«Rúben Amorim conquistou o Sporting com resultados, discurso e fluência»
Viktor Gyokeres e Rúben Amorim, duas das maiores figuras do futebol do Sporting (IMAGO)

«Rúben Amorim conquistou o Sporting com resultados, discurso e fluência»

NACIONAL05.09.202412:00

Vítor Manuel, treinador com mais de 500 jogos na Liga, analisa o trabalho do treinador leonino

Rúben Amorim completa hoje quatro anos e meio como treinador do Sporting, com duas Ligas no bolso, além de duas Taças da Liga e uma Supertaça. Vítor Manuel, treinador com mais de 500 jogos na Liga portuguesa e com passagens por clubes como Académica, SC Braga, Penafiel, UD Leiria, Belenenses, Leça, Salgueiros ou Alverca, por exemplo, avalia o trabalho de quatro anos e meio de Amorim no Sporting.

«Parece haver sintonia perfeita entre a direção do Sporting e o Rúben. Os resultados têm ajudado, claro, mas quando há identificação entre as ideias do presidente, do diretor desportivo e do treinador, quando tudo está muito bem colado e há solidariedade institucional, tudo fica muito facilitado. Quando somos só resultadistas, se não tivermos resultados logo à primeira, as coisas às vezes podem complicar-se. O treinador, muitas vezes, não tendo resultados, também consegue conquistar os adeptos pelo trabalho, pela dedicação e até pelo discurso. Se calhar é um bocadinho o que está a acontecer com o Amorim. Ele conquistou os adeptos do Sporting com os resultados e com o discurso e a sua fluência. O Sporting era uma espécie de cemitério de treinadores e passou a ser, com Frederico Varandas, um clube estável. O Rúben tem sido um treinador que, além de ter resultados, cumpre objetivos financeiros, o que dá uma estabilidade muito grande ao clube.»

Vítor Manuel passou por Académica, SC Braga, Penafiel, UD Leiria, Belenenses, Leça, Salgueiros e Alverca, entre outros clubes

ANIMAIS SOLITÁRIOS

E que sente um treinador quando é afastado, como foi o caso de Daniel Sousa no SC Braga ou Roger Schmidt no Benfica, por exemplo. Vítor Manuel adianta sensações: «Primeiro, começamos a perceber pequenos indícios de que as coisas já não estão bem. É a reação de adeptos, dirigentes e até jogadores que já não é a mesma. Deixa de haver a mesma empatia, a mesma força, a mesma motivação. No fundo, nos dias que antecedem a mudança, as caras das pessoas já não são as mesmas. Andam todos desconfiados uns dos outros e, por vezes, o treinador sabe que tem de ir dar o treino ou ir a jogo, mas já não vai com a mesma alegria. Sai de casa e toda a gente olha para ele com outros olhos. Por outro lado, sabes que, quando as coisas correm mal, não se afastam 25 jogadores, afasta-se o treinador. É mais fácil e mais simples, porque, por vezes, já não somos a solução, somos mesmo o problema. Quando tudo corre bem, parece que a hora do treino nunca mais chega, mas quando as coisas começam a emperrar, um treinador tem de ter grande força interior para continuar a dar os treinos com a mesma alegria. Até nós próprios, inconscientemente, transmitimos alguma insegurança. Os treinadores, muitas vezes, são animais solitários, porque nas horas más ninguém olha para ti e nas boas olham, sobretudo, para os jogadores.»

ANTIBIÓTICO

E que tem de fazer um treinador quando substitui, a meio da época, um outro treinador, como foi o caso de Carlos Carvalhal e será o caso de Bruno Lage? Vítor Manuel dá algumas dicas: «Antes de mais, tem de resolver o labirinto emocional em que os jogadores possam estar. Deve tentar falar individualmente com todos os jogadores, saber o que se passa, ouvir os capitães, ouvir a estrutura e fazer uma leitura daquilo que se passou. Se fores buscar um estrangeiro, ele terá mais dificuldades em entender o que passou até à entrada dele. O português, porém, já tem uma noção de tudo. Depois, tem de arranjar um antibiótico, digamos assim, muito forte para estancar o que está mal. Cada jogador é um mundo e o antibiótico tem de ser bom e forte, espécie de terapia de choque.»

Vítor Manuel, 72 anos, elogia o trabalho de Rúben Amorim