Sporting construiu a vitória com grande pragmatismo e sentido da realidade; A importância de ter bola, o bem mais precioso do futebol
Nesta fase final do campeonato, apesar do conforto de uma vantagem significativa, o maior adversário do Sporting não seria nem Benfica, nem FC Porto, mas a sua natural ansiedade de ver chegar o momento em que poderia, enfim, festejar um título muito sonhado e desejado. Rúben Amorim tem, de resto, sido muito claro e objetivo nas suas declarações, feitas com o cuidado maior de alertar os seus jogadores contra qualquer tentação de euforia.
Nestas circunstâncias, o jogo que o Sporting tinha em Famalicão, de atraso da 20ª jornada, ganhava uma importância crucial. Ganhá-lo significava ficar a uma distância confortável de sete pontos em relação ao segundo, o Benfica, ao mesmo tempo que tornava até matematicamente impossível qualquer vislumbre de recuperação do FC Porto, agora, a 18 pontos!
Pois com uma paciência chinesa, feita de técnica meticulosa e nervos budistas, o Sporting construiu, paulatinamente, a sua tão importante vitória em Famalicão e com ela, a cinco jornadas do fim, rouba a ténue esperança ao Benfica e deixa o passaporte do título pronto e já aberto para um simples e inevitável carimbo.
Extremo fez o passe para o primeiro golo e por pouco não assistiu mais três vezes; Gyokeres não marcou, mas foi influente no primeiro golo; Hjulmand foi fundamental para o equilíbrio
A VITÓRIA DA INTELIGÊNCIA
Rúben Amorim não esperaria uma vitória fácil e, de facto, não foi. Mas é verdade que o Sporting teve quase sempre o jogo controlado e se no último quarto de hora consentiu mais bola e até alguma pressão atacante ao adversário, foi porque a equipa se fechou mais em si mesma, recuou, diminuiu os espaços em que disputou o jogo e fez questão de garantir os três pontos com pragmatismo e racionalidade.
Não foi uma daquelas vitórias luminosas, cheias de vibração e espetáculo, mas foi uma vitória da inteligência e da competência.
Alguns erros de avaliação em jogo intenso
A BOLA, ESSE BEM PRECIOSO
Durante toda a primeira parte, o Sporting dominou e mandou no jogo. Não de uma forma avassaladora, mas com um critério muito definido e que passava pela frieza da exibição, ausência de pressa em fazer golo, dando prioridade ao jogo seguro, mesmo quando perdia a bola, afinal, o bem mais precioso do futebol. E por isso o Sporting foi rigoroso na circulação, responsável e maduro, beneficiando muito da qualidade na posse, na pressão imediata travando os caminhos do contra ataque do Famalicão e no desequilíbrio individual, a cargo de Trincão (no drible), Gyokeres (na potência) e Pedro Gonçalves (na precisão).
Um golo de Pote, aos 20 minutos, deu maior razão à ideia da consistência acima da exuberância e valha a verdade que, até ao intervalo, só o Sporting poderia ter voltado a marcar.
SEGURANÇA NA ESTRADA
Logo ao intervalo, Rúben Amorim insistiu nos sinais de segurança total na estrada para o título. Assim, trocou Diomande, já com um cartão amarelo, por Eduardo Quaresma. Sabia que esse era o flanco mais perigoso, porque Chiquinho estava a causar muitos problemas e com o passar do tempo seria natural que o Famalicão apostasse tudo e, com mais dinâmica e gente no ataque, aquele seria sempre o lado mais vulnerável. Quando Catamo se lesionou, Amorim ainda fez entrar Esgaio, mas, ao substituir Nuno Santos, trocou-o por Fresneda e fez Esgaio, que também rapidamente viu um cartão, terminar a partida na esquerda, bem mais tranquila.
O Sporting sofreu no último quarto de hora de jogo. Não tanto por perigos assinaláveis, mas porque a concentração defensiva se tornou crucial. Toda a equipa sentiu a obrigação de cumprir um trabalho árduo. No fim, todos acharam que tinha valido a pena.
Todos os olhos estavam em Gustavo Sá, mas a noite não foi nada fácil