Erros flavienses impossibilitaram outro resultado; leões ganharam sem grande esforço para além do físico; Trincão no melhor golo
Falhou tudo, menos tirar Gyokeres do jogo. Estrategicamente, de um ponto de vista apenas defensivo, não era mal pensado: um bloco médio-baixo, com um central travestido de trinco à moda antiga. A ideia era que Vasco Fernandes se juntasse ao eixo defensivo quando fosse necessário, enquanto controlava o corredor interior e os espaços entre linhas, e empurrava o Sporting para a largura e para os inevitáveis cruzamentos, sobretudo desde a esquerda, por Nuno Santos. Os centrais, sobretudo Steven Vitória, enquanto durou) podiam depois focar-se em travar os esticões de Gyokeres, que, por outro lado, se mostrava perdulário no jogo aéreo, logo aos 11 e 12 minutos, nas melhores chances que teve para faturar, já depois das únicas iniciativas locais, com Sanca e Vitória a ameaçar em jogadas sucessivas.
Não quer tudo isto dizer que o Chaves tenha conseguido anular as oportunidades leoninas, porque tamanhas fragilidades defensivas, em inexplicáveis erros de abordagem e ainda de posicionamento, expunham em demasia o guarda-redes Hugo Souza - três grandes intervenções na primeira parte, uma perante um isolado Pedro Gonçalves - e o abnegado Steven Vitória, que tudo fazia para sobreviver. Com todos os constrangimentos e um outro ainda, o de um relvado cada vez mais ensopado mas ao qual também se adaptou melhor, estava fácil para o Sporting.
Depois, havia o outro lado. O Chaves só conseguiu defender sem bola. E raramente a teve em condições. Hector Hernández não conseguiu dar-se como referência para segurá-la (ninguém ao mesmo tempo o alcançou com bons passes) e o pouco que os transmontanos criaram veio de Sanca, a partir da esquerda. Cada vez mais empurrados para trás, o golo leonino acabou por cair literalmente do céu aos 43 minutos. Num canto, a bola ressaltou em Vasco Fernandes, Vitória tocou-a e esta sobrou para Paulinho, que teve a calma suficiente para atirar a contar. O conjunto de Rúben Amorim estava na frente e o espaço iria naturalmente abrir.
Paulinho desbloqueou um jogo marcado pela muita luta e duelos individuais. Jogo feito à medida de Nuno Santos e Hjulmand. Mas foi o refinado Trincão a abrilhantar a noite fria transmontana
Dois pés esquerdos
O Chaves arriscou-se a chegar ao intervalo com o nulo no marcador, tais as dificuldades do Sporting em perceber como chegar a momentos de finalização sem ser com o desnorte contrário, quase não provocado. As bolas longas ou esbarravam nos centrais ou Gyokeres não tinha espaço até à baliza para embalar; Pedro Gonçalves tentou aparecer entre linhas, mas era insuficiente; Trincão demorou até perceber onde podia surgir e ser mais útil; Paulinho passou largos períodos ao lado do jogo.
Treinador do Sporting destacou condições do relvado
O estado do relvado piorou e as dificuldades da equipa de Moreno em sair aumentaram. As decisões tornaram-se cada vez mais precipitadas. E o segundo remate certeiro tornou-se natural, aos 52 minutos, alinhavado por dois pés esquerdos: o de Nuno Santos no cruzamento e o de Trincão na finalização ao ângulo da baliza de Hugo Souza. Quatro minutos depois, se ainda havia dúvidas, tudo ficou decidido num erro com duplo réu (Bruno Rodrigues e Hector Hernández), que se atrapalharam e não tiraram a bola da frente de Pedro Gonçalves. Depois de um ensaio na primeira parte, repetiu o gesto da bola rasteira colocada junto ao poste para voltar a sair da sua terra com um sorriso no rosto.
Daí para a frente surgiu a gestão, com Essugo e Neto a garantirem músculo, e o Chaves a finalmente a ter bola perto de Adán, sem incomodar por aí além o espanhol. O líder vira a Liga com solidez. Resiste ao frio, à chuva e até a uma má exibição.