coisa boa que o mister Vítor Campelos tinha feito e com tudo junto fomos atrás dos resultados.

Que estrutura encontrou no Gil Vicente?

Foi uma aposta de risco de toda a gente. Só saí de Tondela após o acordo entre os clubes e fico muito orgulhoso de que pela primeira vez na história do Tondela um treinador tenha sido projetado para a Liga. Os valores são confidenciais e da minha parte nunca vão ser revelados. Importante é dizer que houve um acordo entre o Gil Vicente e o Tondela para que eu saísse. E, mediante a minha integridade, nem de outra forma fazia sentido. Foi, obviamente, um sinal de confiança de um clube ao ir buscar um treinador a dois meses do final do seu contrato. Obviamente que eu quis aceitar o desafio Gil Vicente. Eu sabia que no final da época poderia ir para outro clube. Mas eu quis muito ir para o Gil Vicente, essa é que é a verdade. Fiz a escolha certa e encontrei uma estrutura em que todos demos as mãos. Todos os departamentos tinham de estar envolvidos. Porque se o Gil caísse, caía toda a gente.

Vai agora iniciar uma época. O que se pode esperar do Gil Vicente?

Senti muita confiança da estrutura, mas também dos adeptos. O Gil Vicente tem todas as condições para ter um ambiente no estádio como tinha antigamente, em que as equipas adversárias têm de sentir o peso de ali jogarem. A primeira coisa que eu quero é sentir essa envolvência. Do clube, dos adeptos e da própria cidade. Tal como acontece também no hóquei, por exemplo. Barcelos pode ser uma cidade ainda maior nesse aspeto e os adeptos estarem ao nosso lado como estiveram nesta parte final da época. Conto com eles. Vai ser um Gil que, obviamente, não quer sofrer como sofreu esta temporada. Temos de dar passos sustentados para o futuro do clube, mesmo sabendo que as dificuldades serão imensas.  A projeção do que aí vem tem de ser muito cuidada para que evitemos ou reduzamos o erro. Queremos uma equipa com a qual os adeptos se identifiquem, com uma crença gigante e com uma alma muito grande.

O clube pode aspirar a outros voos no futuro?

Eu sonho muito, mas sonho a trabalhar. Regra geral, nem conto os meus sonhos a ninguém, o trabalho é a base para tudo. O Gil Vicente, na altura da minha apresentação, utilizou uma frase muito interessante que dizia que este é um futuro que queremos construir juntos. Eu quero ser parte integrante da preparação desse futuro, mas sempre com os pés bem assentes no chão. Não basta dizer que queremos olhar para a parte superior da tabela antes de termos outras coisas resolvidas. O que eu quero e em que acredito é que o Gil tem todas as condições para crescer, para se desenvolver e para ser um projeto absolutamente estável, tal como a chegada à Liga Conferência há duas épocas. Para tudo isto é preciso muito trabalho de base e de preparação do plantel. O presidente e o diretor geral têm essa responsabilidade, eu cá estou para ajudar a projetar o clube no campo, a desenvolver os jogadores e a acreditar que é possível o Gil ir a qualquer estádio para ganhar.

Assim como o Gil Vicente foi ao Tondela buscar o Tozé Marreco, outro clube pode ir ao Gil Vicente fazer o mesmo. Como prevê o seu futuro?

Além de conservador na questão dos sonhos, sou pragmático e até muito pessimista. Penso sempre que as coisas podem correr mal e protejo-me no trabalho. Trabalho muitíssimo, até não poder mais. O que eu sonho neste momento é em começar a pré-época. Depois de acabar a pré-época, vou sonhar em ganhar o primeiro jogo. Se tenho ambições? Quando comecei a minha carreira sonhei em chegar à Liga. Mas sonhei a trabalhar muito, a conquistar objetivos. A minha cadeira de sonho agora é o Gil e o meu campeonato de sonho é a Liga. Se me perguntar o onze do Real Madrid, não sei dizer. Mas se me perguntar o onze da Académica ou do Canelas, talvez eu saiba responder. Esta é a minha realidade.

Que estilo de jogo pretende implementar na próxima época?

O meu modelo de jogo é sempre construído em função dos jogadores que tenho, da dimensão do clube onde estou e da realidade em que estou inserido. Queremos ajustar o que foi feito nesta fase final da época, mas já temos tudo perfeitamente definido.

Vai continuar a privilegiar a linha de quatro no setor defensivo, por exemplo?

Gosto de preparar os jogadores e trabalhar os princípios. A minha função é dar conhecimento do jogo aos jogadores. Seguindo sempre uma base de organização, a qualquer momento os jogadores têm de estar preparados para as várias alterações. Se o guarda-redes puder ligar com o avançado e chegarmos ao golo, encantado da vida. Da mesma forma que se for preciso fazermos 20 ou 30 passes para lá chegarmos também está tudo bem. É preciso preparar os jogadores para essas variabilidades, seja a jogar por dentro como a atacar a profundidade. Quero é explorar ao máximo as capacidades dos jogadores. Especialmente com bola. Porque defensivamente, não há margem. Tem de ser daquela forma.