Rui Vitória: «O FC Porto precisa de ganhar e o Benfica deve jogar com isso»
Treinador campeão pelo Benfica antecipa o clássico; fala da irregularidade dos dragões, exemplares com o Arsenal e a seguir ‘outra’ equipa com o Gil Vicente; e das mudanças nos encarnados, que têm tido dificuldade em repetir a dinâmica da época passada; vaticina que o jogo será decidido nos pormenores…
— Jogou muitas vezes no Estádio do Dragão, na qualidade de adversário. Algumas dessas vezes foram como treinador do Benfica. Como é que antecipa o clássico desta jornada?
— Obviamente um jogo difícil, mas com algumas particularidades que me parecem ser importantes. Uma delas é o FC Porto ter de ganhar, porque qualquer resultado que não seja a vitória deixa-o muito longe dos lugares de topo. E o Benfica vai ter que jogar um bocado com isso. Mas vai ser um jogo difícil, e o FC Porto, sempre que jogou com o Benfica deu respostas muito positivas. Fundamentalmente quando esteve 11 contra 11. É que jogar 11 contra 11 não é a mesma coisa que jogar 11 contra 10. Vai ser um jogo de detalhes, difícil para qualquer das equipas.
— O que dizia aos seus jogadores em jogos como estes do Dragão, que são realmente especiais?
— Bom, isso tem a ver com a personalidade de cada treinador, e com a forma como se liga com os seus jogadores. É preciso viver estes jogos como finais. E os jogadores têm de estar focados na parte competitiva, em disputar cada lance, e para isso precisam de estar de cabeça limpa.
— Muitas vezes o espectáculo nos clássicos deixa muito a desejar...
— Sim, amiúde estes jogos não são muito bem jogados, mas são muito competitivos. Neste caso particular, com jogos da Taça de Portugal a meio da semana, Benfica e FC Porto não vão ter tempo para trabalhar, o que os levará a focarem-se nos pormenores. Depois é acreditar no talento e no trabalho acumulado que as equipas têm.
— Na época passada, o Benfica esteve muito bem, especialmente enquanto teve Enzo Fernández. Fez uma fase de grupos da Liga dos Campeões absolutamente fantástica. Depois, aguentou-se na segunda volta da Liga e foi campeão. Nesta temporada, com a saída de Grimaldo e a entrada de Di María, a equipa mudou muito, perdeu capacidade ofensiva à esquerda e capacidade defensiva à direita...
— As equipas só funcionam com equilíbrio. Claro que cada treinador pode ter a sua visão, mas penso que as equipas só funcionam com equilíbrio. Hoje em dia, uma equipa grande tem de ser forte em todos os momentos, e esses momentos têm de ser muito equilibrados. Não basta ser muito forte num momento, uma equipa para ser campeã tem de ser forte em todos. E o Benfica está recheado de enormes jogadores de qualidade. Na época passada as peças do puzzle encaixaram todas umas nas outras desde os avançados aos defesas. Vamos será bom lembrar que se River Plate não tem sido eliminado da Libertadores, o Enzo Fernandez só viria em janeiro e não teria valorizado o que valorizou. Na presente temporada, pode ser o mesmo contexto, pode ser a mesma equipa, mas já é um tempo é diferente.
O Benfica tem mostrado uma coisa muito positiva, que é a capacidade de nunca se deixar abater, como se viu com o Sporting
— É outro Benfica?
— Aquela dinâmica do ano passado, que encaixou toda na perfeição, este ano não está a ser fácil de repetir. Havia jogadores, de facto, muito específicos que eram a pedra de toque fundamental para que a equipa tivesse aquele rendimento. Este ano isso não ainda não aconteceu, apesar do Benfica tem jogadores de muita qualidade. Ao mesmo tempo, o Benfica tem mostrado uma coisa que, na minha perspetiva, também é muito positiva, que é a capacidade de nunca se deixar abater. O jogo pode não estar a ser muito bom, mas o Benfica está sempre vivo, como se viu com o Sporting, para a Taça.
É preciso viver estes jogos como finais. Os jogadores têm de estar focados na parte competitiva e precisam de ter a cabeça limpa...
— E o FC Porto?
— Já o FC Porto é uma equipa que tem sempre sete vidas, e uma capacidade de resposta às adversidades muito grande. Mas tem tido uma oscilação que não deve acontecer nas equipas grandes, porque tem desempenhos muito bons e depois cai bastante.
— Recentemente fez um jogo exemplar com o Arsenal e, em seguida, foi empatar a Barcelos...
— É isso que tem manchado o percurso do FC Porto, que com muito mérito do seu treinador, tem potenciado jogadores que vêm de realidades completamente diferentes e crescem imenso em termos de postura, de ambição, de querer conquistar qualquer coisa.
— Como é que tem visto, globalmente, o campeonato português desta época, que tem tido no Sporting a equipa que pratica melhor futebol?
— Tenho seguido com muita atenção, porque nunca desligo. Nesta altura, Benfica e Sporting são os mais fortes, do ponto de vista dos pontos, mas o Sporting parece-me ser a equipa mais consistente e, na minha opinião, não tem tido a valorização que deveria ter. O Sporting tem uma equipa madura, que perde pontos de forma circunstancial. Não há ninguém que chegue e que encoste o Sporting às cordas. Só o senti, por aquilo que fui vendo, na primeira parte do jogo com a Atalanta. De resto, não vi nenhuma equipa a pôr o Sporting em muitas dificuldades. Ao mesmo tempo, se olharmos para como é que um clube tem que funcionar, há ali três pessoas que se destacam, o presidente, o diretor desportivo e o treinador, o núcleo duro, que resolve os assuntos E tem um scouting tremendamente eficaz, que descobriu dois jogadores, o Gyokeres e o Hjulmand, que encaixaram na perfeição. E ainda estiveram atentos para irem buscar o Marcus Edwards a Guimarães e o Morita aos Açores. O Sporting tem tido um desempenho fantástico.