Roberto, o 'matador tondelense': «Não sou obcecado pelos golos, mas se puder marcar…»
Experiente ponta de lança continua a faturar e é o melhor marcador da Liga 2 neste momento. (Foto: Tondela)

ENTREVISTA A BOLA Roberto, o 'matador tondelense': «Não sou obcecado pelos golos, mas se puder marcar…»

Ponta de lança é o mais concretizador da Liga 2, com 6 golos em 7 jogos. Fatura há quatro partidas consecutivas e o seu poder de fogo ajuda os beirões a estarem nos lugares cimeiros. Subida de divisão não é um objetivo… mas o sonho está lá. A curiosidade de ser mais velho… do que o treinador

Roberto Porfírio Maximiano Rodrigo. Talvez os seus pais pudessem, na altura do registo, ter acrescentado 'golo' num dos nomes próprios do filho. Porque Roberto… só vê baliza(s). Tem sido assim ao longo de toda a carreira.

Aos 35 anos, o ponta de lança do Tondela tem um lastro de golos que, por si só, justifica todo o destaque. Com formação dividida pelo Baiirro do Falcão e pelo FC Porto - ainda chegou a disputar uma partida pela equipa B dos dragões, na época 2005/2006 -, Roberto construiu, depois, a sua carreira sénior em várias realidades competitivas, mas sempre com a mira afinada: São Pedro da Cova (11 golos), Operário da Lagoa (2), Oliveira do Douro (12), Tirsense (28), Naval (9), Arouca (32), Moreirense (6), Estoril (28), Chaves (8), Penafiel (26) e Tondela (19… até ao momento). Estamos a falar de 181 golos. E foi por aqui que começou a conversa do jogador com A BOLA. Os registos ninguém apaga, mas Roberto prefere valorizar… a(s) equipa(s).

«Meta de golos? Não tenho, muito sinceramente. Claro que, sendo ponta de lança, e como costuma dizer-se, vivo de golos, mas marcar não é obrigatório para mim. O mais importante é sempre ajudar os meus companheiros para que, juntos, possamos fazer com que a equipa chegue à vitória. Não sou obcecado pelos golos, mas se puder marcar…», começou por dizer ao nosso jornal.

A matriz comunicacional continuou com o foco nas balizas contrárias. Até porque, por esta altura, Roberto é o melhor marcador da Liga 2, com seis tentos apontados. É mais um dado apelativo, mas que (também) leva o ponta de lança a olhar ao coletivo: «Se puder fazer, não digo que não, lá está. Neste momento sou o melhor marcador, é verdade, mas se nos próximos tempos deixar de o ser, vou continuar a trabalhar da mesma maneira para ajudar a equipa a conquistar os três pontos em todos os jogos.»

O trajeto de Roberto na época em curso – marca há quatro jogos consecutivos – tem dado uma grande ajuda para que o Tondela seja o ataque mais concretizador do segundo escalão (17 golos), mas, e acima de tudo, o poder de fogo do camisola 17 também tem sido um forte contributo para o 3.º lugar que os beirões ocupam na tabela classificativa – posição que dá acesso ao play-off de subida, mas que, nesta altura, e se o campeonato tivesse terminado, daria promoção direta, uma vez que o 2.º classificado é o Benfica B que, como se sabe, está impedido regulamentarmente de subir à Liga. O sonho está bem vivo, mas, defende o experiente jogador, os passos terão de ser dados com total firmeza.

«O nosso objetivo é pensar jogo a jogo e lutar sempre pelos três pontos. Sei o que trabalho que fizemos durante a pré-época, mas isso, por si só, não é sinónimo de bons resultados. Está a correr bem, mas temos noção de que o comboio ainda agora saiu da primeira estação e temos de continuar com os pés bem assentes na terra porque ainda não conquistámos nada. Tondela esteve recentemente na Liga e se eu conseguir ajudar o clube a voltar a subir ficarei muito contente», analisa, com o pragmatismo que a idade lhe confere.

É mais velho do que... o mister

Em Tondela, e na presente temporada, o goleador depara-se com uma situação que não é assim tão vulgar quanto isso: é mais velho que o treinador! Roberto nasceu a 28 de novembro de 1988, Luís Pinto, o técnico, a 1 de abril de 1989. É somente um detalhe, até porque os elogios ao mister são prontos.

Jovem técnico está a brilhar na sua primeira experiência nos campeonatos profissionais. (Foto: Tondela)

«[risos] É apenas uma curiosidade. Acho que nunca me tinha acontecido ao longo da carreira, mas é mesmo apenas um dado. Temos uma relação perfeitamente normal entre jogador e treinador e tudo aquilo que ele me manda fazer, eu faço, naturalmente. O mister Luís Pinto é mais uma prova de que a idade não tem competência. Ele e a sua equipa técnica são extremamente competentes e os jogadores têm acompanho todo o processo de transmissão de ideias e dinâmicas que eles nos passam. A prova disso são os resultados que temos conseguido», justifica.

E se Roberto fala em bons resultados, é a dica perfeita para dizermos que o Tondela é uma das duas equipas que ainda não perdeu nesta Liga 2 (a par do Penafiel): «É um trabalho de toda a equipa, lá está. Não só dos que são escolhidos para cada jogo, mas também de todos os outros que, mesmo não jogando em determinadas partidas, são fundamentais no trabalho diário que desenvolvemos. É um trabalho árduo e o mérito é de todos.»

Final de carreira está longe; qualidade da Liga 2, subida pelo Arouca e Taça da Liga ao serviço do Moreirense

O final da carreira, assume, «não está em mente», até porque, como o próprio sublinha, «o facto de não ter lesões tem sido uma felicidade». E tentando perspetivar o futuro, apesar de não se debruçar propriamente sobre este tema, jogará «até que o corpo deixe». «Tenho tido a sorte de não ter problemas físicos relevantes e, como tal, enquanto me sentir bem, continuarei a jogar. Quando perceber que já não estou na plenitude das minhas capacidades, terei de dar lugar a outros», sublinha, de forma frontal.

Roberto é uma das imagens de marca dos últimos anos da Liga 2, sendo, por isso, uma voz totalmente capacitada para analisar a competição. E a qualidade é tanta, diz, que as diferenças para os principais palcos já não são assim tantas.

«Já jogo há várias épocas neste escalão e, muito sinceramente, a diferença para a maior parte das equipas da Liga é cada vez menor. Voltar à Liga? Não penso nisso, confesso. Estou a desfrutar ao máximo do futebol e sinto-me feliz. Voltando um bocadinho atrás, s pudesse ajudar o Tondela a subir, tanto melhor, lá está», admite, de forma tranquila, não escondendo que voltar a festejar o que conseguiu pelo Arouca, na época 2012/2013, era mais um marco no percurso: «Gostava de voltar a saborear uma subida de divisão. Afinal, todos os jogadores ficam felizes por alcançarem conquistas nas suas carreiras. Ainda assim, devo dizer que não é algo pelo qual esteja obcecado. Se acontecer, será de forma natural. Se der para ser já esta época? Que seja [risos]. Todos os momentos são bons para sermos felizes.»

A finalizar, e por falar em momentos felizes, Roberto recorda uma grande conquista: a Taça da Liga, conquistada ao serviço do Moreirense, na época 2016/2017. «Foi o ponto mais alto da minha carreira, sem dúvida. Ganhar uma Taça é sempre especial», remata.

Roberto explodiu de alegria com a Taça da Liga, em 2016/2017. (Foto: André Alves/ASF)