SC Braga-Sporting: a crónica
Golos de fino recorte em jogo de ‘crescidos’ - Pote e Djaló tiveram momentos de inspiração nos golos; Igualdade justa na Pedreira; Entre equipas com estilos diferentes, primeiro houve mais Sporting e depois houve mais Braga...
Foi um bom jogo, mas não foi um grande jogo. E não o foi porque, ao contrário do 3-3 da época passada, escassearam os lances de perigo iminente junto às balizas. Valeram os golos, um e outro belíssimos, o primeiro com a marca registada de Pedro Gonçalves, que descobriu um espaço que só ele viu e depois limitou-se a fazer um passe tenso para a baliza; o segundo, do empate, numa execução, por Álvaro Djaló, de um livre direto, que qualquer dos maiores especialistas mundiais gostaria de ter no seu portfolio.
Não será demais afirmar, valha o que isso valer, porque o futebol está sempre submetido à ditadura dos golos, que se assistiu a um empate que refletiu o que as equipas fizeram em campo.
O Sporting foi bastante melhor na primeira metade, quando Morita e Hjulmand mandaram no meio-campo, Pedro Gonçalves soube aparecer nos sítios certos, e Paulinho e Gyokeres atacaram a preceito as costas dos laterais bracarenses. Os minhotos tiveram muita dificuldade em libertarem-se do colete de forças onde se viram metidos, por mais que Bruma tentasse inventar alguma coisa e Ricardo Horta ainda tivesse feito brilhar uma vez Adán (13). Era o Sporting que apresentava melhor equilíbrio defensivo, uma novidade relativamente à época passada, e sem criar oportunidades escandalosas, mais ameaçava.
Depois do golo de Pedro Gonçalves (25), Bruma foi egoísta aos 30 minutos, quando rematou por cima, esquecendo-se de que tinha Ricardo Horta em boa posição. E aos 38 minutos chegou um dos momentos do jogo: depois de grande jogada de Gyokeres e assistência de Morita, Hjulmand bateu inapelavelmente Matheus, com um remate seco para a direita do guarda-redes que chegou ao jogo 300 pelo SC Braga. Não estivesse Pedro Gonçalves deslocado e numa posição que interferia claramente com a visão de Matheus, e provavelmente o jogo teria ficado sentenciado naquele momento. Como a decisão foi bem revertida, os arsenalistas continuaram vivos no jogo e realizaram uma segunda parte de equipa forte e, sobretudo, personalizada.
Amorim e Artur Jorge
Foi muito interessante a luta entre os bancos na metade complementar, porque os treinadores optaram por filosofias diferentes: O técnico do Sporting usou as substituições para refrescar a equipa, sem mexer na estrutura. Edwards entrou opara a direita, saiu Paulinho e Pote passou para a esquerda; Geny Catamo foi fazer o que estava a ser pedido a Nuno Santos e Daniel Bragança postou-se ao lado de Morita, mantendo-se inabalável o 3x4x3 que apenas se encolheu um pouco mais quando Artur Jorge, com a entrada de Banza, optou pelo 4x4x2, passando os leões, com o auxílio dos alas ao meio-campo, e a fixação dos laterais na linha dos centrais, a 4x5x1.
Com este retrato, é verdade que o SC Braga carregava mais, mas quase sempre de forma pouco esclarecida e o Sporting não tirava os olhos do contra-ataque, parecendo ter as operações controladas. Porém, Álvaro Djaló, que entrara a substituir o desgastado Bruma, aproveitou aos 78 um livre direto, por falta de Bragança sobre Banza para assinar o mais artístico momento da noite, com a bola a sobrevoar perfeitamente a barreira leonina, tornando infrutífera a estirada de Adán, que em nenhum momento teve hipótese de defesa.
A Pedreira foi ao rubro e o jogo, após a igualdade, voltou a partir-se, vendo-se nessa altura a face menos coletiva do Sporting, que ia tentando, em rasgos individuais de Edwards, Trincão e Gyokeres, aquilo que o conjunto já não era capaz de fazer. O empate parecia agradar mais ao minhotos que aos de Alvalade, e Artur Jorge, que começara em 4x3x3, depois transformado em 4x4x2, acabou num mais prudente e equilibrado 4x2x3x1, com as entradas de Moutinho (dez anos depois de regresso à Liga portuguesa) para o lado de Vítor Carvalho, e de Rony Lopes para a direita, fazendo Álvaro Djaló a esquerda enquanto Zalazar se quedava por zonas mais centrais.
Os leões ainda queriam mas já não podiam - até Gyokeres acabou o jogo visivelmente desgastado - enquanto que o SC Braga, comandado de forma imperial por um José Fonte que aos 38 anos continua a exibir-se ao mais alto nível, manteve a organização e o equilíbrio, superando nesse particular um Sporting que, nesse departamento do jogo, tinha sido muito melhor na primeira parte.
Ficou, desta partida, a certeza de estarmos perante duas equipas com plantéis profundos e de qualidade, manejados cada um à sua maneira pelos seus treinadores, que serão capazes de lutar de igual para igual em todos os estádios da I Liga.
O árbitro - Luís Godinho (nota 7) Num jogo intenso, em que teve de ir ao bolso amarelar jogadores e técnicos, em múltiplas ocasiões, nunca pareceu perdido, e acertou nos lances mais importantes, nomeadamente no golo anulado a Hjulmand, já que era impossível sem recurso ao VAR, descortinar a influência de Pote no lance, ao limitar a visão de Matheus.
Melhor em campo A BOLA - Álvaro Djaló (SC Braga)