Sporting: os segredos de Amorim
Treinador dos leões abriu o livro: centrais rápidos, organização ofensiva e o que há a melhor; contratações que pegaram de estaca e o que está para vir; época de recordes batidos
Em quatro épocas no Sporting, Rúben Amorim conduziu a equipa à conquista de dois campeonatos, duas Taças da Liga e uma Supertaça. Mas, além dos troféus, o treinador, de 39 anos, conseguiu muito mais, principalmente esta temporada. Jornada após jornada, os leões foram igualando recordes e conquistando novos, fruto de uma simbiose perfeita entre equipa técnica e jogadores.
A uma jornada do final do campeonato, o Sporting já alcançou a sua melhor pontuação de sempre (tem 87 e o melhor registo era de 86; pode chegar aos 90 e ficar a um do recorde de 91 do FC Porto); soma 28 vitórias, o máximo de um conjunto leonino numa só edição da prova quando disputada por 18 equipas (o anterior era de 27, fixado em 2015/2016, podendo este leão alcançar as 29 que os dragões conseguiram em 94/95 e 21/22 e o Benfica em 15/16); tem 39 vitórias no somatório de todas as competições, sendo que ainda pode igualar ou ultrapassar o melhor registo (2017/2018); é detentor do melhor ataque da Liga, com 92 golos, aproximam-se dos 96 de 1973/1974, a última época mais concretizadora; Rúben Amorim entrou no restrito lote de treinadores bicampeões pelos leões (Joseph Szabo, Cândido de Oliveira e Randolph Galloway) e tornou-se no segundo com mais vitórias, com 147 (Szabo alcançou 236).
Amorim tem um estilo muito próprio de comunicar, descomplexado, sem reticências em revelar pormenores da equipa, tal como aconteceu após a vitória frente ao Estoril (1-0), em que abriu o livro. Falou de centrais rápidos, organização ofensiva, o que há a melhorar defensivamente em 4x4x2, de contratações e até de saídas, em comparação com 2020/2021, última vez em que o Sporting tinha sido campeão.
«Melhorámos no ataque organizado, no primeiro ano éramos defensivamente muito bons, não passávamos muito tempo a trabalhar ataque organizado, agora temos nuances ofensivas. Temos centrais com capacidade de ter bola, recuperamos a bola mais rapidamente e somos muito mais rápidos na recuperação defensiva. Tirando Coates, temos Diomande, Quaresma, Inácio, Matheus Reis, são diferentes de Feddal e Neto, muda a forma de jogar.»
E foi mais longe na especificidade dos seus jogadores: «Tínhamos Matheus Nunes para ir com a bola para a frente, com Porro só atacávamos pela direita, adaptámos. Quando perdemos jogadores pensamos que é uma desgraça, mas adaptamos o modelo. Temos de ser mais completos no 4x4x2 a defender na próxima época. Adoro o Palhinha e o Ugarte, mas diria que o Hjulmand é o mais completo naquela posição. O Nuno Santos está aqui há quatro anos, é um jogador muito melhor. O Pote a mesma coisa. O Morita é hoje um jogador diferente.»
Alvalade foi o bastião
Amorim tem sido elogiado e o seu trabalho bastante reconhecido. Em declarações a A_BOLA, o treinador Vítor Manuel fez um leitura do que tem sido a chave do sucesso. «Tem conseguido fazer o melhor aproveitamento dos jogadores, com relação de grande cumplicidade, dando-lhes liberdade dentro de determinado conceito de jogo, que não é complexo, mas a verdade é que toda a gente conhece o jogo do Sporting, mas muito poucos conseguem contrariar», começou por dizer, realçando um aspeto que considera fulcral para o sucesso: «O Sporting foi campeão com todo o mérito, a grande arma foi não ter perdido pontos em casa, ao contrário dos adversários.»
Sporting é uma equipa de ataque organizado e posicional, não é equipa que se prolongue muito tempo com posse no último terço, é muito rápida nas decisões no ataque organizado e posicional — ao contrário do City que muitas vezes se torna aborrecida.
Vítor Manuel destacou, ainda, as peças que fortaleceram o plantel: «A continuidade ajuda ao sucesso, mas o Sporting ganhou com a introdução de um ou outro elemento e, nesse aspeto, as contratações de Hjulmand e Gyokeres foram cirúrgicas. Fresneda tem potencial muito grande, tem vindo a ser trabalhado e preparado no sentido de conhecer melhor o sistema de jogo e as dinâmicas e, se calhar, vamos ficar de boca aberta com ele. Não esquecendo das oportunidades que têm sido proporcionadas, como é o exemplo de Geny Catamo, que foi trabalhado, está muito melhor preparado e ainda pode acrescentar muito mais.»
O treinador elogiou o crescimento dos leões e até comparou o jogo do Sporting de Amorim ao City: «Uma equipa que marca muitos golos, mas não é uma equipa de contra-ataque, é, em determinados momentos, uma equipa de ataque organizado e posicional, não é equipa que se prolongue muito tempo com posse no último terço, é muito rápida nas decisões no ataque organizado e posicional — ao contrário do City que muitas vezes se torna aborrecida. Em 4x4x2, 3x5x2 ou 3x1x6, o Sporting ataca com muita gente na frente, graças à mobilidade e variedade que os jogadores têm.»