Benfica perdeu grande oportunidade de ter resolvido já a passagem às meias finais; Conservadorismo de Schmidt chega a ser enervante
Uma quase dolorosa sensação de desperdício. A noção exata de que o Benfica perdeu uma oportunidade preciosa para resolver, desde já, os quartos de final da Liga Europa. Poderia ter conseguido uma vitória robusta e definitiva frente a um Marselha macio e pouco intenso. Poderia ter dedicado uma noite memorável a Eriksson que, ontem, tanta simpatia irradiou na Luz. Apenas gerou, naquelas dezenas de milhares de adeptos, um forte sentimento de saudade das grandes noites europeias no tempo em que o técnico sueco dirigiu o Benfica, ainda nos anos de uma juventude luminosa e vibrante.
Não seria, de todo, normal o Benfica acabar de vencer um jogo europeu com o Marselha e a equipa ouvir uma assobiadela monstra pelo desencanto coletivo. Mas aconteceu e ninguém terá ficado surpreendido por isso. A não ser Roger Schmidt para quem, na sua mentalidade linear e objetiva, vencer um jogo europeu é sempre bom, independentemente das circunstâncias. Porém, os adeptos benfiquistas começam a não ter paciência para tanta objetividade e, na verdade, acham que tanto conservadorismo do técnico alemão chega a ser enervante.
Poder-se-á dizer que os adeptos são apenas treinadores de bancada. Um treinador vê o jogo de outro modo, junta informações que mais ninguém tem e usa-as com critério
Di María e Rafa marcaram, mas foi o médio de 19 anos a conduzir a equipa do princípio ao fim, nos melhores momentos... e nos piores; não tem a braçadeira, mas poderia ser capitão de equipa
O TEMPO DO OTIMISMO
Boa primeira parte do Benfica. Não, propriamente, deslumbrante, mas suficientemente boa para a equipa ter criado várias oportunidades de golo, além do belo golo que Rafa marcou, aos 16 minutos, e para não ter permitido que o Marselha conseguisse lances de verdadeiro perigo. Apenas alguma preocupação com as más marcações nos cantos, a falta de intensidade defensiva nos flancos, a dar grande liberdade nos cruzamentos, e nos espaços abertos nas costas de Florentino e de João Neves.
Mas, apesar desses sinais, o Benfica foi sempre melhor, mais consistente e com mais qualidade de jogo. No ataque posicional, foi paciente e teve critérios de segurança. Não apostou no risco e na vertigem. Jogou os seus trunfos maiores no desequilíbrio individual, na velocidade de Rafa e na generosidade de um Tengstedt a quem, continua a faltar golo.
Estar a ganhar apenas por um golo de diferença não matava o sentimento de otimismo. Esperava-se que, na segunda parte, o Benfica encontrasse melhor afinação no rigor do último passe e na certeza maior no golo.
Pouco mais de cinco minutos após o intervalo, e Di María marcava o segundo. Tudo parecia conjugar-se para que o Benfica ganhasse o balanço de uma vantagem decisiva, tornando a visita a Marselha uma mera formalidade. Não esteve longe do terceiro, mas, aos 67 minutos, num erro individual de António Silva - sempre a obsessão de sair a jogar, mesmo em situações difíceis - deu oportunidade a Aubameyang de fazer um golo traumatizante. A partir daí, a equipa entregou-se a um conformismo inexplicável.
Somou-se, à atitude inconveniente, uma gestão de jogo sem rasgo nem ambição. Pior se tornou quando Schmidt trocou Neres por João Mário e Tengstedt por Marcos Leonardo. Parecia ser uma ordem para não arriscar nada e levar o destino para Marselha.