Tomara o leão ter jogos assim na Liga: crónica do Sporting-Sturm Graz
A frieza de nada haver por decidir; domínio leonino foi claro desde o primeiro minuto; núcleo duro de Amorim gerido com pinças
Há jogos, no decorrer de uma longa época, que interessam bem mais ao treinador que aos adeptos. Este foi um deles. Rúben Amorim estudou o contexto, sabia que nada de especial havia a perder ou a ganhar e fez meia revolução no onze leonino. Testou soluções (Essugo na ala direita durante a segunda parte, por exemplo) e geriu quase ao cronómetro a utilização dos jogadores que compõem o núcleo duro da equipa. Destes, só não atuaram Adán, Diomande e Geny Catamo (este lesionado), mas entre todos os outros repartiram-se minutos desde o encontro do último domingo, em Guimarães, e esta espécie de ensaio geral para o clássico da próxima segunda-feira em Alvalade.
Sim: podemos dar as voltas que quisermos, mas ficou claro que o Sporting-FC_Porto não saiu da cabeça de ninguém desde antes do jogo. Não saiu da cabeça do treinador, pelo exposto atrás, não saiu da cabeça dos jogadores, que cumpriram o plano à risca sem aventuras de maior, e não saiu da cabeça dos adeptos, na medida em que muitos dos habituais 35 ou 40 mil escolheram ficar em casa numa noite fria e nada decisiva e a casa não chegou aos 25 mil.
Adversário à medida
A classificação final do grupo D desta Liga Europa reflete o que ficara indiciado no sorteio: o primeiro lugar seria disputado entre Atalanta e Sporting, que se classificariam sem dificuldades de maior. Cada um dos dois outsiders roubou um empate a um dos das frente, mas naturalmente foram os jogos entre italianos e portugueses a decidirem o primeiro lugar.
Afastada a hipótese, a quatro dias do clássico, de atingir o apuramento direto para os oitavos de final, o Sporting teve no Sturm Graz o adversário perfeito para um ensaio geral de intensidade média.
Os austríacos, de longe mais fracos que os leões, aspiravam ficar em terceiro lugar para seguirem rumo à Conference League. Da Polónia chegavam notícias tranquilizadoras, visto que a Atalanta cumpria o seu papel com a mesma seriedade do Sporting (terminou 4-0, e os golos poderiam ter feito a diferença a favor do Raków). Foram-se acumulando condições, portanto, para a equipa de Rúben Amorim preparar melhor o jogo de segunda-feira. Quando o árbitro escocês apitou para o final, não fosse o facto de tratarmos aqui de profissionalismo a alto nível e estariam reunidas as condições para uma bela terceira parte numa marisqueira lisboeta.
Domínio absoluto
O Sporting entrou muito forte no encontro e ao fim de dois minutos poderia perfeitamente estar em vantagem. O Sturm Graz ensaiou uma ou duas reações, sem perigo de maior, e o jogo entrou em letargia e sonolência quase absolutas até Matheus Reis — central/ala que já foi médio e por vezes mostra ginga de número 10 — inventar uma jogada individual pela esquerda, daquelas que todos nos lembramos de ver os mais talentosos fazer no recreio da escola, e servir o inevitável Gyokeres para o golo que indicou o caminho do resto do encontro.
No minuto seguinte, o avançado sueco, em jogada iniciada por ele próprio, voltou a agitar Alvalade com cabeceamento ao poste após cruzamento de Paulinho. Na recarga, Bragança e Trincão atrapalharam-se e ninguém acertou na bola para fazer o mais fácil.
Estávamos quase no intervalo e a sonolência voltou. Amorim mexeu no regresso (três substituições de uma assentada, certamente já previstas no plano de poupança) e até final do jogo só existiram mais três momentos interessantes e capazes de combater o frio da noite: os cantos de Edwards (60 e 70 minutos) que resultaram em golos de Gonçalo Inácio e um remate de Trincão aos 77 minutos.
Contas feitas, o Sporting abordou o compromisso de forma séria e perante um adversário nitidamente inferior cumpriu a obrigação de vencer._Fê-lo folgadamente e com competência.
Tomara o leão, na caminhada do campeonato, encontrar de quando em vez uma presa tão dócil. Mas destas não existem por cá.