Sporting: ‘El Papo’ passou de anjo a diabo e é mina de ouro
A história de superação de Maxi Araújo, reforço dos leões, que já esteve nas cogitações de FC Porto e Barcelona. Puebla serviu de catapulta na carreira
Cresceu no seio de uma família humilde e bastante modesta, que passou por sérias dificuldades, com seis filhos (duas raparigas e quatro rapazes), dormia com uma camisola do Uruguai e ia para a escola com outra azul celeste, dizia que um dia jogaria pela seleção e todos o gozavam. Aos 24 anos, Maxi Araújo já cumpriu o sonho de representar o Uruguai e agora, de leão ao peito, vai cumprir outro: jogar na Europa.
Em 2018 María González mudou a vida de Maxi. Funcionária do Wanderers responsável, entre outras pastas, pelas causas sociais, foi quem levou Maxi e o irmão César (jogador do Orlando City) para o clube, resgatando-os do bairro social Marconi, na periferia de Montevideu, onde tiros e problemas com droga eram o parto do dia. Os irmãos agarraram com unhas e dentes a oportunidade que lhes estava a ser dada e vingaram no futebol, antes Maxi tinha passado pelos escalões de formação de Marconi FC e Defensor Sporting.
O agora jogador do Sporting depressa começou a ser notado, diferenciado dos demais, que fazia valer-se da sua versatilidade para varrer todo o corredor esquerdo e ainda finalizar. O departamento de scouting do Puebla, do México, estava atento e não houve dúvidas em contratar o esquerdino em dezembro de 2019. A adaptação não foi fácil, mas o passado ensinou-o a ser resiliente. Foi crescendo, apurando as suas habilidades e com a chegada de Nicolás Larcamón ao comando técnico tudo mudou: passou a ser aposta, explodiu e, claro, começou a despertar interesse.
Em 2021 o nome de Maxi Araújo foi apontado a FC Porto e Atalanta, seguiram-se Barcelona e Nápoles. A verdade é que continuou no México, onde o desempenho ao serviço do Toluca lhe valeu chamada à seleção do Uruguai, cuja camisola de jogo ofereceu à mãe, em sinal de gratidão.
Aliás, Maxi não esquece as origens, crente em Deus, está a colher o que semeou ao longo da sua vida, recetivo a conselhos, observador, discreto, ansioso para crescer e sempre motivado para ser melhor, assim que pôde, juntamente com o irmão César, compraram uma casa para a família, dando-lhes o conforto que nunca tiveram.
SURPRESA NA COPA AMÉRICA
Maxi Araújo é tido como uma das esperanças da nova geração do futebol uruguaio, depois da retirada de Cavani e do iminente adeus de Suárez. Deu cartas na Copa América, sendo um dos criadores do sistema escolhido por Marcelo Bielsa e, mais uma vez, a polivalência a ser trunfo — tanto pode jogar a defesa como médio ou extremo —, marcou dois golos, fez uma assistência, foi titular nos seis jogos (substituído apenas em dois).
O cerco ao jogador começou a apertar-se e o Sporting antecipou-se na contratação do esquerdino — numa das vendas mais caras do futebol mexicano (€13,6 milhões) —, que, ironia do destino, herda a camisola 20 que pertencia a Paulinho, agora a jogar no Toluca.
El Papo, a alcunha que Maxi Araújo ganhou quando ainda palmilhava as ruas de Montevideu, que foi anjo (denominação do Puebla) e tornou-se diabo (apelido do Toluca) é mina de ouro para o Puebla, que viu os cofres recheados desde que apostou no jovem: comprou-o por €500 mil, vendeu-o por quase €7 milhões ao Toluca e ainda vai receber cerca de €3 milhões com a transferência para o Sporting, pois tinha reservado 20% do passe aquando da venda do passe.
SONHO DE MENINOS: IRMÃOS A JOGAR PELO URUGUAI
Apenas um ano de idade separa Maxi (nasceu a 15 de fevereiro de 2000) do irmão César (2 de abril de 2021) que foi sempre seu parceiro de traquinices, de bola no pé, tanto nas ruas de Montevideu como nas camadas jovens do Marconi FC e infindáveis conversas. O sonho de vestir a azul celeste sempre foi, naturalmente, partilhado pelos irmãos que já viveram esse momento, em treino simultâneo na seleção do Uruguai, resta agora jogarem juntos pela equipa do país natal. César Araújo, médio defensivo, cumpre a terceira época ao serviço do Orlando City, equipa que compete na Major League Soccer (MLS).
Também a namorada, Leiza Gómez, cujo relacionamento dura há seis anos, e a cumplicidade é bem evidente através das publicações de ambos nas redes sociais, é futebolista. Joga pelas alas, tal como Maxi e acompanhou o agora leão aquando da transferência para o Puebla, onde continuou a praticar futebol. Deixou de jogar quando o esquerdino se mudou para o Toluca, ficando a viver com o namorado no México e, agora, está em Portugal.