Primeiro, a demolição total; a seguir, esperar pelo fim…

Aves SAD-FC Porto, 0-5 Primeiro, a demolição total; a seguir, esperar pelo fim…

NACIONAL28.10.202423:42

Uma metade inicial intratável e arrasadora do FC Porto tornou o segundo tempo num pró-forma que era preciso cumprir. Vítor Bruno começa a ter soluções muito interessantes numa equipa que se percebe estar a crescer.

O FC Porto deslocou-se à vila das Aves com o firme propósito de não brincar em serviço. E levou tão a sério a sua missão que ao fim da primeira parte já estava tudo mais do que resolvido, o que tornou a segunda metade, especialmente a partir da hora de jogo, a espaços enfadonha. A equipa da casa buscava, com pouca convicção – o facto de não ter enquadrado qualquer remate ilustra-o – o golo de honra, enquanto que os forasteiros levantaram o pé e começaram a guardar energias para o que se segue e, convenhamos, não é pouco.

Apesar das duas equipas se terem apresentado com sistemas semelhantes – um 4x2x3x1 que os avenses, no momento defensivo, transformavam amiúde em 4x4x2 com a subida de Lucas Piazon para o lado de Zé Luís, na tentativa de travar as saídas de bola do FC Porto – as dinâmicas eram bem diferentes, com vantagem esmagadora para os dragões. Ver a movimentação do quarteto atacante dos portistas na noite das Aves, foi como entrar numa máquina do tempo e recordar o que faziam, em termos de movimentação e permutas constantes, no final do século XX, Edmilson, Zahovic e Drulovic, que atuavam em apoio a Mário Jardel.

Contra o Aves Futebol SAD o papel de desmontar o adversário para que Samu fosse servido em boas condições pertenceu à tripla Fábio Vieira, Namaso e Pepê, que tiveram momentos de grande futebol, abrindo espaço para as entradas dos laterais Martim e Francisco Moura, que desbarataram por completo a organização avense. E se a isto juntarmos a codícia atacante de Nico González, um médio que sabe aparecer em terrenos de finalização, vindo de trás e quase não se dando por ele, e ainda o poderio nas alturas de Djaló, que tem um papel preponderante nas bolas paradas ofensivas, temos uma máquina de guerra bem oleada, cada vez com mais argumentos, que tem em Samu o matador que, num estilo poderoso à Lukaku, desfaz as defesas e é um quebra-cabeças para os guarda-redes.

Foi graças a 45 minutos sufocantes (além de quatro golos ainda foram duas bolas aos ferros de Guillermo Ochoa) que o FC Porto alardeou uma superioridade incontestada e ganhou direito a uma segunda parte mais descansada.

Via-se que o Aves queria ter bola e não conseguia, apesar das inúmeras vezes em que Lucas Piazon procurou arrumar a casa, e procurava tirar partido do poderio físico de Zé Luís, mas nem Nhuen Pérez nem o desengonçado mas eficaz Djaló deixavam. Sem soluções, limitou-se a tentar fazer contenção de danos.

No segundo tempo, Vítor Campelos bem tentou espevitar a sua equipa, alterando os alas com as entradas de Vasco Lopes e Kamaté, mas o FC Porto nunca deixou que o adversário pusesse pé em ramo verde. Passava pouco da meia hora (64 minutos) quando Vítor Bruno fez uma tripla alteração, refrescando cada um dos setores, ao mesmo tempo que aceitava que o ritmo fosse mais pausado. Mais tarde viria a reativar a direita (de onde saiu o 0-5), com João Mário a mostrar bom serviço e ainda poupou Varela, que viu um amarelo desnecessário, fazendo entrar Eustáquio. Mas no rol de jogadores entrados aos 64 minutos estava Rodrigo Mora, 17 anos de talento, que atuou como ‘playmaker’, primeiro com os nervos a tolherem-lhe a lucidez, e depois, à medida que os minutos corriam, a mostrar que é capaz de pensar depressa e a dar fluidez ao jogo. E é por isso que o golo de belo efeito com que fechou o marcador, completando a ‘manita’, lhe ficou bem.

Quando se segue um ciclo exigente, o FC Porto foi à vila das Aves dizer que está bem e recomenda-se. Tem um grande guarda-redes e um matador excelentíssimo; laterais que fazem bem todo o corredor; um meio campo que trabalha muito e futebolistas imaginativos no último terço do campo. E ainda soluções de bola parada e uma perigosidade constante no jogo aéreo, especialmente o que vem da direita, onde as formas de cruzar opostas de Fábio Vieira e Martim são igualmente eficazes. Samu, o demolidor, que o diga…