O que os treinadores pensam do novo sistema (e ideia) de Amorim
Rúben Amorim prepara-se para tentar conquistar o terceiro troféu de campeão nacional ao serviço do Sporting. Foto: Miguel Nunes

O que os treinadores pensam do novo sistema (e ideia) de Amorim

NACIONAL06.08.202421:52

Técnico dos leões prometeu e… cumpriu: há um novo leão a nascer em Alvalade, não só com caras novas, mas na forma como este se apresenta em campo. O consistente 3x4x3 dá sinais de uma transformação para um 4x4x2 e A BOLA, a poucos dias do arranque da Liga, foi ouvir alguns treinadores sobre esta nova aposta…

O Estádio José Alvalade está pronto para receber o Rio Ave na próxima sexta-feira, 9 de agosto, data que marca o início da defesa do título por parte dos campeões nacionais. Mas estarão os leões prontos para defender esse mesmo título?

A três dias do início do campeonato, muitas são as dúvidas que pairam sobre o conjunto treinado por Rúben Amorim. A derrota contra o FC Porto na Supertaça, após o Sporting permitir uma reviravolta com quatro golos azuis e brancos, fez soar alguns alarmes na segunda circular e trouxe à tona algumas questões estruturais sobre o plantel leonino.

A (estranha?) aposta da equipa técnica num aparente novo sistema, o 4x4x2, parece, até agora, contraproducente, especialmente quando comparado o fiel e consistente 3x4x3 que o técnico habituou os adeptos leoninos. O Sporting caracterizou-se, nos últimos anos, por uma excelente organização defensiva com uma linha de três relativamente subida no campo, aproveitando a velocidade dos alas a surgir junto à linha, com os médios a estancar o meio-campo e a libertar os criativos da frente para fazerem o que melhor sabem: golos. Embora a nova tática tenha torcido alguns narizes, ainda será cedo para avaliar definitivamente o que Rúben Amorim pretende. Terá a saída de Coates, que era o líder da defesa, forçado o treinador português a adaptar a forma da equipa jogar?

Por outro lado, Kovacevic e Debast são, para já, os únicos reforços a chegar a Alvalade. Apesar do receio da saída de Gyokeres até ao fecho do mercado em Portugal, a 2 de setembro, os adeptos esperavam ver caras novas por Alvalade, com destaque para Ioannidis. Ainda assim, questionado sobre o mercado na antevisão contra o jogo do FC Porto, Rúben Amorim frisou que «todos os planteis têm lacunas» e que «entre o incerto e o certo escolhia o certo, que é fechar já o mercado».

Um dia antes, havia também elogiado, aos meios de comunicação do Sporting, o trabalho da formação leonina: «[Os jogadores da formação] chegam já num patamar físico onde não sentem [a diferença] e depois damos estas nuances que eles já tiveram, de excelentes treinadores que tiveram. E, portanto, isso cada vez mais ajuda-nos a manter alguns jogadores e a não ter de ir buscar sempre muitos jogadores todos os anos, porque temos talento em casa.»

Para já, a aposta numa nova tática e a ausência de nomes sonantes para reforçar o plantel são uma realidade. Os próximos dias dirão se este cenário trará consequências para a defesa do título de campeão nacional e para o ataque à Liga dos Campeões. Mas nunca se poderá descartar este Sporting. ‘E se corre bem?’

Paulo Alves

Paulo Alves, antigo jogador de futebol que passou pelo Sporting e atualmente treinador. Na fotografia como treinador do Moreirense em 2023. Foto: Paulo Santos

Antigo ponta de lança dos leões — somou 30 golos e cinco assistências entre 1995 e 1998 — e atualmente treinador, Paulo Alves considera que a mudança tática dos verdes e brancos «terá um pouco a ver com os jogadores que Rúben tem à disposição e com a análise que faz relativamente ao treino e como os jogadores se ajustam melhor». Para o técnico de 54 anos, «a mudança pode parecer estranha, dado os bons resultados que o Sporting tem tido com o 3x4x3», mas frisa que «os treinadores observam, veem as características dos jogadores e tentam ajustá-las ao sistema que potenciará melhor os jogadores.»

Paulo Alves durante um jogo entre Sporting e SC Braga. Foto: ASF/PRESS PHOTO AGENCY

Alves sublinha que «ainda é cedo para tirar conclusões» sobre a aposta neste sistema. «Este jogo da Supertaça teve situações boas e outras muito más, mas não é um fator para compreendermos tudo já na forma mais objetiva e clara possível. Vamos ver como o Rúben adapta estes jogadores novos que tem, alguns também que eventualmente poderão melhorar em função de outro posicionamento, mas isso só o futuro dirá», acrescentou.

Questionado se o plantel está mais forte com as adições de Debast e Kovacevic ou se ainda falta algo mais, o antigo avançado leonino refere que «falta obviamente outro avançado». E explica: «Sporting não pode depender exclusivamente de Gyokeres. Rodrigo Ribeiro e Rafael Nel, apesar de boas indicações, penso que para o que o Sporting precisa nesta altura ainda é muito curto, ainda não terão a maturidade exigida.»

Sobre as caras novas, considera que «não deram bons sinais» e que não lhe pareceu que tenham «criado impacto rápido na equipa», mas pede água na fervura: «Não podemos julgá-los só por este primeiro embate, temos de aguardar. Vai ser muito difícil substituir Coates e Paulinho, jogadores que foram referências nos últimos tempos. Se os nomes que chegaram o vão conseguir? Só o tempo dirá.»

Augusto Inácio

Augusto Inácio nas instalações de A BOLA TV. Foto: André Alves

Também Augusto Inácio considera que ainda é muito cedo para tirar conclusões sobre as escolhas ou mudanças táticas de Rúben Amorim, saindo em defesa do mesmo: «É ele quem trabalha com os jogadores todos os dias, quer colocar nuances diferentes. É preciso ter em conta que Matheus Reis e Nuno Santos não puderam jogar, se calhar quis mexer por causa disso.»

«Há ainda várias coisas a ser trabalhadas, não sei se no futuro vai ser assim ou não», acrescentou o treinador de 69 anos, que foi campeão como técnico pelo Sporting em 1999/2000 , sublinhando que «não deu para ficar com certezas neste jogo com o FC Porto porque faltavam jogadores importantes». Deixou a dúvida sobre o sistema escolhido no ar: «É uma aposta sustentada e para continuar, ou resultou da falta de jogadores?»

Augusto Inácio treinou o Sporting em 1999/2000, tendo defendido as cores do clube como jogador na equipa principal durante oito épocas. Foto: ASF/PRESS PHOTO AGENCY

À semelhança de Paulo Alves, também Augusto Inácio considera que «pode ser complicado com um avançado só», especialmente se Rúben quiser jogar com dois homens adiantados no centro do terreno. «Paulinho não está, Ioannidis não chega, só com Ribeiro e Nel é curto para a zona central», considerou, antes de se referir às restantes secções: «Nas alas as coisas estão compostas, mas falta alguma liderança na defesa. Não me pareceu que Debast fosse aquele líder e referência na defesa.»

Sobre o impacto dos novos jogadores, o antigo defesa manifestou dúvidas, mas prefere esperar para tirar conclusões. «Saíram Adán, Neto e Coates, três jogadores importantes dentro do balneário que fazem falta, principalmente pela liderança», começou por frisar, antes de se referir concretamente aos reforços.

«Gostei mais do Kovacevic quando jogou pelo Rakow contra o Sporting do que agora, mas também pode ser pela adaptação. Não me parece que já tenha agarrado a titularidade, Israel também vai lutar para ser titular. Quanto a Debast, tem apenas 20 anos, tem bom passe, é calmo demais dentro da área e na pressão, às vezes pode colocar em perigo a sua baliza. Teve lances em que demonstrou fragilidade, mas foi só um jogo, pode ter sido um acidente de percurso. Vamos dar tempo ao tempo para ter uma opinião mais formada daqui para a frente», concluiu.