Sven-Goran Eriksson para sempre
Toda a história do treinador sueco no Benfica
Em junho de 2024 publiquei, inserido na coleção da FPF e através da Editora Cultura, o livro «Pulsação», onde dediquei um dos capítulos a Sven-Goran Eriksson. No dia da sua morte, passo a apresentar o excerto de Pulsação que fixa no tempo alguns episódios que não podem perder-se da passagem de Svenis pelo Benfica…
A MÁ NOTÍCIA
A 11 de janeiro de 2024 o mundo ficou a saber que Sven-Goran Eriksson, treinador de futebol então com 75 anos, padecia de um cancro no pâncreas, já numa fase sem retorno, e que, na melhor hipótese, podia ter mais um ano de vida. Foi o técnico sueco, num ato de coragem e suprema dignidade, para evitar especulações e boatos (que já circulavam, infelizmente com fundamento), que tomou a iniciativa de dar a triste notícia. Apesar de, na vida, a única coisa absolutamente certa ser a morte, esta contagem regressiva, com data mais ou menos prevista, para a finitude, não deixou de produzir um terrível impacto em quem com ele privou, e na legião de admiradores que uma carreira de quatro décadas quase sempre ao mais alto nível, justificou. Portugal, onde Eriksson trabalhou cinco anos ano serviço do Benfica, conquistando três títulos nacionais, é um marco importante na carreira de Svenis; assim o tratam os amigos. E a chegada do então muito jovem treinador à Luz até podia perfeitamente não ter acontecido…
COMO CHEGOU
Tratemos então de contextualizar a chegada de Sven-Goran Eriksson a Portugal. Em 1980, José Ferreira Queimado, à altura presidente do Benfica, contratou por duas épocas o veterano húngaro Lajos Baroti (que tinha estado no banco dos magiares como selecionador nacional na derrota frente a Portugal em 1966), para suceder a Mário Wilson, numa altura em que o Benfica experimentava uma seca de títulos nacionais de três épocas seguidas. Baroti teve êxito, os encarnados regressaram à condição de campeões e Fernando Martins, que, entretanto, tinha derrotado Ferreira Queimado no ato eleitoral de 1981, decidiu manter o técnico húngaro em 1981/82, época que não correu bem ao Benfica. Na cabeça de Fernando Martins criou-se a convicção da necessidade de mudança para um perfil de treinador diferente, mais disciplinador que Baroti, que impusesse outro tipo de respeito à equipa.
A primeira escolha do presidente do Benfica para suceder a Lajos Baroti foi César Luís Menotti, campeão do Mundo pela Argentina em 1978, que viria depois a dirigir clubes como Barcelona, Atlético de Madrid, Boca Juniors e River Plate. Porém, entre aquilo que Fernando Martins estava disposto a pagar e o que César Menotti queria receber havia uma grande e inultrapassável diferença. Ainda se encontraram em Barcelona, mas o entendimento não teve, por razões financeiras, pernas para andar. Porém, uma coisa era clara para Fernando Martins: era preciso alterar o paradigma e Lajos Baroti, então com 68 anos, não tinha condições para continuar. Na busca por um sucessor, gorado Menotti, seguiu-se Gilbert Gress, francês, à altura com 41 anos, que tinha levado o modesto Estrasburgo a campeão de França dois anos antes, e era um dos treinadores da moda na Europa. Gress foi convidado a vir a Lisboa, mas a farta cabeleira até aos ombros, e o ar despreocupado («chegou de fato e sandálias», indignou-se Fernando Martins) fizeram arrefecer o interesse do presidente do Benfica. A segunda escolha ficava assim pelo caminho.
Com a época a caminhar para o fim e o clube em polvorosa — a oposição, formada pelos apoiantes de Ferreira Queimado, mobilizou-se, e tiveram lugar algumas assembleias-gerais que o juiz Araújo e Sá, presidente da Mesa, teve muita dificuldade em controlar —, Fernando Martins tinha de encontrar rapidamente uma solução que encaixasse no perfil que desenhara, e, ao mesmo tempo, contentasse os sócios. O desbloqueador deste imbróglio foi um empresário sueco, de nome Bjorn Lantz, que propôs a Fernando Martins um jovem compatriota, de 34 anos, que acabara de vencer a Taça da Suécia com o Gotemburgo e, mais do que isso, conquistara a Taça UEFA, numa final a duas mãos contra o Hamburgo dirigido pelo mítico austríaco Ernst Happel, vencendo na Suécia por 1-0 e na Alemanha por 3-0, numa tarde de grande inspiração de… Glenn Stromberg.
Fernando Martins gostou da ideia, ficou convencido com o currículo, e o contacto direto com Eriksson deixou-lhe uma excelente impressão. O acordo não foi difícil e Svenis assinou pelas águias até julho de 1984…
REVOLUÇÃO DE VELUDO
Quando se diz que Sven-Goran Eriksson revolucionou o futebol português, essa afirmação não encerra qualquer ponta de exagero. Cara de menino, quase sempre com um sorriso a bailar-lhe nos lábios, apresentou, de imediato, três novidades e uma preocupação.
Num tempo em que os princípios de época nos clubes nacionais eram famosos pelas tareias que os jogadores levavam (ou se quiserem, um enorme volume de trabalho físico…), em que o contacto com a bola era uma miragem que raramente se tornava realidade, Eriksson alterou esse paradigma.
No primeiro treino da época de 1982/83 — a preparação foi feita no Estádio da Luz, seguindo-se uma digressão pelos Estados Unidos e Canadá —, os jogadores colocaram ao treinador sueco uma questão sacramental: «Mister, o treino é com botas ou ténis?», convencidos de que estava a caminho uma sessão de atletismo, e que a opção seria pelo ténis. Eriksson colocou um ar algo espantado e respondeu com uma pergunta retórica: «Vocês jogam com botas ou ténis? Jogam com botas, não é? Então o treino é com botas…»
Para surpresa generalizada, quando chegaram ao relvado da Luz, os jogadores — que nessa altura, com o plantel vasto da época anterior, e os regressados de empréstimos, ultrapassavam as quatro dezenas — depararam-se com duas dúzias de bolas, com que tomaram contacto desde o primeiro minuto. Eriksson, que tinha uma equipa técnica formada apenas por Toni e Fernando Caiado (Eusébio só se juntaria na época seguinte, para treinar os guarda-redes), começava a colocar em prática um método que tinha a bola como elemento essencial em quase todos os exercícios, fosse nos meiinhos de cinco contra dois a um toque, ou nas situações de dois contra três ou três contra quatro, ou ainda nos famosos jogos, em campo reduzido, de oito contra oito a um ou dois toques, consoante quisesse mais ou menos intensidade.
Outra novidade trazida pelo técnico sueco teve que ver com a ingestão de líquidos ao longo das sessões de treino. Em Portugal, à época, a maioria dos treinadores desaconselhava que se bebesse água, e alguns pura e simplesmente proibiam qualquer contacto com água. Eriksson criava pausas no treino especificamente para os jogadores se hidratarem e a cada um foi atribuída uma garrafa plástica da marca Pripps, de origem sueca e por cá desconhecida, que tinha uma água aditivada com sais minerais, ou seja, era uma bebida energética. Finalmente, ao contrário do que era norma, Eriksson orientava os treinos sem apito. Bastava-lhe um «op» mais audível para imediatamente a sessão parar e ser introduzida a correção desejada. E esta ficou como uma das suas imagens de marca…
Vistas as novidades, falemos da preocupação: Sven-Goran Eriksson começou a época com um plantel de mais de 40 jogadores e não descansou enquanto não conseguiu reduzi-lo para 24. Era esse, à época, o seu número mágico para manter as sessões de treino vivas e o plantel motivado. Seguiu-se, na primeira semana, uma razia no que toca a saídas, mas, quando a equipa partiu para a digressão pela América do Norte, o plantel estava completo. E até ao fim da época apenas aconteceu, na janela de inverno, a saída do ponta de lança brasileiro César e a entrada do médio sueco Glenn Stomberg. Nessa temporada de 1982/83, em que o Benfica venceu Campeonato e Taça e foi finalista da Taça UEFA, foram utilizados apenas 21 jogadores (em 2022/23, para haver comparação significativa, Roger Schmidt utilizou 32 jogadores)…
LIDERANÇA
Chegado a Lisboa aos 34 anos, Eriksson encontrou na sua equipa jogadores que pertenciam à mesma geração que ele: Manuel Bento era do mesmo ano, 1948; Humberto Coelho, de 1950; e mesmo Toni, que foi braço-direito do sueco, de 1946. À partida, isto podia levantar alguns problemas de autoridade, mas a verdade é que a época decorreu sem quaisquer casos disciplinares, para além das multas por atraso, a respeito das quais que o sueco era inflexível, e que revertiam para uma caixa zelosamente guardada por Shéu Han: cada minuto de atraso, fosse porque fosse, custava 100 escudos. Aliás, a multa que provocou mais gargalhadas quando se soube a razão, foi aplicada a Glenn Stromberg, que disse a Eriksson, atrapalhado por ter de explicar o atraso, que apanhou um táxi no Estoril, onde morava em casa de Bjorn Lantz, e disse ao motorista «quero ir Luz» e o taxista percebeu «Queluz». Sven-Goran Eriksson, em português (meteu cedo explicador, à imagem do que agora está a fazer Roberto Martínez), limitou-se a dizer: «Azar. Paga!»
Mas a questão da liderança ficou solidificada por um episódio, quiçá menor, no Canadá, onde o Benfica disputou um torneio, que venceu, ao derrotar na final (4-2) o Sporting Cristal, do Peru. Na meia-final o adversário foi o Aris de Salónica, que em 1979 tinha eliminado, em condições dramáticas, o Benfica das provas europeias, graças a um pontapé fortuito e tardio. No fim desse jogo houve mosquitos por cordas e, três anos depois, no Canadá, com muitos jogadores a reencontrarem-se, o ambiente entre as equipas era de cortar à faca. Na véspera do jogo, a organização disponibilizou um sintético, semelhante ao do Exibition Park, onde seria disputado o torneio, para as duas equipas. Os gregos treinaram primeiro, das 15h às 17h, e os portugueses depois, das 17h às 19h. Porém, já o relógio marcava cinco da tarde, a equipa do Benfica estava à espera que lhe cedessem o campo, mas os gregos não davam mostras de querer terminar a sua sessão. Eriksson fez sinal ao homólogo do Aris, Nikos Passialis, que lhe respondeu com um encolher de ombros. Aí, o treinador sueco não foi de modas: pegou num saco com bolas e entrou pelo campo, de onde os gregos não queriam sair, apanhando todos de surpresa, a sua equipa incluída. Mas os jogadores do Benfica foram lestos a reagir e seguiram o seu treinador, acabando com o treino da equipa de Salónica. Não houve confrontos físicos, mas ficaram no ar muitas ameaças gregas para a meia-final do dia seguinte. O jogo foi tenso e durinho, como se fosse a doer, e não apenas um veraniego. O Benfica ganhou 1-0 com um golo de Filipovic, e Sven-Goran Eriksson subiu uns degraus na escala de respeito dos seus jogadores.
A TÁTICA
Em julho de 1982, do ponto de vista tático, o futebol que Sven-Goran Eriksson queria implementar no Benfica era linear. Baseava-se num 4x4x2, em que o mote, dito vezes sem fim era «keep the team together (mantenham a equipa junta)», a que seguia a exigência feita aos pontas de lança (Nené e Filipovic eram os titulares) de se deslocarem em diagonal para poderem cair nas costas da defesa contrária, movimento a que devia corresponder um passe longo, dos defesas ou dos médios. Normalmente, mais do que Shéu-Han, sobretudo preocupado com o equilíbrio da equipa, era dos pés de ouro de João Alves que saíam esses passes, entrando Carlos Manuel, à direita, e Chalana, à esquerda, na equação quando a equipa ganhava a segunda bola e dava largura ao ataque.
Tratava-se de um tipo de futebol mais próximo do Norte da Europa do que do Sul, o que provocou algumas dificuldades iniciais. Apesar de contabilizar por vitórias todos os jogos disputados, a verdade é que o Benfica chegou à segunda mão da primeira eliminatória da Taça UEFA com quatro triunfos tangenciais (Espinho, Salgueiros, Estoril e Bétis) e apenas dois êxitos mais folgados (3-1 ao Vitória de Setúbal e 3-0 ao Boavista). A 29 de setembro de 1982, data da segunda mão, no Benito Villamarín, com o Bétis (2-1 na Luz), as coisas mudaram substancialmente. Ao intervalo, ainda com as ordens de «diagonais para os avançados e equipa junta», o Benfica perdia por 1-0 (golo de Poli Rincón) e estava fora da competição. Na segunda parte, os jogadores sentiram a necessidade de trocar mais a bola, para colocarem os espanhóis, que faziam jus à proverbial fúria, a correr atrás dela. E foi isso que começaram a fazer, pegando no jogo de forma imperial e alardeando uma nítida superioridade sobre os andaluzes. Com naturalidade, Carlos Manuel empatou a partida e pôs a eliminatória do lado do Benfica, e depois Nené fez o gosto ao pé e selou um triunfo premiado com inúmeros «olés» da claque encarnada.
Sven-Goran Eriksson, homem dotado de grande inteligência emocional, percebeu nesses 45 minutos que, apesar dos triunfos precedentes, era possível tirar muito mais da arte dos encarnados, e a partir daí alterou a cartilha de «diagonais para os avançados e equipa junta», para «às vezes troquem a bola, noutras alturas, diagonais para os avançados e equipa junta.» Foi assim que o Benfica encontrou um meio-termo entre o futebol de matriz britânica, que não era a sua praia, e o rendilhado a que faltavam quase sempre 30 metros. Desta simbiose nasceu, de facto, uma das melhores equipas da história dos encarnados. E foi já neste modelo misto Norte/Sul da Europa que, no jogo a seguir à vitória em Sevilha, o Benfica recebeu e despachou com 8-0 o Varzim, treinado então pelo saudoso José Torres. Faltavam ainda quatro anos para o Mundial do México, mas os adeptos do Benfica passaram a dizer «deixem-nos sonhar…»
TENTAÇÃO ROMANA
Eriksson assinou o primeiro contrato com o Benfica, com a validade de dois anos, de 1982 a 1984. Porém, depois da fama ganha ao vencer a Taça UEFA com o Gotemburgo, a que somou nova final, no ano seguinte, ao serviço do Benfica, e ainda dois Campeonatos Nacionais e uma Taça de Portugal, a sua cotação subiu em flecha e Fernando Martins, apercebendo-se da situação, quis renovar-lhe o vínculo. Mas essa tarefa ficou muito complicada ainda na primeira temporada do sueco ao serviço do clube da Luz, depois de o Benfica ter eliminado a Roma de Falcão e Conti, que se sagraria campeã de Itália, rubricando no Estádio Olímpico da cidade eterna uma das melhores exibições da sua história europeia. O dono da Roma, o comendador Dino Viola, ficou com Eriksson debaixo de olho e viu nele a pessoa certa para suceder ao veterano, também sueco, Nils Liedholm, que em 1983/84 levou os giallorossi à final da Taça dos Campeões Europeus.
Assim, no início de 1984, começaram contactos informais entre Dino Viola e Bjorn Lantz, empresário de Eriksson, que, ao mesmo tempo, mantinha negociações com o Benfica. O jovem sueco gostava de morar em Cascais, adorava o clima, tinha real admiração pelo clube de Cosme Damião, ao qual regressaria em 1989, mas a tentação romana era cada vez mais forte. A Roma oferecia-lhe não só muito mais dinheiro, mas também uma visibilidade que não estava ao alcance de nenhum clube nacional.
Estava este dilema em plena evolução quando, imediatamente antes do apito inicial de um jogo disputado na Luz a contar para o Campeonato Nacional, ouviu-se através dos altifalantes do estádio o anúncio formal, por parte do Benfica, da renovação de contrato com Sven-Goran Eriksson por mais dois anos. O Terceiro Anel levantou-se como uma mola a aplaudir, e Eriksson, que não tinha percebido nada, deixou-se ficar impávido e sereno no banco. Até que Toni lhe disse: «Acabaram de anunciar que renovaste contrato e os aplausos são para ti.» Eriksson, surpreendido, primeiro mudou de cor, depois fez menção de dizer qualquer coisa a Toni e, finalmente, inteligente como era, levantou-se e agradeceu timidamente a ovação, deixando claro na mente de todos que, de facto, tinha renovado. Mas não tinha. Fernando Martins, à altura, entregara um cheque de cinco mil contos a Eriksson, via Lantz, como prémio de assinatura (que o sueco nunca depositou) e dera o assunto por fechado. Mas o assunto Roma-Eriksson estava já muito adiantado, inclusivamente a mulher de Svenis já tinha ido a Roma escolher casa, e a partida para Itália era inevitável. Bjorn Lantz devolveu o cheque a Fernando Martins, Eriksson nunca assinou qualquer renovação com o Benfica e, durante muito tempo, o então presidente dos encarnados andou com esse cheque na carteira, que usava para demonstrar que tinha feito tudo para segurar Sven-Goran Eriksson…
UMA VIAGEM
Em termos pessoais, gostava de evocar apenas dois dos muitos episódios que vivi com Eriksson entre 1982 e 1984. Desde muito cedo ficou claro que, no que dizia respeito aos guarda-redes, havia uma hierarquia muito clara. Manuel Bento, que na época anterior não tinha tido uma boa prestação e que surgiu em 1982/83 em grande forma, era o titular, e eu era o suplente. Claro como água. Desde que estivesse em condições, o Bento era titular, e o meu papel era o de me manter em forma para, em caso de impossibilidade do titular, garantir que a baliza era bem defendida.
Numa viagem de regresso do Funchal, Eriksson veio sentar-se ao meu lado, o que não era, de todo, habitual, e pensei com os meus botões que aquilo trazia água no bico. Dito e feito. Ao longo da viagem, o treinador sueco, excelente psicólogo, disse-me que estava realmente satisfeito comigo e com o meu trabalho, garantiu que tinha total confiança em mim de cada vez eu que era chamado a jogar, mas que, infelizmente, o lugar de guarda-redes não era como os outros, em que era possível fazer adaptações, pelo que eu tinha de estar preparado para viver com aquela situação. Ouvi-o com atenção e nunca procurei interrompê-lo para argumentar fosse o que fosse. Quando Svennis terminou, perguntou-me o que achava, ao que lhe respondi: «Mister, nunca conheci nenhum treinador que não mandasse a jogo quem achava que tinha melhores condições de vencer. Não alinho em teorias da conspiração. Tenho sentido da sua parte consideração e respeito, gosto de trabalhar consigo e estou a ter oportunidade de, mesmo nesta situação de suplente a que não estou habituado (tinha feito 79 dos 90 jogos dos três campeonatos anteriores), viver uma experiência profissional extraordinária. Por isso, não se preocupe comigo, tenho a certeza de que irá continuar, goste eu ou não, a apostar em quem lhe dá mais garantias, e isso, para mim, é mais do que suficiente.»
Eriksson ficou deveras surpreendido com a minha resposta, estendeu-me a mão, cumprimentou-me, e disse-me: «Nunca nenhum jogador me falou como acabaste de fazer. Muito obrigado.»
E levantou-se e fez o resto da viagem no seu posto habitual, mais adiante no avião, ao lado de Toni.
BENFICA-RIO AVE
O segundo episódio ocorreu num Benfica-Rio Ave, já na parte final do Campeonato de 1982/83, quando o clube da Luz liderava a prova, com o FC Porto de José Maria Pedroto muito perto, a morder-lhe os calcanhares. Na altura (mudaria na época seguinte) aquecimento do guarda-redes titular era feito sobretudo pelo outro guarda-redes, que era ajudado pelos restantes suplentes quando se tratava de cruzar ou rematar de fora da área. Estava tudo a correr dentro da mais absoluta normalidade quando, pouco tempo antes de os jogadores recolherem à cabina para vestirem as camisolas de jogo e receberem os últimos conselhos da equipa técnica, quando o Zé Luís cruzou uma bola da direita, para uma zona entre a entrada da grande área e a marca de penálti, que eu cabeceei com força para a baliza. Porém, precisamente na altura do cruzamento, e quando eu já só tinha olhos para a bola, o Manuel Bento resolveu arranjar a pala de uma das chuteiras e desfocou-se do lance. Quando voltou a olhar em frente, já eu tinha cabeceado, e era tarde demais para corrigir fosse o que fosse. A bola acertou-lhe em cheio na cara e, de imediato Bento levou as mãos à cara. Aproximei-me, disse-lhe que se deixasse de fitas, mas quando o Manel tirou as mãos, com as luvas calçadas, do rosto, jorrava-lhe um mar de sangue do nariz. Foi a minha vez de ficar sem pinga de sangue, porque involuntariamente tinha estado metido no olho daquele furacão. Faltava cerca de um quarto de hora para começar o jogo e recolhemos, ambos, em passo de corrida, à cabina, sendo seguidos por Eriksson e Toni, que se tinham apercebido de que algo não corria bem. No posto médico, Manuel Bento foi visto pelo Dr. Amílcar Miranda e pelo massagista Hamilton Marques da Pena e o diagnóstico não podia ser mais claro: nariz partido, Bento não tinha qualquer
hipótese de jogar. Pedi a camisola número um ao José Luís, o nosso roupeiro (hoje diz-se técnico de equipamentos), e preparei-me para o que se seguia, entre o nervosismo próprio de um jogo e a angústia provocada pelas circunstâncias em que iria atuar.
O que fez ou disse Eriksson durante este processo anómalo e dramático? Nada, manteve uma calma olímpica que provavelmente disfarçava um turbilhão de emoções, antes de um jogo tão importante. Quando o resto da equipa chegou ao balneário, instalou-se um silêncio, até Eriksson dizer as palavras do costume: «Mantenham a equipa junta, pressionem a meio do meio-campo do adversário, usem as diagonais ou troquem a bola e boa sorte.» Sobre o que acontecera com Bento, nem uma palavra. Dos meus companheiros recebi incentivos, «pensa só no jogo…», e de Sven-Goran Eriksson, sobretudo interessado em não me colocar sob uma maior pressão, apenas ouvi três palavras, ditas no início das escadas descendentes, que levavam a uma zona plana, a que se seguia a escadaria que desembocava no relvado: «Keep the zero. (mantém o zero)»
O jogo foi muito complicado, o Rio Ave defendeu-se com unhas e dentes e contra-atacou sempre com perigo, e a minha angústia durou 90 minutos, os mais difíceis, à légua, de uma carreira profissional de 15 anos. O 0-0 final diz bem das dificuldades que encontrámos. No final, Eriksson ainda foi mais parco em palavras, cumprimentando-me e dizendo-me «well done (muito bem)»
E Manuel Galrinho Bento? Voltou a ficar de fora no jogo seguinte (vitória por 3-1 na Amora), regressando à titularidade no 1-1 de Craiova, que foi passaporte para a final da Taça UEFA. Dele nunca ouvi uma censura, uma palavra de recriminação, passou o tempo a dizer-me que eu não tivera culpa de nada.
Perguntam-me porque é que mantivemos sempre uma relação excelente, numa situação de grande rivalidade (o penúltimo jogo em que estive antes de ingressar no Benfica foi num Brasil-Portugal, em São Luís do Maranhão, em que eu e o Manel fomos os guarda-redes convocados pelo selecionador Júlio Cernadas Pereira, Juca)? Por esta e por outras…
A HOMENAGEM DO BENFICA
Em 1982, numa viagem de comboio do Benfica para o Porto, fiquei no mesmo privado, que dava para seis passageiros, com o Humberto Coelho, capitão e líder da equipa orientada por Sven-Goran Eriksson. Nas mais de três horas do trajeto, Humberto, que tinha o estatuto que tinha, internacional, multicampeão, vedeta no PSG e integrante da Seleção do Resto do Mundo, disse uma coisa que recordei durante os vários passos da homenagem do Benfica a Eriksson realizada a 11 de abril de 2024: «O melhor que levamos desta vida de profissionais de futebol são as emoções que vivemos, e que não estão ao alcance, com a intensidade com que as sentimos, de qualquer um.» Matutei naquilo, senti o que a adrenalina de entrar num campo com 70 mil adeptos para um jogo decisivo nos fazia, antes, durante e depois da partida, penei na montanha-russa de alegrias e tristezas que a vida a jogar um jogo nos traz, e pensei para com os meus botões: «Este gajo não é nada parvo, o que acabou de dizer vai para além da espuma dos tempos, e chega ao âmago da questão, no fim do dia o que levamos da vida são as sensações e os sentimentos.»
SOLIDARIEDADE
Saudosismo à parte, no futebol do meu tempo, porque as equipas não mudavam de seis em seis meses, criavam-se elos fortes e duradouros entre jogadores e técnicos, que resistiram a tudo. A tudo, a rivalidades, inimizades, amuos, birras, zangas, momentos de alegria, partilha e comunhão, que blindaram gerações. E é por aí que se explica por que razão, 40 anos depois de Eriksson ter sido bicampeão nacional com o Benfica, na hora em que o clube convidou os seus jogadores dessa altura a associarem-se à homenagem ao treinador sueco, quase todos terem dito presente. Quatro desses compagnons de route de 1982/84 — Bento, Frederico, Chalana e Pietra — já não estavam entre nós. Mas dos 21 campeões nacionais de 1982/83, apenas César, no Brasil, Stromberg, na Suécia, Nené, por razões de saúde, e José Luís, por razões ponderosas pessoais, estiveram ausentes. Eu, Veloso, Humberto Coelho, António Bastos Lopes, Álvaro, Carlos Manuel, Shéu, João Alves, Diamantino, Filipovic, Padinha, Carlos Pereira e Alberto Bastos Lopes marcámos presença, honrando o passado, honrando Eriksson, e fizemos questão de nos associarmos ao arrepiante tributo que o Estádio da Luz prestou ao técnico sueco. E da época seguinte ainda se juntou Michael Manniche, que se deslocou propositadamente da Dinamarca.
Da geração que se seguiu, na segunda passagem de Eriksson pelo Benfica, que se sagrou campeã em 1990/91 e foi à final da Champions em 1989/90, marcaram presença Valdo, Vítor Paneira, César Brito, Rui Águas, William, Valido, Kenedy, Dias Graça, José Carlos e Paulo Madeira. Se isto não é coesão e sentido de pertença a um grupo, nada o será. Com um denominador comum: Sven-Goran Eriksson.
O que a seguir se escreverá traduz o que aconteceu, entre as 17 horas e as 22 de 11 de abril de 2024, na homenagem a Eriksson vivida por quem teve o privilégio de poder agradecer ao técnico sueco tudo o que fez por cada um.
Participante dos factos, na qualidade de ex-jogador de Svenis não me sentiria à vontade para trazer a público alguns episódios, sem ter o conforto dos líderes do grupo. Falei com Shéu, que não viu nenhum problema, e também com Humberto Coelho, o grande capitão, que me disse: «Escreve à vontade, porque quanto mais pessoas tiverem contacto com o que está a acontecer, melhor. É preciso que saibam o que estes momentos significaram.» Pois, aqui vai.
Sven-Goran Eriksson, 76 anos, anunciou ao mundo, em janeiro de 2024, que não deveria ter mais do que um ano de vida, consequência de um cancro no pâncreas, terminal. Foi um ato público de uma pessoa extremamente reservada, que foi educada no preconceito de não deixar transparecer emoções. Ainda na Luz, antes da ida até ao hotel onde nos encontrámos com Eriksson, falámos da cara de póquer do sueco, acontecesse o que acontecesse, apenas traído por uma coisa, só percetível para quem o conhecia bem. Nos momentos de irritação, apesar da cara inexpressiva, começava a corar, a começar no queixo e a acabar na testa, sinal de que estava a ferver por dentro, ao mesmo tempo que procurava manter o ar mais cool possível, por fora.
Perante a brutalidade dos factos, Eriksson saiu a terreiro e decidiu aproveitar o tempo que lhe restava para regressar a locais onde foi feliz. E uma coisa garanto: Sven-Goran Eriksson, na quinta-feira da homenagem, apesar de tudo, viveu um dia de felicidade, uma felicidade transbordante, despida de pruridos emocionais, com os olhos a rirem-se para quem o indicou como símbolo inspirador e fator de mudança de vida. Vindo do frio nórdico, Eriksson derreteu-se perante a torrente de afetos de que foi alvo e, bem depois de o Benfica-Marselha desse dia ter terminado, um jogo para os quartos de final da Liga Europa, continuou no espaço VIP do camarote presidencial, sem nenhuma pressa de ir para o hotel, disponível para fotos e para mais um e outro dedo de conversa.
A SURPRESA
Antes de entrar na cronologia dos factos, será bom que o leitor fique com esta imagem, que traduz com fidelidade absoluta tudo o que se passou: Eriksson transbordou de felicidade, e a felicidade de quem pôde estar com ele não foi menor. Desta conjugação, resultou um ambiente caloroso, de que, para já, destapo um a ponta: Svenis foi apanhado de surpresa pela entrada de mais de vinte dos seus ex-jogadores, todos com a camisola do Benfica vestida, na sala do hotel Corinthia, a Sete Rios, em Lisboa, onde estava instalado. Um a um, cumprimentou-os, reconhecendo alguns — décadas se passaram — com a ajuda de Toni, e, de repente, sem que houvesse qualquer combinação, os seus antigos pupilos tributaram-lhe uma salva de palmas, espontânea, que se prolongou por longos minutos, até levar Eriksson às lágrimas. Eriksson e não só. Foi um momento de ternura, de partilha e comunhão, que apagou os medos que assaltavam alguns jogadores quanto ao estado de alma do ex-técnico. Sven-Goran Eriksson, que estava informado apenas para a homenagem pública de que iria ser alvo no estádio da Luz, exibiu a sua faceta mais latina perante os aplausos de quem com ele conviveu vários anos.
Vou contar detalhadamente como decorreu esse 10 de abril de 2024: o Benfica convidou os jogadores que trabalharam com Eriksson, nas duas passagens pela Luz, a associarem-se à homenagem, partilhando alguns detalhes da operação e explicando que o parque 2 do estádio, junto à porta 1, seria ponto de encontro e de saída. A partir das cinco da tarde dessa quinta-feira, um a um, os ex-pupilos de Eriksson foram chegando, com alguns reencontros paralelos a sucederem-se entre quem não se via há décadas. Eram duas gerações de futebolistas, que representavam três títulos nacionais e duas presenças em finais europeias, que tinham em António Veloso o único a conquistar os três campeonatos com Eriksson. Ainda na Luz, Paulo Madeira fez uma videochamada com Silvino Louro, que estava em Marrocos, mas que dessa forma teve oportunidade de saudar os companheiros e de lhes desejar uma boa jornada. Durante a viagem do estádio até ao Hotel Corinthia, o programa foi apresentado por quem organizou o evento: foram distribuídas camisolas a todos os ex-jogadores, que dentro do autocarro as vestiram. No hotel, onde se reuniu ao grupo Michael Manniche, foi-nos dito que Eriksson, que falava, no último piso, para a BTV, não fazia ideia de que iríamos visitá-lo. Assim, em silêncio, como em qualquer boa operação furtiva, a comitiva vinda da Luz subiu nos elevadores e foi encaminhada, sempre de sussurro em sussurro, para uma sala, onde aguardou pelo momento do reencontro.
Com Toni — que jantara na véspera com Eriksson e mantém com o técnico sueco uma relação quase familiar — e Humberto Coelho à frente, entrámos na sala e só ver a cara de espanto, e ao mesmo tempo de satisfação, de Sven-Goran Eriksson, valeu o dia. Um a um, os ex-jogadores cumprimentaram o mister, que para cada um teve uma palavra especial: por exemplo, não reconheceu à primeira César Brito — que vive no Barco, perto da Covilhã, e, apesar de ter mais quilos e menos cabelo, mantém um invejável ar de saúde! —, mas rapidamente chegou lá e disse: «César, aqueles dez minutos nas Antas valeram o Campeonato!» Depois, o que aconteceu, por nada ter sido combinado previamente, foi mágico: de repente, todos os presentes tributaram uma muito audível e prolongada salva de palmas a Eriksson que, com lágrimas, agradeceu de mãos cruzadas sobre o coração. Qual cara de póquer, qual quê! Svenis deu-se às emoções, recebeu e partilhou, e foi de sorriso rasgado que aceitou de Toni a braçadeira de treinador, que orgulhosamente colocou no antebraço esquerdo. Depois, foi Humberto a falar em nome do grupo, enfatizando a importância que Eriksson tivera na vida de cada um de nós, sendo a razão profunda da nossa presença naquele hotel a necessidade que sentíamos de lhe dizer «muito obrigado.» A seguir, Sven-Goran Eriksson agradeceu o tributo, usando, tanto quanto possível, o português como língua. «Guardo este momento para o resto da minha vida», disse. Com o ambiente a ficar perigosamente sentimental para todos, quando o que se queria era fazer a festa de uma vida, Toni, naquele estilo sentimentalão — que teve no grande amigo Humberto Coelho, que por sua vez deixou de lado a faceta institucional de vice-presidente da FPF que lhe era devida, e esteve sempre de rosto iluminado, como se tivesse acabado de fazer um hole in one — um parceiro à altura, e lançou o repto a Eriksson: «Mister, temos ali um quadro, há jogo daqui a pouco, e temos de fazer a equipa.» Gargalhada geral. Toni, de marcador em punho, foi escrevendo o onze inicial ditado por Eriksson, pelo próprio Toni e pelos próprios jogadores. Esta escolha, começou por onze, mas acabou com a titularidade para todos!
Foi então que Toni disse a Sven-Goran Eriksson que o treinador iria fazer a viagem para a Luz no autocarro, com a equipa, no seu lugar de sempre, na fila da frente, ao lado de Toni e Humberto Coelho. O novo autocarro do Benfica tem dois lugares num dos lados e um no outro, pelo que a primeira fila ficou assim preenchida. Quando Eriksson treinou pela primeira vez os encarnados, havia duas filas de duas cadeiras, e o quarto lugar da frente, ao lado de Humberto, pertencia a Manuel Galrinho Bento (e ai de quem quisesse sentar-se lá!), que foi recordado, assim como Pietra e Pacheco, recentemente falecidos, ou Frederico, Chalana, Neno, Eusébio e Fernando Caiado, que já não estão entre nós, e fizeram parte do percurso benfiquista de Eriksson.
Na viagem para a Luz, feita com batedores da PSP a afastar o trânsito da hora de ponta (e muita gente deverá ter pensado que a equipa ia chegar atrasada ao jogo com o Marselha…), nova troca de equipamento — desta feita saíram as camisolas do Benfica e entraram as camisas e os casacos — e valerá a pena referir uma tirada genial de Valdo que, já perto do estádio, disse: «Olha, olha, acabaram de me gritar “Força, Florentino!”»…
Na zona contígua ao camarote presidencial, onde Eriksson chegou vinte minutos antes do kick-off do Benfica-Marselha, estava a aguardá-lo João Alves, que fez em 1982/83 uma dupla-maravilha com Shéu-Han, e não quis faltar à homenagem ao mister. Mas, como se o tempo tivesse voltado para trás, as brincadeiras de há 40 anos regressaram, e Toni aproveitou para dizer ao luvas-pretas, na presença de Svenis: «Vá lá, João, pergunta agora ao mister porque é que não foste titular em Bruxelas, na primeira mão da final da Taça UEFA…» Antes mesmo de Alves ter possibilidade de dizer que isso eram águas passadas, Eriksson fez gala do seu finíssimo sentido de humor, e foi lesto na resposta: «O Alves não jogou, porque o Toni me disse para não o meter…» Gargalhada geral, perante a resposta que desarmou tudo e todos. Depois, numa conversa a três em que estive com Alves e Eriksson, o luvas-pretas, um dos melhores médios da história do nosso futebol, disse ao técnico sueco, já muito a sério: «O Delgado deu-me, quando fui entrevistado para a A Bola TV, uma fotografia de Craiova em que estou a falar consigo e com o doutor Amílcar Miranda, depois de um teste que deu negativo e determinou que não jogasse essa meia-final. Como sabe, depois de deixar de jogar, fui treinador durante muitos anos, e aprendi aquilo que muitas vezes os jogadores não querem ver: não há treinador nenhum que não mande a jogo quem lhe dá mais garantias de vencer.»
Antes de nos dirigirmos aos nossos lugares, um aviso dos organizadores do evento: aos 35 minutos tínhamos de abandonar o palco para nos prepararmos para a cerimónia de homenagem, que ocorreria no relvado, ao intervalo. Assim foi, nova troca de roupa, camisola do Benfica vestida, aguardámos junto à entrada lateral norte pelo fim da primeira parte, para pisar o relvado e fazer guarda de honra a Sven-Goran Eriksson, que entraria em campo, acompanhado por Rui Costa, Toni e Humberto, pela zona central. Depois de cada ex-jogador ser individualmente apresentado ao público, Eriksson entrou e voltou a cumprimentar, um a um, os antigos pupilos. Tive oportunidade de estar em duas conquistas de títulos nacionais e de uma Taça de Portugal com Eriksson, e garanto que, apesar do drama envolvente que por vezes se esqueceu no meio do turbilhão de emoções para onde fomos atirados, nunca vi Svenis tão transbordante de alegria, tão sem pruridos de chorar e de dizer ao estádio da Luz — que durante os 15 minutos da homenagem foi um verdadeiro inferno — que estava a chorar. E não eram lágrimas de tristeza. Era difícil imaginar, para qualquer um, a começar pelo treinador sueco, que a homenagem do Benfica atingisse aquele pico emocional, que contagiou toda a gente, dentro e fora do estádio.
Feita a foto de família, que já tinha sido ensaiada no hotel, ainda sem João Alves, nova troca de roupa e, já à civil, assistiu-se no camarote à segunda parte do Benfica-Marselha. Mas, francamente, confesso que estava mais interessado na terceira parte, quando iríamos dizer «até sempre» a Eriksson, que sempre de sorriso no rosto e disponível para fotos e selfies, ia comendo alguma coisa enquanto beberricava de uma flute de champanhe. Um a um, os ex-jogadores despediram-se do mister e foram à sua vida. Mais ricos, depois de terem vivido uma das noites mais emocionantes das suas carreiras. Obrigado, Svenis.