«Gelson Martins foi o único jogador que me visitou na prisão»
Rúben Semedo (Foto: Sérgio Miguel Santos)

«Gelson Martins foi o único jogador que me visitou na prisão»

Ruben Semedo recorda momentos difícieis em 2018

Ruben Semedo, central português atualmente ao serviço do Al-Khor, do Catar, concedeu uma entrevista à Marca, na qual abordou o duro golpe fora das quatro linhas que lhe manchou a carreira no futebol: o tempo em que esteve preso em Espanha, após ter sido acusado de tentativa de homicídio, injúria, ameaças, detenção ilegal, posse ilegal de armas e roubo com violência.

«A verdade é que estava perdido, passei de ganhar 10 mil euros para 100 euros, perdi-me com as pessoas que conheci. Sempre disse que a culpa era minha porque aceitei essas pessoas na minha vida. Não escolhi as melhores pessoas para estarem ao meu lado, mas também não digo que me arrependo. Isso fez-me crescer e aprender», afirmou o defesa.

Estava sempre à procura de saídas. Para festas, para comer, e estava sempre à procura de pessoas que estivessem nesse ambiente. Sair não é uma coisa má. Mas muitas pessoas nesse tipo de ambiente vivem disso. São parasitas, aproveitam-se dos outros. Foi esse o meu erro, não saber distinguir as pessoas boas das más», sublinhou, antes de recordar o medo sentido na prisão.

«Sim, desde o primeiro dia. É algo a que não estava habituado, à semelhança do que se vê nos filmes, muito assustador. Não a vivi, mas vi muitas coisas. E são assustadoras, obviamente que são assustadoras. O que acontece é que não se pode mostrar. Dizer? Já não me lembro, apaguei tudo», sublinhou, dizendo que o que custou mais foi a rotina, o que podia ou não fazer: «Do que mais sentia falta não era de jogar futebol, era de estar em casa, a ver Netflix ou jogar às cartas, a beber um copo de vinho, estar com a família.»

Questionado sobre se se sentiu abandonado pelos colegas de profissão, revelou que só um o visitou: «Recebi muitas cartas lá dentro, mas quando saí senti o apoio de muitos colegas. Tenho um grande amigo que jogou no Atlético de Madrid, o Gelson Martins. Veio visitar-me. Foi o único dos meus companheiros de futebol. Não é um colega de equipa, é meu irmão. Gosto muito dele. Não vou chorar, obviamente.»

Gelson Martins e Rúben Semedo (Foto: Sérgio Miguel Santos)

Antes da visita, houve cartas: «Sim, um dia até escrevi ao Gelson. As cartas na prisão são como quando se dá um telemóvel a um miúdo de 10 anos. Dá-nos muita vida, é diferente. Quando saí, senti muito apoio e foi aí que fiz o clique para selecionar as pessoas boas para a minha vida.»

Ruben Semedo falou, depois, da visita que o amigo lhe fez. «Ele veio de surpresa e foi muito complicado. Vê-lo e não poder tocar nas pessoas que amamos. É sempre o mais complicado. E pior: eu não podia falar e ele não podia falar. Podíamos falar, mas não era possível. Não conseguíamos que as palavras saíssem. Olhámos um para o outro e ficámos assim. E eu dizia, 'então...' e ele... Foi algo muito frio», relatou.