Quando o TGV atropelou o velho comboio a vapor (crónica do Real Sociedad-Benfica)
Musa no fim do Real Sociedad-Benfica. Foto: Miguel Nunes/ASF

Quando o TGV atropelou o velho comboio a vapor (crónica do Real Sociedad-Benfica)

NACIONAL08.11.202321:02

Das duas, uma: ou Schmidt resolve o Benfica, ou o Benfica vai ter de resolver Schmidt. O Benfica salvou-se de uma derrota histórica

A primeira parte foi devastadora para o Benfica, mas, pelo menos, teve o condão de desmentir a ideia peregrina de que o Benfica tem muito melhor equipa e melhores jogadores do que a Real Sociedad. Ficou mais do que demonstrado que isso não é verdade. Será, talvez, uma lenda assente naquela ideia de que os melhores jogadores são os que fazem com a bola um número de circo. Não são esses os melhores, sobretudo, se esses malabaristas não fazem mais do que isso, em campo. E o Benfica tem demasiados jogadores que não trabalham, que não correm sem bola, que apenas marcam com os olhos deixando impunemente as orelhas dos pobres e desprotegidos defesas a arder.

O problema maior de Roger Schmidt é que para defender esse modelo de jogador, tenta disfarçar a falta de organização e a ausência de espírito de luta da sua equipa com remendos e com a apressada adaptação de jogadores que procuram dar tudo e não exigir nada. No entanto, é evidente que o recuo de João Neves para lateral direito faz o Benfica perder um bom médio, trocando-o por um inadaptado defesa e, mesmo que não se diga tal e qual de Aursnes, tem pelo menos de se considerar que o norueguês é, de facto, um polivalente, mas rende bem mais como médio.

Acresce, e não é uma questão de pormenor, que para manter algum equilíbrio, o treinador do Benfica viu-se forçado a mudar de sistema, passando a jogar com três centrais, mesmo sem trabalhar esse mudança significativa. Dá para consumo interno, mas na alta roda do futebol europeu torna-se, como se viu, um descalabro.

À beira de derrota histórica

Aos 21 minutos de jogo, uma equipa desmantelada e prestes a naufragar já perdia por 3-0. Entretanto, já se tinha salvo de um outro golo, aos 15 minutos, por intervenção celestial do VAR e sete minutos depois Trubin viu um penálti ir direitinho a um poste da sua baliza. Ou seja, antes da meia hora já o Benfica poderia estar a perder por 5-0 e a perspetiva era a de uma derrota histórica.

De facto, a imagem que ressaltava do jogo era a de um desastre de um velho comboio a vapor, atropelado, sem dó nem piedade, por um TGV em alta velocidade.

Sobre a meia hora, Schmidt agiu, enfim. Fez sair Florentino, já com “amarelo”, adiantou João Neves, passou Aursnes para defesa direito e mandou entrar Jurasek para defesa esquerdo, O jogo sossegou, o Benfica conseguiu, pela primeira vez, respirar.

Que efeitos no dérbi?

A segunda parte trouxe dos balneários um Benfica mais desperto e mais organizado. Teve a seu favor os bons ventos de um golo cedo (49 minutos), ainda teve um rasgo de personalidade e conseguiu jogar com bola, encontrando, finalmente, linhas de passe e jogadores disponíveis para a receber. Porém, não durou muito. A partir dos 60 minutos a Real Sociedad voltou a pegar no jogo e a controlá-lo sem sofrer sustos ou maiores danos. O Benfica ficava, assim, definitivamente afastado dos oitavos de final da Champions, com quatro derrotas em quatro jogos e apenas um golo marcado.

É pois altura de perguntarmos até que ponto este “inferno da Luz” terá impacto no dérbi do próximo domingo. Não nos atrevemos a prever o que quer que seja. Nem sequer se o Benfica vai continuar a insistir no sistema de três centrais e com que protagonistas irá a jogo. A única coisa que podemos prever é que das duas uma: ou Roger Schmidt consegue, enfim, resolver o Benfica ou, então, o Benfica vai ter de resolver Roger Schmidt.