A BOLA NO EURO 2024 Todos os caminhos vão dar ao Estádio Olímpico de Berlim

INTERNACIONAL08.07.202409:10

Berlim tem uma Rota do Futebol, dividida em três caminhos; A BOLA percorreu o trajeto que acaba no Estádio Olímpico, palco da final do Euro-2024; Memórias do ‘Milagre de Berna’ e do Mundial-2006 na capital alemã

BERLIM - Se todos os caminhos do Campeonato da Europa vão dar à capital alemã, não é menos verdade que esta cidade tem os seus próprios percursos do futebol, traçados ao longo dos tempos. Os clubes locais podem nunca ter conseguido conquistar a Bundesliga, mas isso não quer dizer que Berlim não tenha memórias. Pelo contrário. São vários os pontos que remetem para momentos ou figuras marcantes da história do futebol germânico, e por isso mesmo foi criada a Rota do Futebol na capital.

Trata-se de um projeto da associação Sport:Kultur, inaugurado em 2015, por ocasião da disputa, no Estádio Olímpico de Berlim, da final da Liga dos Campeões, que o Barcelona conquistou diante da Juventus. A rota está dividida em três caminhos, todos iniciados na Porta de Brandemburgo, porventura o monumento mais conhecido da cidade, inaugurado em 1791, e que se tornou um símbolo da paz, depois de ter sofrido danos durante a II Guerra Mundial, e de ter estado quase abandonado nos anos em que a cidade definiu a divisão do país.

Embora não tenha andado de bicicleta – como é recomendado –, a equipa de reportagem de A BOLA fez o caminho 3 da Rota do Futebol de Berlim, que acaba precisamente no Estádio Olímpico, palco da final do Euro-2024.

3.1 – PRAÇA DA REPÚBLICA

Após a construção do Muro de Berlim, em 1961, os relvados em frente ao edifício da Assembleia tornaram-se muito populares para jogos recreativos, algo que os alemães ainda hoje valorizam muito. A partir do momento em que o Parlamento alemão (Bundestag) ali se fixou, em 1999, depois da reunificação do país, tornou-se mais complicado jogar à bola pelos jardins. Ainda assim, em período de Campeonato da Europa, a Praça da República volta a estar ocupada pelo futebol, já que aí está localizada uma das fan zones de Berlim. Tal como em 2006, ano do Mundial realizado na Alemanha, uma conhecida marca desportiva instalou uma réplica do Estádio Olímpico com um pequeno campo de relva sintética.

3.2 – CASA DE SEPP HERBERGER

A placa, na fachada do número 89 da Bulowstrasse, não deixa dúvidas: ali viveu Josef Herberger, entre 1937 e 1944. Antigo internacional alemão, Sepp Herberger já tinha sido jogador e treinador de uma equipa de Berlim, o Tennis Borussia, mas foi já como selecionador do III Reich, em 1936, que foi viver para a Bullowstrasse. Em 1944 o edifício foi atingido por bombas, o que fez o técnico regressar à região natal de Mannheim com a mulher, Eva.

Dez anos depois, em 1954, Herberger conduziu a Alemanha Ocidental à conquista do Campeonato do Mundo, após a final que ficou denominada como O Milagre de Berna. A Hungria de Puskas era favorita, até porque tinha goleado a seleção alemã por 8-3 na fase de grupos. No dia da decisão esteve, inclusivamente, a vencer por 2-0, mas a Alemanha Ocidental deu a volta ao marcador e conquistou o título.

A entrada de Sepp Herberger para o Quadro de Honra do futebol alemão gerou polémica, por ter sido filiado no Partido Nazi, embora não existam dados de uma ligação extra-futebol. Como selecionador, Herberger acabou por afastar alguns jogadores da frente de batalha.

3.3. – BREITSCHEIDPLATZ

É a praça central da zona oeste de Berlim, na qual está localizada a Igreja Memorial Kaiser Wilhelm, o monumento com os restos do edifício bombardeado durante a II Guerra Mundial. A Bretischeidplatz é o palco tradicional para as festas do Hertha, embora o emblema azul e branco ande arredado da elite do futebol alemão. Localizada junto do Jardim Zoológico de Berlim, tem sido agora ponto de encontro de adeptos de seleções que jogam na capital germânica.

3.4 – PARQUE KURFURSTENDAMM

Este recinto só existiu entre 1897 e 1903, na zona de Charlottenburg, mas acolheu os primeiros jogos internacionais (não oficiais) da Alemanha, ainda antes da fundação da federação. A 23 e 24 de novembro foram realizados dois jogos contra uma seleção inglesa, por iniciativa de um jovem — então com 26 anos — chamado Walther Bensemann, um dos pioneiros do futebol na Alemanha, fundador de vários clubes e até da revista Kicker.

3.5 - SCHLOSSHOTEL

O Schlosshotel, localizado na zona de Grunewald, entrou para a história do futebol germânico ao acolher a seleção anfitriã durante o Campeonato do Mundo de 2006. Jurgen Klinsmann, que era então o selecionador da Mannschaft, auxiliado por Joachim Low, queria que os jogadores sentissem de perto o carinho dos adeptos, e por isso escolheu um hotel não muito distante do centro da cidade de Berlim. A equipa treinava no Estádio Mommsen e no Complexo Olímpico, a escassos quilómetros de distância.

A seleção alemã foi derrotada no prolongamento do jogo das meias-finais, frente à Itália, em Dortmund, mas depois ainda derrotou Portugal em Estugarda, para assegurar o terceiro lugar do torneio.

O Scholsshotel conservou a ligação ao futebol, de tal forma que, neste Euro 2024, recebeu a seleção austríaca, eliminada pela Turquia nos oitavos de final.

3.6 - DEUTSCHLANDHALLE

Construído para os Jogos Olímpicos de 1936, o recinto indoor acolheu as provas de lutas, levantamento de pesos e boxe. Dois anos depois recebeu o primeiro Campeonato do Mundo de Andebol, mas entrou para a história do futebol de Berlim pelos torneios de futsal ali organizados a partir da década de 70. Destruído por uma bomba em 1947, foi reinaugurado em 1957, mas desapareceu com a demolição de 2011.

3.7 – MOMMSENSTADION

Este estádio foi batizado em homenagem a Theodor Mommsen, vencedor do prémio Nobel da Literatura em 1902, e é a casa do Tennis Borussia, um dos clubes mais tradicionais de Berlim. Sepp Herberger foi aqui jogador e treinador, como referido anteriormente. O TeBe — diminutivo do nome do clube — chegou a ser um dos clubes mais fortes da cidade, e a dada altura teve uma forte influência da comunidade judaica, até à chegada ao poder do Partido Nazi.

3.8/3.9./3.10–COMPLEXO OLÍMPICO

As três últimas paragens do caminho 3 da Rota do Futebol do Berlim estão concentradas no Complexo Olímpico. A primeira placa é dedicada ao Deutsches Stadion — ou Estádio Alemão —, construído para os Jogos Olímpicos que Berlim deveria receber em 1916, mas que foram cancelados devido à I Guerra Mundial. O recinto incluía um relvado, pista de atletismo e ciclismo, e ainda uma piscina.

A segunda placa destaca a vasta abrangência do Complexo Olímpico, que não está limitada ao estádio. Aqui esteve inicialmente localizada a faculdade de desporto de Berlim, por exemplo. Hoje em dia o parque inclui também um estádio de menor dimensão — o Amateurstadion, com cerca de cinco mil lugares —, o Fórum do Desporto — que inclui o Museu do Desporto —, um recinto de hóquei no gelo, a piscina olímpica, instalações para a prática equestre, courts de ténis e até um anfiteatro ao ar livre com mais de 22 mil lugares.

A grande atração do Complexo Olímpico é, claro está, o estádio, construído para os Jogos Olímpicos de 1936. Berlim recebeu o evento 20 anos depois da data inicial prevista, devido à I Guerra Mundial, e a primeira ideia foi reconstruir o Deutsches Stadion, mas Adolf Hitler decidiu que o melhor, para a imagem exterior da sua liderança, que o melhor era construir um novo Estádio Olímpico. Curiosamente, o arquiteto encarregado da obra foi Werner March, filho do responsável do projeto do recinto antecessor, Otto March. O recinto, que inicialmente tinha cerca de 100 mil lugares, recebe agora cerca de 75 mil pessoas, e continua a ter uma pista de atletismo à volta do relvado. É a casa do Hertha de Berlim, mas também palco anual da decisão da Taça da Alemanha. Foi renovado em 2004, por ocasião do Campeonato do Mundo, mas já tinha recebido jogos da edição de 1974. Já recebeu cinco jogos deste Campeonato da Europa de 2024, e vai consagrar o novo campeão continental no próximo dia 14 de julho.