País Sporting constitui-se assistente no processo 'Cashball' e pretende «verdade desportiva»
O Tribunal de Leiria começou, na tarde desta terça-feira, a julgar os três arguidos envolvidos no processo 'Cashball', que incide sobre alegadas práticas de corrupção ativa no desporto.
O Ministério Público acusou Paulo Silva, empresário desportivo, de três crimes de corrupção ativa, dois deles na forma agravada relativamente aos árbitros de andebol Roberto Martins e Ivan Caçador, bem como João Gonçalves, empresário de futebol, e ainda Gonçalo Rodrigues, antigo funcionário do Sporting, estes dois últimos acusados da prática de um crime de corrupção ativa agravada ao árbitro Ivan Caçador.
Na sessão de hoje realizada no tribunal da cidade do Lis, Paulo Silva foi o único que não compareceu, sendo que, segundo o seu advogado, a ausência deveu-se a motivos de saúde. Já os outros dois acusados, João Gonçalves e Gonçalo Rodrigues, optaram por ficar em silêncio perante o juiz.
Na ocasião, destaque para as declarações proferidas por Miguel Santos Almeida, advogado do Sporting, clube que se constituiu como assistente neste processo. «Defendemos a verdade desportiva. O Sporting não aceita o envolvimento nos factos que estão a ser julgados em tribunal e que mancham a credibilidade da empresa», assumiu. Recorde-se que, numa primeira fase deste mesmo 'Cashball', o nome do Sporting começou por estar envolvido, mas o clube acabou por nunca ser acusado. «O Sporting luta por um desporto justo, ético, baseado no desporto limpo, sem batotas. Não haja dúvidas que o assistente condena veementemente tais condutas mesmo que sejam destinadas ao seu próprio favorecimento», acrescentou o defensor dos leões.
Também os dois árbitros de andebol, que pertencem à Associação de Andebol de Leiria, falaram perante o juiz, e negaram ter recebido qualquer suborno.
«Ao telefone [Paulo Silva] disse que era jornalista desportivo de A BOLA e que queria falar comigo pessoalmente. Depois disse que vinha da parte do Sporting», começou por dizer Ivan Caçador, ele que, na semana seguinte a esse contacto, iria arbitrar o jogo de andebol entre o Sporting e o FC Porto. O árbitro recusou de pronto que alguma vez lhe tivesse sido oferecido dinheiro. «Não queria que prejudicasse e que a favorecer alguém que fosse o Sporting. Comigo a apitar, o Sporting perdeu todos os jogos nessa época», afirmou Ivan Caçador.
A suposta aproximação de Paulo Silva terá sido também tentada relativamente a Roberto Martins, com a especificidade de que o arguido teria uma empresa ligada ao ramo automóvel e que queria participar nas Festas do Bodo, em Pombal, um certame em que Roberto Martins estava envolvido na organização. «Percebi que a intenção dele era outra quando começou a falar do Sporting e de andebol, pelo que terminei a conversa logo ali», assumiu, negando, também ele, que lhe tenha sido oferecida qualquer verba.
Já Carlos Macanjo, advogado de Paulo Silva, começou por referir que o «processo prometeu muito», deixando, depois, críticas à investigação. «Se tivermos de apontar algumas culpas, se calhar aponto à investigação. A investigação ficou muito aquém daquilo que era necessário fazer e daquilo que este processo prometia», comentou, antes de acrescentar que «estranhava que o FC Porto não esteja representado como assistente, sendo que certo que é das entidades mais prejudicadas neste processo».
«Faltam mais pessoas arguidas num processo que tem mensagens de voz que são trocadas, pessoas que pedem para não se encontrarem em bombas de gasolina, porque eventualmente têm imagens, há diálogos sobre arbitragem. Estamos a falar de corrupção, que não tem uma linguagem aberta, mas uma linguagem decifrada», concluiu o advogado.
O julgamento irá prosseguir no próximo dia 4 de julho, estando nova sessão agendada também para as 14 horas.