Sai um divã para o Dragão em plena crise de identidade
Olympiakos impôs ao FC Porto a quarta derrota consecutiva
Foto: IMAGO

FC Porto-Olympiakos, 0-1 Sai um divã para o Dragão em plena crise de identidade

NACIONAL23.01.202521:15

Sem confiança, sem imaginação e sem intensidade, a equipa do FC Porto passa por momentos realmente difíceis, onde tudo o que pode correr mal, corre ainda pior…

E vão quatro derrotas seguidas para o FC Porto, algo que não acontecia há seis décadas, depois de mais um jogo em que não revelou quaisquer ideias, como que assarapantado pelo céu que lhe está a desabar sobre a cabeça. Ver a exibição de David Carmo e compará-la com a tremedeira dos centrais azuis-e-brancos, não só dá que pensar como serve de espelho para a diferença de confiança verificada entre os jogadores de FC Porto e Olympiakos.

Os gregos, campeões em título da Liga Conferência, revelaram muita personalidade, nunca perderam o controlo da partida (o FC Porto teve duas oportunidades, ambas negadas pelo excelente e sóbrio Tzolakis, 41 e 89, o que é curto para as necessidades) e acabaram por justificar o triunfo, após 90 minutos em que foram coletivamente superiores, e, se quisermos uma metáfora, jogaram sobre relva enquanto que os dragões atuaram sobre brasas. Ficou patente que os jogadores do FC Porto não reagiram à mudança de técnico, e que a interinidade de José Tavares aumentou ainda mais as dúvidas que perpassavam nas cabeças dos dragões. O novo treinador terá de fazer um grande trabalho a nível psicológico para devolver o FC Porto àquilo que pode fazer – e que em várias situações fez, na presente época.

Há demasiados jogadores fora de forma (Pepê e Galeno são sombras, João Mário e os centrais não dão confiança, Nico e Varela duraram pouco e Samu, desamparado, andou por lá, votado à irrelevância), e o estímulo vindo de fora é quase nulo. A Lei de Murphy abateu-se sobre o Dragão e a ver vamos quanto tempo demorará a levantar ferro da casa azul-e-branca.

EQUIPAS ENCAIXADAS

José Tavares e José Luís Mendilabar dispuseram as suas pedras de forma semelhante (4x2x3x1 de base) e após uma entrada forte dos donos da casa, os gregos foram, pouco a pouco, deitando gelo no jogo e encaixando a sua equipa, peça a peça, na estrutura portista, até garantir o controlo da partida. Foi uma primeira parte desinteressante, onde o FC Porto, apesar da irreverência de Rodrigo Mora, o mais empreendedor, apenas teve o primeiro remate (em dose dupla) enquadrado aos 41 minutos e os gregos finalmente acertaram na baliza de Diogo Costa aos 43 (Mouzatikis). Das alas, com as habituais setas Galeno (regressado ao ataque) e Pepê (regressado do degredo) com as pontas rombas e sem capacidade para ganhar lances de um-contra-um a Rodinei e Ortega, e com João Mário desinspirado e Moura receoso de subir no terreno, não saíam soluções, e como Nico e Varela não eram capazes de se impor a Dani Garcia e Mouzatikis, restava Mora para remar contra a maré, mas o desgaste físico acabou por cobrar fatura ao jovem jogador.  

VANTAGEM MENDILIBAR

Ao intervalo, o experiente treinador espanhol agitou a fase ofensiva do seu meio campo, fazendo entrar o irrequieto Velde para a esquerda, passando Chiquinho da esquerda para o meio, e dando a direita a Kostoulas. Correu bem a vida a Mendilibar, já que a sua equipa entrou forte e ameaçadora, enervando os jogadores do FC Porto, e ainda mais as bancadas do Dragão. Demoraram um quarto de hora os dragões a reagir, mas lá acabou por entrar Gonçalo Borges (não foi titular, porquê?) para o lugar de um irreconhecível Pepê e imediatamente se percebeu que estava em campo um agitador, capaz de colocar os gregos em sentido. Porém, a verdade é que Borges não teve quem o acompanhasse na intensidade que quis colocar no jogo, e voltou a ser o Olympiakos a controlar as operações e a ser ameaçador (grande passe de Carmo para El Kaabi, aos 71 minutos, quase acabava em golo).

O banco do FC Porto percebeu que tinha de fazer alguma coisa (73), mas se a entrada de Fábio Vieira ainda ofereceu um pouco mais de ritmo, face ao desgaste de Rodrigo Mora, já a chamada de Zé Pedro para a direita foi um tiro no pé dado pelo treinador, que antecedeu em seis minutos o golo de El Kaabi, após uma trapalhada entre Nehuén Pérez e próprio defesa central adaptado à direita.

José Tavares acabou por fazer um ‘all in’ no minuto a seguir, passando a 4x4x2 com Namaso e Gul no eixo do ataque e Gonçalo Borges e Fábio Vieira nas alas, e até podia ter empatado aos 89 minutos, quando Fábio Vieira, à queima roupa após jogada confusa, testou os reflexos de Tzolakis, que levou a melhor. Mas a derradeira sensação de golo ainda pertenceu aos gregos, quando Yaremchuck, lançado pelo seu guarda-redes, se isolou e ladeou Diogo Costa para um 0-2 que só não valeu devido a um fora-de-jogo milimétrico do ex-benfiquista. Mas, de qualquer forma, estava selada, sem que possa falar-se em injustiça, a quarta derrota consecutiva do FC Porto, que, sem Samu e Nehuen Perez (castigados) vai a Belgrado jogar contra os israelitas do Maccabi Telavive a passagem ao ‘play-off’ da Liga Europa. Para já, as nuvens continuam negras sobre o estádio do Dragão.