Samuel Soares e mais dez, o exemplo de Schjelderup, a bola de cristal e o mercado para carteiras cheias: tudo o que disse Bruno Lage

NACIONAL13.01.202514:52

Treinador anunciou titularidade do guarda-redes, sublinhou a necessidade de a equipa ser consistente e não arrisca adivinhar se o Benfica será campeão

Benfica está, animicamente, mais forte depois da conquista da Taça da Liga, mas com pouco tempo para preparar o jogo da Taça de Portugal. Que Benfica se vai apresentar amanhã e que Farense espera encontrar?

— Queremos sempre o melhor Benfica. Aquilo que falámos durante muito tempo, durante os primeiros meses de trabalho, foi de união. E essa união deu-nos oportunidade de estarmos fortes, de jogar bem, de unirmos cá dentro e também com os adeptos. Queremos agarrar-nos à consistência. É em busca dessa consistência que temos de continuar a trabalhar. Perceber que não podemos perder a união, dentro e com os adeptos, e continuar a trabalhar para sermos cada vez mais consistentes. E essa consistência tem de partir de todos — dos jogadores, que têm de perceber que têm de estar no seu melhor; e também de nós, enquanto equipa técnica, ir ao encontro dessa consistência. Sabemos que temos de jogar de três em três dias, o que mais queremos é que as rotinas se mantenham, que o onze se estabilize, mas ao mesmo tempo sabemos que não podemos esgotar jogadores, que precisamos de proporcionar o momento de cada um e de ter cuidado para evitar lesões. Temos de nos agarrar muito a esta palavra de ordem — consistência. Espero um jogo muito difícil contra o Farense, porque tivemos um jogo muito difícil com eles, o Tozé [Marreco] tem feito um trabalho fantástico na recuperação da equipa. Nos últimos jogos com ele, salvo erro, tem cinco vitórias e cinco empates, três derrotas. É uma equipa muito competente que quererá fazer um jogo que lhe permita seguir em frente, mas depois de vencer a Taça da Liga pretendemos também estar na final [da Taça de Portugal] e temos, amanhã, de fazer um jogo muito bom e seguir em frente na competição.

— Como se prepara um jogo com um dia de trabalho e em que sentido pretende mexer na equipa?

— Começámos a preparar o jogo com a folga [de ontem]. A equipa vem de jogos consecutivos e temos de saber recuperar os jogadores, com o estado físico mas também emocional. Não é fácil para os jogadores, com viagens, concentração, reuniões, preparação dos jogos. Chegámos a Lisboa por volta das 3, cheguei a casa por volta das 4. Entre treinar à tarde [ontem] ou no outro dia de manhã [hoje] percebemos que seria melhor os jogadores recuperarem bem, dormirem, passarem o dia com a família e hoje estarmos cá para preparar o jogo com o Farense, contra o qual já tínhamos jogado. Foi dessa forma que fizemos o planeamento. Agora é seguir com o mesmo plano, exatamente no mesmo sentido que preparámos o jogo da final da Taça da Liga a seguir ao SC Braga.

— Qual a situação clínica do plantel? Tiago Gouveia é o único indisponível? Enquanto treinador, janeiro é o mês mais complicado tendo em conta a gestão de expectativas de alguns jogadores que, eventualmente, podem sair e outros entrar?

— Sobre o plantel, o que posso dizer, e até faço já o lançamento para o jogo, a única certeza que tenho é que o Samu [Samuel Soares] vai jogar. É a única certeza que tenho. Ainda temos amanhã para avaliar, como fizemos na final da Taça [da Liga]. Viajamos hoje, amanhã fazemos um treino pela manhã e vamos perceber qual é a forma como os jogadores recuperaram. Uns recuperam melhor que outros, amanhã de manhã faremos uma análise mais concreta da forma como recuperaram. Sobre o mês de janeiro, é um facto que a abertura de mercado pode mexer com alguns jogadores. Hoje de manhã falei com eles e disse-lhes que quero que estejam disponíveis para jogar a qualquer momento. As respostas que quero dos jogadores são iguais à que o Schjelderup deu. Competente, sério. Chamei-lhe à atenção pela forma como não fez o quarto golo frente ao SC Braga e apareceu ainda mais sério e comprometido. E fez o golo da final. Têm de perceber que estou sempre atento ao trabalho deles e quero toda a gente pronta para jogar. Quem quiser ter oportunidades tem de fazer aquilo que o Schjelderup fez, que o [Leandro] Barreiro tem feito. Há um conjunto de jogadores que merece muito mais. O Samu, por exemplo, tem feito um trabalho fantástico e merece muito mais daquilo que teve. Mas, neste momento, o que lhe posso dar é o jogo de amanhã.

Benfica partilhou imagens suas a dizer, no balneário, que iriam vencer a Taça da Liga. Consegue dizer, com a mesma confiança, que vai ser campeão nacional?

—  Ainda não tenho uma bola de cristal, não adivinho as coisas. [bebe água, ndr] Vou recomeçar. Isto não é uma questão de adivinhar, nem tentativa de acertar. Sinto que percebo muito bem o grupo que tenho. O trabalho feito pelo Ricardo Lemos [diretor de comunicação do futebol profissional] foi fantástico porque aquele vídeo mostra muitas coisas para lá disso. Mostra muitas coisas que as pessoas pensam que não existiam. Por exemplo, a união do grupo, o compromisso do capitão com a equipa e outras coisas, mas aí também deixo à vossa consideração observarem e perceberem o que mostra para lá disso. Mas o vídeo não mostra um treinador que adivinha, mostra um treinador convicto do trabalho e dos jogadores que tem à disposição. Neste momento continuo muito convicto de que tenho um plantel muito bom e de que, se encontrarmos a consistência de que falei, poderemos chegar aos últimos dois/três jogos em condições para disputar o título e vencer o título que tanto desejamos. O que mais quero, neste momento, é no dia a seguir ao último jogo do campeonato passar no corredor junto ao balneários e que o número 38 passe para o 39 nas réplicas das taças que lá temos. Tal como já foi feito com a Taça da Liga. Hoje de manhã quando passei já estava lá o número 8. É isso que eu e os jogadores queremos. Que os adeptos e toda a gente quer. E vamos trabalhar em função disso.

Benfica goleou o Atlético Madrid e o FC Porto na Luz, mas perdeu com o Feyenoord, empatou com o Aves SAD e perdeu de forma consecutiva com o SC Braga e o Sporting. O que falta ao Benfica para ser mais consistente?

— É continuarmos a trabalhar nesse sentido. Estamos a falar do treinador que chega em setembro e que está a trabalhar com o plantel que tem, não fez a pré-época e tem de encontrar um caminho. Reorganizámos a equipa, encontrámos uma forma de jogar que nos permite ter uma organização ofensiva que nos dá confiança que a equipa pode produzir. E a equipa já produziu bom futebol, sabe jogar sob pressão. A jogar de três em três dias o que mais queremos, enquanto treinadores, encontrando uma fórmula de sucesso, é manter um onze. Também ouvimos críticas de outros quando chegam a determinados sítios. A jogar de três em três dias vão alternando o onze. E as pessoas perguntam porque muda tanto o onze. Temos mantido o onze sabendo que não podemos esgotar os jogadores, colocar em risco de lesão e a todo o momento precisamos daqueles que não estão a jogar para entrar. Fico muito feliz quando no tempo certo jogadores que não têm sido tanto utilizados como outros entram e ajudam a equipa. Valorizo muito isso. Treinadores passam muito de bestial a besta, mas não faço isso com os meus jogadores. Se há alguns que estão num bom momento, temos de continuar a ser exigentes com eles, se deixarem de estar num momento tão bom não são bestas, continuam a ser bestiais, têm de dar passos em frente, continuar a trabalhar porque estamos aqui para ajudar para que estejam sempre em condições de contribuir para as vitórias.

— Objetivamente, em que é que sente que a equipa está bem e em que precisa de melhorar?

— Há coisas que temos de continuar a melhorar. Uma delas é controlar… Fizemos isso muito bem nos dois jogos da Taça da Liga, controlámos melhor o jogo com bola. Fizemos dois jogos muito bons nesse sentido. Mas temos de continuar nesse caminho, temos de ter um maior controlo do jogo, perceber que não podemos jogar sempre à mesma velocidade, perceber que por vezes temos de baixar uma mudança, manter a bola, não entrar em zonas de pressão tão rapidamente. Isso pode dar-nos um maior controlo do jogo.

— Disse que tem um plantel muito bom e que sente que a equipa tem todas as condições para chegar ao fim e disputar o título. O grande desafio é, então, a Direção não deixar sair jogadores para continuar a ter essa capacidade de lutar pelo título?

— O desafio é para todos. Sei onde que chegar. Mercado? Vamos ao mercado. Temos de estar atentos ao mercado. A todo o momento, qualquer jogador que nos possa interessar é bem-vindo para ajudar. Se eventualmente entrar alguém tem de ser para ajudar esta equipa a ser melhor e mais competente. Se surgir uma oportunidade de negócio, como já disse, [se alguém quiser um jogador do Benfica] sabem que têm de vir de carteira cheia porque temos muitos jovens que, eventualmente, podem sair. Se for bom para o jogador e o clube, é uma oportunidade de negócio.