Treinador do Sporting analisou o empate (2-2) na Vila das Aves em conferência de Imprensa

Sporting fez tudo para o Aves acreditar que podia não perder (crónica)

Depois de uma primeira parte que mais pareceu um passeio, o Sporting encarou a metade complementar sob o prisma da gestão, cometeu erros infantis, e acabou a chorar a perda de dois pontos...

Com o devido respeito pelo Aves SAD, pelo treinador Rui Ferreira, que foi alterando a equipa de acordo com aquilo que o jogo pedia, e pelos jogadores avenses, que perante as circunstâncias foram levados a acreditar que era possível não perder, e se bateram bravamente, o que terá passado pela cabeça do Sporting para pensar que o jogo só tinha 45 minutos, e podia descansar no segundo tempo? Quando ao rei da selva falta instinto matador, alguma coisa não está bem na natureza, e podem desencadear-se fenómenos que desafiam a lógica. Por exemplo, com os leões já remetidos ao «deixa andar que já está ganho» - e de facto a baliza de Rui Silva não parecia ao alcance dos donos casa -, eis que num pontapé de canto, quando a bola já ia no ar, do nada, Diomande acertou na cara de Lucas Piazon, viu cartão amarelo e a sua equipa foi punida com uma grande penalidade, que José Luís converteu, reduzindo para 1-2, aos 66 minutos. É da praxe dizer-se, nestas circunstâncias, que esse foi o momento em que o Aves SAD reentrou na luta do resultado. Mas não foi. Os avenses, de facto, só passaram a acreditar que era possível algo mais do que uma derrota honrosa quando o mesmo Diomande,  dez minutos depois, fez uma falta feia que o árbitro não viu, mas que o VAR não deixou escapar. Alertado para um possível lance de cartão vermelho, o árbitro foi ao monitor e entendeu que se tratava ‘apenas’ de um lance para ‘amarelo’. Como nessa circunstância - ter ido ao monitor por causa de uma alegada expulsão direta – a videoarbitragem é chamada à colação, Diomande, duplamente amarelado, foi expulso, deixando os leões a jogar com dez elementos. Então, sim, o Aves SAD acreditou, Rui Ferreira, que ao intervalo tinha dado ordens para a entrada de Gustavo Mendonça, apostou em trocas sucessivas, mandando a jogo Nené e Mena, e encostou o Sporting às cordas.  

Já a ter de caçar com gato a meio-campo, pelas ausências de Hjulmand, Morita, Bragança e João Simões, Rui Borges remendou a equipa como podia, recuando Debast para central e refrescando o meio-campo com Esgaio, Felicíssimo e Harder, deixando na frente Viktor Gyokeres, que fez uma primeira parte à antiga, belíssima, e se arrastou no segundo tempo, sem poder físico para ser ele contra o mundo. E foi já neste estado de necessidade (que só não é desculpante porque Rui Borges errou ao mandar - ou permitir - que a sua equipa baixasse linhas na segunda parte, à espera de ser feliz, sem ir em busca da felicidade) que o Aves SAD aproveitou os sete minutos de compensação (justificados, aliás) para carregar com futebol direto e bolas paradas, à espera de que a cautela que tinha em mãos saísse premiada. E saiu, aos 90+6, na forma de um belíssimo pontapé de Gustavo Mendonça, à entrada da área, na sequência de um canto aliviado por Debast. E foi assim que o Sporting deixou na Vila das Aves, por incúria, dois pontos que o retiraram da liderança isolada da Liga, pontos esses que estariam mais do que ganhos, assim a atitude da primeira parte fosse replicada na segunda (além, é claro, dos apagões de Diomande, igualmente penalizadores).   

PRIMEIRA PARTE 

O choque pela forma como o Sporting não ganhou nas Aves foi potenciado por uma primeira parte fluida e autoritária dos leões, que marcaram dois golos e não marcaram mais por culpa de Guilherme Ochoa, e de algum deslumbramento. Jogando em 3x4x3, com um duplo-pivot improvisado formado por Debast e Alexandre Brito (que deram boa conta do recado, preenchendo espaços e descomplicando o jogo), Trincão e Quenda levaram perigo à baliza avense, Gyokeres, que regressou aos golos, foi o ‘diabo da máscara’ que aterroriza os defesas contrários, e Fresneda e Maxi deram aos leões a largura que o 4x4x2 do Aves SAD não conseguia contrariar. Depois do golo de Diomande (seis centímetros em jogo), José Luís ainda obrigou Rui Silva a duas defesas de dificuldade média, mas, no mais, só deu Sporting, que reforçou a vantagem e ficou a dever-se um resultado ainda mais largo. Na segunda parte, com a entrada de Gustavo Mendonça, passando a 4x3x3, Rui Ferreira estabilizou mais a equipa, e contou com a falta de comparência do Sporting da primeira parte, para terminar a partida a celebrar um ponto que bem falta faz à sua equipa na dura luta pela manutenção. 

É verdade que as lesões em Alvalade são muitas, mas as existências ontem presentes no relvado das Aves chegavam e sobravam para manter a liderança isolada, assim tivessem feito por isso na segunda parte, individualmente, com óbvia evidência negativa para Diomande, e estrategicamente, porque optar por deixar o tempo correr, em vez de correr atrás do tempo, não é forma de estar de uma equipa que quer ser campeã nacional, quando defronta um adversário que estava à beira do KO.