Prémios da UEFA: o pilar valor e as contas para os clubes portugueses
Sorteio dos oitavos de final da Liga dos Campeões (Foto: FC Bayern München/X)

Prémios da UEFA: o pilar valor e as contas para os clubes portugueses

INTERNACIONAL08.07.202410:08

Perceba como passam a ser distribuídos os dinheiros da televisão. Benfica dificilmente receberá tanto como nos últimos anos, mas perda é compensada pelo prémio de participação. Sporting sai a ganhar graças à subida nos ‘rankings’

A grande diferença na distribuição dos dinheiros da UEFA é então o desaparecimento dos valores do coeficiente e do market pool (direitos de televisão), que passam a ser agregados naquilo a que a UEFA chama pilar valor. Com menor contribuição para o bolo final - na Liga dos Campeões, o coeficiente representava 30 por cento do total do dinheiro distribuído pelos clubes e o market pool 15 por cento; agora o pilar valor passa a ser de 35 por cento do total da distribuição.

Logo aí, há um benefício para os clubes portugueses - aumentam, em percentagem e valor absoluto, os prémios de participação e os de desempenho, que não dependem do histórico de resultados (onde os portugueses nem estavam mal) ou do peso dos mercados televisivos de cada país.

Em termos absolutos, o coeficiente dava 600 milhões de euros para distribuir pelos clubes e o market pool 300 milhões. O coeficiente dava 1,137 milhões de euros para o clube com pior ranking a dez anos (com pontos de bónus por provas europeias vencidas na História) dos 32 que participavam na fase de grupos. Esse valor ia aumentando 1,137 milhões à medida que se subia na classificação, até aos 36,384 milhões para o clube com melhor ranking a dez anos.

Nesse âmbito, os clubes portugueses, especialmente Benfica e FC Porto - o Sporting, com piores resultados nas provas europeias na última década, ficava um pouco mais abaixo -, faziam importantes encaixes. Nas três últimas épocas, o FC Porto somou com o coeficiente 23,877 milhões de euros em 2021/22 e 2022/23 (12.º lugar do ranking a dez anos entre os 32 participantes na fase de grupos) e 26,151 milhões em 2023/24 (10.º lugar). O Benfica arrecadou 21,603 milhões em 2021/22 (14.º lugar), 22,740 em 2022/23 (13.º) e 23,877 em 2023/24 (12.º). O Sporting recebeu apenas 11,370 milhões em 2021/22 (23.º lugar no ranking a dez anos) e 12,507 em 2022/23 (22.º). Já o SC Braga, em 2023/24, igualou os 12,507 milhões de euros do Sporting no ano anterior (22.º).

Quanto ao market pool, o dinheiro era distribuído à proporção do peso dos direitos televisivos de cada país. Ou seja, os clubes dos países que pagavam mais à UEFA para transmitir a Champions eram os que recebiam mais. E aí os clubes portugueses saíam claramente a perder. Porque o mercado português tinha pouquíssimo peso na UEFA - apenas 0,7 por cento, ou cerca de 2,11 milhões de euros, dos 300,3 totais distribuídos no market pool - e, ainda para mais, a fatia que cabia a cada país era depois dividida (em função da classificação final no campeonato na época anterior e do número de jogos que cada um fazia depois na Champions dessa época) pelos clubes que participavam na fase de grupos. E nos últimos anos, com três equipas lusas a terem acesso, esses 2,11 milhões cifravam-se em valores entre os 600 e os 900 mil euros para cada um. Em 2022/23, por exemplo, o FC Porto recebeu 828 mil euros, o Benfica 652 mil e o Sporting 634 mil (os números do market pool da última época ainda não foram divulgados).

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OS ‘DIREITOS EUROPEUS’

O novo pilar valor vai conjugar as duas formas anteriores de distribuição de verbas. A fatia de 35 por cento do total do dinheiro a distribuir na Champions será de 853 milhões de euros, menos que os 901 conjugados que coeficiente e market pool representavam. A percentagem que corresponda aos direitos vendidos na Europa será distribuída em fatias, como acontecia com o coeficiente: uma fatia para o clube, dos 36 que participam na fase de liga, menos representativo; 36 fatias para o que teoricamente terá mais peso na comercialização dos direitos.

E como é que a UEFA vai escalonar os clubes? Pois bem, na parte que corresponda aos direitos europeus vai usar o peso da televisão mais o ranking a cinco anos, criando dois coeficientes e fazendo depois a média. No ranking da televisão, os clubes são ordenados pelo que cada país pagou à UEFA. Se, como aconteceu no ciclo anterior, a França continuar a ser o país que mais valor criou (estava ligeiramente à frente de Inglaterra, os números para o novo ciclo ainda não são conhecidos), então os clubes franceses vão ocupar os lugares de 1 a 4 (se o Lille se apurar para a fase de Liga) ou de 1 a 3 (se o Lille for eliminado nas pré-eliminatória) desse ranking. Os clubes do mesmo país são depois ordenados por participações recentes nas provas europeias - 3 pontos por uma época na Liga dos Campeões nas cinco anteriores, 2 por uma época na Liga Europa, 1 ponto por presença na Liga Conferência nesse espaço temporal. Em relação a 2024/25, isso quer dizer que o PSG ficará à frente de Lille, seguindo-se Mónaco e Brest. Supondo que a seguir virão os clubes ingleses, o Manchester City ficaria com o 5.º lugar desse ranking (partindo do princípio que o Lille se apura para a fase de liga; caso contrário, teria o 4.º lugar), o Liverpool com o 6.º, o Arsenal com o 7.º e o Aston Villa com o 8.º.

Sem saber exatamente quais os valores pelos quais os direitos para o novo ciclo de três anos da Champions vão ser negociados, é difícil ter uma estimativa definitiva de quais clubes vão ficar em que lugares. Mas seguindo os valores do ciclo terminado em 2024, os clubes das cinco principais ligas ocuparão todos os primeiros lugares desse ranking - em 2024/2025, 20 ou 21, dependendo do Lille falhar ou não o apuramento para a fase de liga. Depois virão clubes de países nórdicos - Suécia, Dinamarca e Noruega, se passarem as pré-eliminatórias (nenhum tem acesso direto à fase de liga) - e a Escócia. Só depois os números de Portugal começam a aproximar-se dos outros países, mas mesmo assim foram inferiores no último ciclo a Áustria, Suíça e Israel e iguais aos dos Países Baixos, embora superiores (por pouco) a Bélgica, Turquia, Croácia ou Ucrânia. Ou seja, sendo impossível calcular quais os lugares nesse ranking que Benfica e Sporting (com as águias uma posição à frente) vão ocupar, porque dependem de direitos televisivos que ainda não são conhecidos e de quem ocupa as sete vagas ainda em aberto entre os 36 da fase de liga, na melhor das hipóteses ficariam com os lugares 22 e 23, mas provavelmente com quatro ou cinco posições abaixo.

Para apurar as fatias dos direitos europeus, no entanto, há outro ranking - o mais conhecido da UEFA, a cinco anos, que determina os cabeças de série nas competições europeias. Aí, em 2024/2025, o Benfica vai ter o 14.º lugar e o Sporting o 20.º ou 21.º (dependendo de o Rangers, da Escócia, ser eliminado nas pré-eliminatórias ou apurar-se para a fase de liga).

No final destas contas, somam-se as posições de cada clube nos dois rankings, o da TV e o de cinco anos da UEFA, e quem somar menos pontos recebe as tais 36 fatias do bolo, quem ficar a seguir 35, e por aí fora até à fatia conjugada do 36.º. Os clubes portugueses, fazendo uma média dos dois rankings, dificilmente terão direito a mais que 14 ou 15 fatias do bolo do pilar valor referente aos direitos europeus. Quanto é que isso valerá? Impossível saber, porque também não se sabe qual o peso que a venda dos direitos televisivos na Europa terá para o total. A UEFA, nas explicações dadas sobre como esta distribuição vai funcionar, usa como exemplo uma percentagem de 75%. Isso corresponderia a 640 milhões de euros a distribuir desta forma. Com esse valor, cada fatia do bolo valeria 960 mil euros. O clube no primeiro lugar na soma dos dois rankings atrás descritos receberia 34,560 milhões de euros, o valor de 36 fatias. Um clube que tenha direito a doze fatias, por onde devem andar os portugueses, encaixará 11,520 milhões de euros com a parte correspondente aos direitos europeus, partindo desse princípio de 75 por cento do total do pilar valor.

‘DIREITOS FORA DA EUROPA’

Falta distribuir, no pilar valor, a parte correspondente aos direitos de televisão comercializados para fora da Europa. Que também será feita com fatias do bolo, mas usando apenas um coeficiente - o ranking a dez anos da UEFA, agora sem bónus para vitórias em competições no passado. Aí, para 2024/2025, o Benfica surge no 12.º lugar (terá portanto direito a 25 fatias do bolo) e o Sporting em 16.º (21 fatias). Voltando ao exemplo da UEFA, partindo do princípio que esses direitos fora da Europa representariam 25 por cento do total do pilar valor, ou 213,25 milhões de euros, cada fatia seria de 320 mil euros. Com 25, o Benfica receberia 8 milhões de euros; com 21, o Sporting ficar-se-ia por 6,720 milhões.

Na prática, o Benfica deverá aproxima-se dos 20 milhões de euros no pilar valor, quando em 2022/2023 recebeu quase 23,5 entre coeficiente e market pool. O Sporting deverá ficar um pouco acima dos 18, valor superior ao que encaixou na última vez em que esteve na Champions (€13,1 M) - porque subiu nos rankings da UEFA. A perda das águias, em todo o caso, é atenuada pelo aumento de três milhões de euros do prémio de participação. E com os prémios por resultados a subirem, incluindo a criação do bónus pela classificação final na fase de liga, a nova Champions poderá não ser a galinha dos ovos de ouro que muitos esperaram mas quase seguramente que vai fazer subir, mesmo que de forma não substancial, as receitas para os clubes portugueses.

Na Liga Europa e na Liga Conferência, o pilar valor vai funcionar exatamente da mesma forma, embora, claro, com valores substancialmente inferiores. Na segunda competição da UEFA, haverá 198 milhões de euros a distribuir dessa forma; na Liga Conferência serão apenas 57 milhões - porque aí apenas 20 por cento do bolo é alocado, aumentando o peso dos prémios de participação e resultados, em vez dos 35 por cento de Champions e Liga Europa.