«Tenho apoios que me permitem ir a votos, disputar e ganhar»
Entrevista A BOLA ao presidente da Associação de Futebol de Lisboa, Nuno Lobo - parte 2
Aos 46 anos, e a terminar o último mandato à frente da AF Lisboa, Nuno Lobo está a preparar o anúncio da candidatura à presidência da FPF, de onde Fernando Gomes vai sair. Num depoimento desassombrado, assume que, como vê em Pedro Proença um homem de honra e palavra, não acredita que seja seu adversário na corrida à Cidade do Futebol, uma vez que se comprometeu com os clubes há menos de um ano…
— Temos visto o Luís Figo nas tribunas presidenciais do Campeonato da Europa da Alemanha, e eu próprio fui a Londres entrevistá-lo, há uns anos, quando apresentou a candidatura à presidência da FIFA, o que reforça a sua vocação internacional. Porém, estas eleições para a FPF são especiais. Estamos habituados às eleições nos clubes, em que há campanhas eleitorais e vão votar 30 mil ou 40 mil pessoas, enquanto que neste ato eleitoral 43 votos bastam para garantir a presidência da FPF, o que torna o universo muito re- duzido e a aritmética mais simples…
— É verdade, estas são umas eleições com um colégio eleitoral que tem 84 delegados, repartido em três grandes blocos, se me permite a expressão, o das Associações Distritais, que representa cerca de 50% do caderno eleitoral, depois um conjunto muito significativo dos votos dos clubes profissionais, e a seguir um conjunto também relevante dos votos das associações de classe, e quando digo associações de classe refiro-me aos árbitros, aos dirigentes, aos treinadores, aos jogadores, aos médicos, aos massagistas, aos enfermeiros, enfim, a todos aqueles que são os agentes desportivos, por excelência, da Federação. E, obviamente, como disse, não basta ter um programa eleitoral, não basta ter nomes sonantes, é preciso fazer contas e ter essa aritmética no positivo.
— E como é que está a sua aritmética?
— Permite-me, em primeiro lugar, ser candidato, porque essa condição também exige um número muito significativo de subscrições; em segundo, um conjunto de apoios forte; e em terceiro, votos que me permitam ganhar as eleições. Esta conjugação legitima-me a, com grande expectativa, grande esperança, grande força e determinação, assumir praticamente esta minha candidatura. Ou seja, resumindo, os contactos que tenho feito com todos estes players no âmbito do colégio eleitoral da FPF, permitem-me augurar que possa vencer as eleições, embora, como lembrava o Vítor Serpa, eu tenha bem a noção de quão difícil é ganhar eleições no futebol.
Quando fui eleito em 2012, na AFL, também com um colégio eleitoral não tão pequeno, na altura também havia um ou dois candidatos que se perfilavam e que depois não chegaram a avançar. Aliás, o futebol português tem sido, na última década, fértil em surpresas eleitorais. Recordo, por exemplo, o processo eleitoral que envolveu, na Liga de Clubes, António Laranjo contra Mário Figueiredo, em que António Laranjo tinha a maior parte das subscrições e acabou derrotado; e a seguir, em 2015, Luís Duque, com quase o apoio unânime dos clubes, perdeu eleitoralmente, para Pedro Proença… Tenho algum conhecimento do que é a política desportiva dos votos, e à data de hoje faço uma leitura muito positiva, tão positiva que me permite ter a decisão final de me candidatar quase tomada.
A relação e o legado de Fernando Gomes
— O patamar, neste momento, da presidência da FPF, está muito alto, e o trabalho de Fernando Gomes e de toda a sua equipa é elogiado de uma forma consensual, para não dizer unânime. A sua ideia é protagonizar, eventualmente, uma candidatura de continuidade?
— Tenho, enquanto presidente da AFL, muito orgulho no trabalho que Fernando Gomes fez. Foi, sem dúvida alguma, o melhor presidente de todos os tempos da FPF. Reorganizou a Federação, estruturalmente transportou-a para outro patamar, não só desportivamente, ao nível das seleções, mas também da organização das competições e da internacionalização — no seu mandato tivemos três finais da Champions masculina, uma da Champions feminina, vamos co-organizar o Mundial de 2030. Portanto, Fernando Gomes foi e será alguém a quem a FPF terá que estar sempre agradecida. e é, para mim, o melhor Presidente da Federação de sempre.
— Como foi a sua relação com Fernando Gomes ao longo da última dúzia de anos?
— Tive, ao longo dos tempos, com Fernando Gomes, posições convergentes, mas também muitas posições divergentes, que foram públicas. Mas não há dúvida de que ao fim destes 12 anos, o trabalho que apresenta não pode ser alvo de crítica de ninguém. Costumo dizer, a brincar, nos contatos que tenho feito, que o próximo presidente da FPF deve ser eleito apenas com uma frase no seu programa eleitoral: «Não estragar o que Fernando Gomes fez nos últimos 12 anos.» Se eu for candidato e vier a ser eleito, a minha principal missão será, sem problema nenhum, e sem medo de dizê-lo, assumir essa continuidade do trabalho de Fernando Gomes.
— Arrisca-se a ser acusado de seguidista…
— Obviamente que irei fazê-lo com as especificidades da liderança de cada um, com um estilo de liderança que é diferente do de Fernando Gomes. Somos homens diferentes em termos de liderança, e haverá alterações e inovações que pretendo criar, assumindo, sem problema nenhum, um papel de continuidade…
A obra imaterial
— Vai agora terminar a fase quatro na Cidade do Futebol. Já começa a haver pouco para fazer em termos físicos. O sucessor vai precisar de alguma capacidade, quase inventiva, para continuar a evolução da obra...
— Sim, em termos estruturais e de obra, pouco mais haverá a fazer. Em termos desportivos, as seleções andam por elas próprias, e temos valores que nos permitem sonhar com presenças consecutivas, e com bons resultados, nos próximos Europeus, Mundiais e Taças das Nações.
Julgo que aquilo que posso trazer, se for candidato à FPF, é algo que trouxe a Lisboa: uma obra imaterial, que passa por humanizar e estar perto de todos os dirigentes, todos os clubes, todas as Associações, todos os sócios ordinários da FPF. Não estou a dizer que Fernando Gomes não o tenha feito. Fê-lo também, dialogou, contactou, incitou a diversas parcerias, foi um homem de diálogo. Porém, creio que nos próximos 8 a 12 anos da FPF deve haver uma reformulação de caminho para aquilo que é a humanização do futebol. Passa por trazer o coração ao futebol, fazer o dirigente sentir-se reconhecido pela sua Federação, pelo movimento associativo, enfim, pelos seus dirigentes. É esse que julgo ser o próximo trabalho de quem liderará a FPF nos próximos 4, 8 ou 12 anos.