EURO 2024 Suíça: o guia
Guia da seleção da Suíça escrito por Lucas Werder, Sebastian Wendel e Christian Finkbeiner para o Blick
Expectativas
A atual seleção suíça é a mais bem-sucedida da história do país. A geração dos vencedores do mundial Sub-17 de 2009 chegou aos ‘oitavos’ nas últimas cinco grandes provas, algo apenas igualado pela França. O golpe de misericórdia veio no EURO 2021, forçando a França ao prolongamento nos ‘oitavos’, depois de estarem a perder por 3-1, e depois venceram nos penáltis graças à brilhante defesa de Yann Sommer a Kylian Mbappé. Também não houve grandes erros na exibição seguinte frente à Espanha, mas, nessa, perderam nos penáltis.
As eliminatórias para o EURO 2024 não foram tão boas. Depois de um início muito bom, a equipa entrou numa crise de resultados no outono, naquele que era, teoricamente, provavelmente o grupo mais fraco. Nos últimos oito jogos, à data da escrita deste artigo, a Suíça só conseguiu ganhar a Andorra. O selecionador Murat Yakin foi criticado e, internamente, pode ter o lugar em aberto.
Em setembro, o capitão Granit Xhaka criticou publicamente o treinador e a federação, o que levou a uma discussão entre o médio e Yakin. A situação chegou ao ponto de rutura depois dos resultados dececionantes contra a Bielorrússia (3-3), Israel (1-1), Kosovo (1-1) e Roménia (1-1) mas mesmo assim os helvéticos qualificaram-se em 2º lugar, atrás da Roménia, e a federação decidiu manter Yakin até ao EURO.
Na primavera, porém, houve mudanças: Giorgio Contini, que já havia trabalhado como treinador no campeonato suíço durante vários anos, foi nomeado como novo adjunto e braço direito. Yakin mudou o sistema nos amigáveis contra a Dinamarca (0-0) e a República da Irlanda (1-0), e passou a jogar com uma linha defensiva a 3. É esperado que a Suíça jogue com este sistema este verão.
O objetivo da Suíça é, pelo menos, o de passar a fase de grupos. É difícil dizer se é possível chegar mais longe. As opiniões divergem. Alguns acreditam que a Suíça pode conseguir mais e até chegar às meias-finais, enquanto outros esperam que o torneio encerre para eles após a fase de grupos.
Os nomes mais sonantes como Xhaka, Yann Sommer e Manuel Akanji chegam ao torneio com muita confiança depois de épocas ao mais alto nível nos seus clubes, mas alguns jogadores, especialmente os mais jovens, não têm estado em momentos de forma tão positivos.
O principal problema está no ataque. A Suíça não tem avançados de topo e Breel Embolo, «indispensável» segundo Yakin, sofreu uma lesão na coxa semanas após ter regressado de uma rotura do ligamento cruzado. Tal como Denis Zakaria, é pouco provável que esteja totalmente apto para o início do EURO. Além disso, Xherdan Shaqiri, o mais importante jogador do ataque helvético nos últimos anos, está a jogar na MLS há dois anos.
O selecionador
Murat Yakin é considerado um excelente analista tático e o seu ponto forte é a capacidade de organizar a equipa defensivamente de forma perfeita contra adversários teoricamente superiores. Yakin é o único selecionador a ganhar por duas vezes a uma equipa treinada por José Mourinho na fase de grupos da Liga dos Campeões. Entre os seus maiores sucessos como treinador estão a subida de divisão com o FC Thun e, depois, dois títulos de campeão com o Basileia, bem como os ‘quartos’ e meias-finais da Liga Europa. Tal como aconteceu como jogador (49 internacionalizações pela Suíça), Yakin tem a reputação de não aproveitar ao máximo as oportunidades como selecionador. No inverno passado foi muito criticado pelo facto de a Suíça só se ter qualificado para o EURO por estar enquadrada num grupo fraco. O contrato com a federação termina após o EURO – o futuro está em aberto.
O ícone
Granit Xhaka acaba de fazer a temporada da sua vida: recordista de jogos pela Suíça e capitão influente. Muitos achavam que a sua transferência do Arsenal para o Leverkusen no verão passado era um passo abaixo, mas o quão errados estavam. Apesar de ter feito a sua época de estreia, Xhaka tornou-se no líder do Leverkusen que conquistou a Bundesliga pela primeira vez, e permanecendo invictos nessa campanha. «Não estou a ficar mais novo, mas também não estou a ficar mais velho», disse Xhaka, em fevereiro.
O que sempre o caracterizou foi o facto de pensar em grande e não ter receio de dizer o que realmente pensa. Antes do Mundial sub-17, em 2009, disse que a Suíça chegaria à final. Poucas semanas depois sagraram-se campeões mundiais de forma sensacional. O então selecionador, Dani Ryser, disse no outono: «O Granit teve um desenvolvimento tardio, fisicamente não se desenvolveu tanto como os outros. Mas o seu talento não podia ser ignorado e ele tinha uma vontade incrível e uma ambição gigante. Em todos os treinos via-se que era alguém que queria melhorar diariamente». O seu irmão mais velho, Taulant, que joga no Basileia, diz: «No que toca ao futebol ele é louco. Ele olha para tudo. Dieta, bebidas, horas de descanso e sono. Até contratou um treinador pessoal. Ele faz de tudo para ter sucesso.»
Para ter debaixo de olho
Nenhum outro suíço tem a velocidade de Dan Ndoye. O extremo do Bologna tem a habilidade de causar problemas a qualquer defesa com a sua velocidade. Embora só se tenha tornado uma presença regular na seleção no outono, ganhou um lugar como titular na primavera graças aos ajustes do novo sistema. O jogador de 23 anos tornou-se de imediato num jogador-chave no seu clube depois da transferência do Basileia, ajudando o surpreendente Bologna a qualificar-se para a próxima edição da Liga dos Campeões.
Espírito rebelde
Xherdan Shaqiri tem deliciado os adeptos suíços desde há 14 anos. É improvável que continue na seleção após o torneio e vai querer despedir-se em grande. Derivado da falta de opções ofensivas, muito vai depender do jogador que agora atua no Chicago Fire da MLS. Se a Suíça for bem-sucedida na Alemanha, Shaqiri será chave – é o único jogador que pode decidir um jogo a partir do nada. Embora o seu pé esquerdo ainda seja mágico, muito vai depender da sua motivação e forma física – se ‘Shaq attack’ não estiver feliz a Suíça vai sentir que joga com um a menos.
A espinha dorsal
Yakin decidiu-se cedo por Yann Sommer do Inter na baliza, embora muitos considerem Kobel, do Dortmund, tão bom ou até melhor. Manuel Akanji, que se afirmou no Manchester City e ganhou vários títulos e pode jogar em várias posições durante o mesmo jogo, é o líder da defesa. O patrão do meio-campo defensivo é Granit Xhaka, o capitão e pacemaker. Breel Embolo pode ser o escolhido para a frente de ataque, mas o jovem do Mónaco sofreu uma lesão na coxa poucas semanas depois do seu regresso (após uma rotura de ligamentos) e é improvável que esteja a 100% aquando do início da prova. Está para ver quem o irá substituir. O candidato mais provável é Zeki Amdouni, do despromovido Burnley, embora que recentemente não esteja em grande forma.
Onze provável
Suíça – 3-5-2 – Sommer -– Schär, Akanji, Rodriguez – Widmer, Freuler, Xhaka, Sierro (Zakaria), Ndoye – Shaqiri, Amdouni (Embolo).
Adepto famoso
Não é segredo que Roger Federer é um ávido adepto do clube da sua cidade, Basileia. Claro, o maior desportista suíço da história também está a torcer pela sua seleção. Em maio de 2022 o aposentado tenista visitou Murat Yakin e a comitiva da Suíça num estágio em Bad Ragaz – e teve de tirar fotografias com todos os jogadores. Federer, de 42 anos, também apareceu no hotel da seleção, em março, antes do jogo de qualificação frente a Israel. Depois, viu a vitória por 3-0 das bancadas.
Petisco
Pratos clássicos da Suíça como o fondue ou raclette são muito fortes em queijo e são mais apropriados no inverno. No que toca a futebol, os suíços tendem a ir mais para as salsichas grelhadas. A salsicha nacional é a ‘Cervelat’, uma salsicha cozida, mas as clássicas também são muito populares. Contudo, há certas regras. No este suíço é um pecado mortal comer salsichas com mostarda. No estádio, a salsicha é frequentemente servida no pão e, em casa ou no jardim, com várias saladas ou batatas fritas.