Sporting: folga é vitamina para mais uma rajada de três jogos
Sporting em treino (Sporting CP)

Sporting: folga é vitamina para mais uma rajada de três jogos

NACIONAL08.03.202409:40

A importância de 24 horas sem calçar chuteiras vista por um treinador de performance individual; há vários jogadores a dar sinais de desgaste e risco de lesões aumenta; senda de bons resultados ajuda

Rúben Amorim há muito que tinha falado sobre o ciclo apertado que o Sporting tinha pela frente no mês de fevereiro, que se prolonga até meio de março, altura em que o campeonato pára devido aos compromissos das seleções nacionais e, volvidos nove jogos, até o próprio treinador assumiu cansaço.

Com jogos praticamente a acontecer de três em três dias e preparação dos mesmos, não tem havido espaço para descanso, algo que aconteceu ontem, com o plantel a gozar um dia de folga após o empate com a Atalanta (1-1), na 1.ª mão dos oitavos de final da Liga Europa.

CALENDÁRIO FEVEREIRO/MARÇO

Data

Prova

Jogo

Resultado

3/2

Liga (20.ª jor.)  

Famalicão

Adiado

7/2

Taça de Portugal

UD Leiria

3-0

11/2

Liga (21.ª jor.)  

SC Braga           

5-0

15/2

Liga Europa 

Young Boys

3-1

19/2

Liga (22.ª jor.)  

Moreirense

2-0

22/2

Liga Europa      

Young Boys

1-1

25/2

Liga (23.ª jor.)  

Rio Ave

3-3

29/2

Taça de Portugal

Benfica

2-1

3/3

Liga (24.ª jor.)  

Farense

3-2

7/3

Liga Europa      

Atalanta

1-1

A BOLA foi tentar perceber a importância desta pausa de 24 horas junto de Cláudio Borges, antigo central, agora treinador de performance individual na Boost Campus Academy, com pólos na Maia e Esposende, que fez mestrado em alto rendimento desportivo, e que antes do arranque da época fez treino específico com Nuno Santos, médio leonino.

Cláudio Borges é treinador de performance individual na Boost Campus Academy (D. R.)

«Há que ter em conta vários fatores, entre os quais físicos e emocionais, mas, fisiologicamente falando, o Rúben Amorim está a fazer uma boa gestão. Há que pesar tudo na balança porque, de facto, não é fácil gerir as cargas e a folga concedida aos jogadores é mais útil no sentido psicológico, porque do ponto de vista fisiológico não era a altura indicada, tendo em conta que há jogo no domingo. Mas, se tivermos em linha de conta que há 30 dias que os atletas não folgam, é bom ter um dia em que não têm de calçar as chuteiras, nem ir para a Academia, nem ver os colegas, que por mais que se dêem bem e sejam unidos também é bom não estar com as mesmas pessoas todos os dias. Esta folga foi dada mais no contexto psicológico», começou por dizer.

Alguns jogadores têm vindo a dar sinais de cansaço, a equipa técnica tem feito a gestão de minutos em campo de cada atleta consoante indicação do departamento de performance, mas já se registaram baixas: Paulinho parou logo no início de fevereiro, devido a traumatismo no pé direito; Gonçalo Inácio, na ressaca do jogo com o Rio Ave teve de parar face a mialgia na coxa esquerda; Adán contraiu lesão muscular na coxa esquerda num treino, após a 23.ª jornada e Pedro Gonçalves já não defrontou a Atalanta em gestão de esforço.

O QUE FALTA JOGAR ATÉ À PARAGEM  

Data

Prova

Jogo

Campo

10/2

Liga (25.ª jor.)

Arouca

Fora

14/3

Liga Europa

Atalanta

Fora

17/3

Liga (26.ª jor.)

Boavista

Casa

Ora, olhando ao que são os números de utilização desde fevereiro percebe-se que o rendimento dos que têm mais minutos nas pernas começa a dar sinais de quebra física e, consequentemente, ficam mais propensos a lesões. Mas, há que destacar que o Sporting está em três frentes e seguem-se três importantes jogos antes da já referida paragem.

OS MAIS UTILIZADOS DESDE FEVEREIRO

Jogador

Minutos

Gyokeres

697

Eduardo Quaresma

683

Hjulmand

662

Pedro Gonçalves

588

Coates

561

Nuno Santos

546

Matheus Reis

538

Edwards

530

Geny Catamo  

528

Trincão

501

«O Sporting não tem uma grande vantagem no campeonato e percebe-se que o treinador aproveite os jogos da Taça de Portugal e da Liga Europa - que são dois em cada prova e um já passou - para fazer gestão do plantel. Descansar? Isso só acontece no FM (Football Manager) [risos]. A mente ajuda mais do que o físico. Controlar as cargas a jogar de três em três dias, durante 90 minutos, nem sempre é fácil. A equipa está numa senda de vitórias e, claro, gerir o esforço depois de um bom resultado facilita mais o treinador do que trabalhar em cima de uma derrota, o que é mais complicado», afirmou Cláudio Borges.

Gyokeres é caso à parte

O avançado sueco é o mais utilizado neste ciclo, com 697 minutos, e já começa a dar alguns sinais de desgaste. «É um jogador diferenciado, os próprios números mostram isso, é um ‘assassino’, só vê baliza, é certo que é bom tecnicamente, mas não é só pelas fintas, como pelo timing de entrar às bolas, o ir à linha puxar para dentro e rematar de pé direito, e mesmo que os adversários saibam disso, é muito difícil pará-lo, além da força que ele tem. Há poucos jogadores com capacidade de aguentar como ele», realçou Borges.

O treinador de performance individual não tem dúvidas sobre as 24 horas de descanso a que os jogadores tiveram direito: «A folga é fisicamente benéfica, embora nesta fase do campeonato não é um dia que vai fazer mudar alguma coisa, os atletas já têm muitos minutos nas pernas. Fisicamente não era ideal porque há jogo no domingo, mas num contexto mais de início de época, agora até pode ajudar.»

«Vem aí fase de decisões»

Jorge Silvério, psicólogo especializado em Psicologia Desportiva, falou a A BOLA sobre um dia de descanso a uma quinta-feira antes do jogo de domingo, realçando a importância que a mesma tem a nível mental.

Jorge Silvério (D. R./Clínica Bessa)

«É inerente que do ponto de vista físico também é importante. Mas, estas folgas são mais mentais porque, obviamente, aproxima-se a fase das grandes decisões, e o cansaço mental, algo que há tendência para nos esquecermos, começa a aparecer. Os jogadores podem fazer o que quiseres, estar com as famílias, brincar com os filhos, sem terem que pensar em treinos ou em jogos. Este dia de descanso é muito importante atendendo aos objetivos e à forma como a época está a correr em função do desgaste e até na preparação dos jogos importantes que aí vêm», realçou.