Também chegar ao destino mas em classe económica (crónica)
Bernardo Vital e Viktor Gyokeres lutam pela posse de bola. MIGUEL NUNES

Estoril-Sporting, 0-1 Também chegar ao destino mas em classe económica (crónica)

NACIONAL11.05.202421:25

Depois da festa é sempre difícil recuperar o ‘chip’ competitivo; sem Geny e Nuno Santos, o Sporting não é o mesmo; o sueco é humano

Foi ainda um leão de barriga cheia, aquele que foi sábado à tarde até à Costa do Sol, em tempo bom de praia e pouco próprio para correrias e suores, sobretudo, depois da grande festa do Marquês.

Não se duvida que Rúben Amorim e os seus rapazes levassem o jogo a sério. Claro que havia coisas para ganhar, desde um recorde de vitórias no campeonato, até à meta, que no início da época poderia parecer impossível, dos noventa pontos. O problema não era, deve dizer-se, de seriedade competitiva, mas sim da dificuldade que sempre existe em qualquer equipa, seja profissional ou não, de recuperar o chip do comprometimento total com o jogo, que obriga a uma permanente concentração, além de uma saudável continuidade de rotinas. Ora, apesar de terem sido curtos os dias de festa, a verdade é que é humanamente impossível regressar ao trabalho sem alterações de ritmo e de humor. Seria impossível esperar, nestas circunstâncias, o melhor Sporting, mas era possível pensar numa equipa de Rúben Amorim suficientemente séria e inteira para poder ganhar o jogo, apesar de defrontar um adversário chatinho, taticamente rigoroso e muito bem preparado para travar adversários superiores.

O Sporting teve múltiplas dificuldades, mas acabou mesmo por chegar à vitória, já no ocaso do jogo e com um golo em que teve alguma felicidade. Mas ganhou e provou que mesmo em classe económica também é possível chegar ao destino que se deseja.

Uma questão lateral

Conhece-se o pensamento invulgar de Rúben Amorim em relação à sua defesa. Ao contrário do que normalmente sucede com muitas outras equipas, o Sporting tem uma defesa plural. Rúben muda muito. Tanto nos três defesas que jogam na zona mais central, como nos laterais. Na direita, Esgaio ou Geny Catamo; na esquerda, Matheus Reis ou Nuno Santos. Não é indiferente, sobretudo nas escolhas para as laterais, e em jogos em que a equipa pode esbarrar, como ontem esbarrou, num adversário que encaixa na perfeição. Aí, o Sporting precisa de intensidade, versatilidade e velocidade nos seus defesas-alas. E só tem o que precisa com Santos e Catamo. Como o moçambicano nem no banco esteve, Rúben só podia resolver com Nuno Santos. E resolveu. Foi dele o passe que descobriu Paulinho para o golo solitário e decisivo.

Uma estrela atrás das nuvens

Gyokeres é o homem de quem se fala neste campeonato. Um jogador decisivo neste título do Sporting. Um avançado goleador de classe mundial. Apesar de ter tido jogos em que pareceu ser um extra terrestre, a verdade é que o sueco é humano. E está muito naturalmente cansado. Não tem a mesma potência, a mesma velocidade, a mesma convicção no golo. Nada disso lhe diminui a condição de superestrela, mas a verdade é que uma estrela atrás das nuvens não pode brilhar o mesmo que uma estrela luminosa num céu limpo.

Gyokeres não brilhou como costuma brilhar. MIGUEL NUNES

Gyokeres está desgastado e isso torna-o agastado. Discute como antes não discutia, zanga-se com os outros e consigo próprio. Neste momento, Rúben Amorim só deve pensar em como o conseguirá ainda recuperar para o jogo da final da Taça. É que Gyokeres continua a ser essencial no sistema de jogo do Sporting e, ontem, a equipa muito sentiu a falta do melhor Gyokeres. Por razões já aqui explicadas e também porque Vasco Seabra ensinou bem os seus jogadores que souberam ter engenho e arte para tapar espaços ao sueco.