EURO 2024 Polónia: o guia
Texto de Tomasz Wlodarczyk, Maciej Luczak e Radoslaw Przybysz - que escrevem para o 'Meczyki' - no âmbito da Guardian Experts' Network, a rede de partilha de conteúdos para o Euro 2024, liderada pelo jornal inglês 'The Guardian', e que tem A BOLA como representante português
Expectativas
A contratação de Fernando Santos, que ganhou o Euro 2016 com Portugal, devia ter acalmado os ânimos em volta da seleção, após um Mundial turbulento. Era um nome conhecido, com um currículo de experiência a trabalhar com jogadores de classe mundial. O que podia correr mal?
Tudo podia correr mal! Santos, na verdade, acabou por ser uma escolha sem pontos a favor. A qualificação parecia teoricamente fácil, e o pensamento era de que a Polónia podia garantir esse objetivo e, ao mesmo tempo, começar a rejuvenescer o grupo e introduzir vários jovens que, no futuro, formariam a espinha dorsal da seleção, quando lendas como Szczesny ou Lewandowski se retirassem.
A campanha começou com uma derrota frente à Chéquia e continuou com uma derrota frente à Moldávia, a equipa com o ranking mais baixo que alguma vez bateu a Polónia. Além disso, a expressão corporal de Santos nas conferências de imprensa era tão má que começou a ser claro que seguir caminhos distintos era a melhor solução.
Uma derrota frente à Albânia, em setembro de 2023, selou o destino do português, e a federação contratou Michal Probierz. No início de 2023 essa aposta seria considerada uma loucura, mas o técnico de 51 anos juntou os cacos de uma equipa partida e fez o suficiente para chegar ao Euro.
Não foi sempre bonito. Depois de uma vitória frente às Ilhas Faroé e um empate frente à Moldávia, perderam com a Chéquia, o que significou a presença nos play-offs. Lá, bateram a Estónia por 5-1, nas meias-finais, e o País de Gales na final, nos penáltis (ambas as equipas acabaram com 10 jogadores).
Os adeptos não se iludem a pensar que a Polónia se vai qualificar no grupo da morte (com França, Países Baixos e Áustria). As expectativas são muito baixas, mas isso funcionou bem no passado com os jogadores polacos. Probierz disse repetidamente que não é tempo de revoluções. Tem uma abordagem segura com o seu 3x5x2, e não é difícil prever quem vai ser titular no primeiro jogo.
Já faz algum tempo que a Polónia podia ombrear com rivais mais fortes. Agora é aborrecida e previsível. Contudo, tudo é possível no futebol e talvez, só talvez, a Polónia surpreenda tudo e todos.
O selecionador
Michal Probierz e Cezary Kulesza são bons amigos. Quando este último era presidente do Jagiellonia, contratou Probierz e isso levou ao melhor período da história do clube. Então, não foi propriamente surpreendente que, na sua pior fase como presidente da federação, tenha-se virado para o soldado com provas dadas. Probierz melhorou significativamente a defesa, o que gerou empates sem golos e vitória nos penáltis frente ao País de Gales. Não diz muito publicamente e confia nos seus instintos e em quem o rodeia. Também fez algumas convocatórias surpreendentes, como a de Patryk Peda, que jogava na Serie C, na altura, ou quando escolheu Taras Romanczuk em detrimento de Jakub Moder na partida em Gales.
Probierz gosta de golfe e poemas. Um dos seus epigramas favoritos é de Jan Sztaudynger: «A história é redonda como a roda. Compreendi isso debaixo da roda». A sua carreira é repleta de altos e baixos e tem um historial de desentendimentos com jornalistas. Um dos mais memoráveis – e populares – veio depois de uma derrota com o Legia, após a qual se queixou da arbitragem: «Vou para casa e beber uma ***** de um copo de whisky. O que é que posso fazer mais?»
Temperamental no passado, acalmou-se no seu novo papel, e é capaz de aguentar a pressão. Os jogadores elogiam-no pela abordagem tática e por construir um ambiente positivo na equipa.
O ícone
Robert Lewandowski. Tem de ser ele. Por mais de 10 anos os treinadores adversários têm dito o mesmo sobre a Polónia. Dizem primeiro algo sobre a solidez defensiva, antes de acrescentar: «Mas eles têm o melhor número 9 do mundo». Mais jogos pela Polónia: Lewandowski. Mais golos pela Polónia: Lewandowski. É o polaco mais famoso do mundo (embora Iga Swiatek esteja-se a aproximar). É um ídolo e referência para todos os jogadores e atletas polacos e alguém que se senta na mesma mesa de Messi e Ronaldo, pelo menos no que toca aos números. Há uns meses acusou os jogadores mais novos de falta de personalidade. Mais uma vez terá, ele próprio, de mostrar essa personalidade no torneio. Pode ser o seu último (embora ainda não se tenha decidido).
Para ter debaixo de olho
Nicola Zalewski começou a titular no Mundial 2022, mas foi substituído após 45 minutos frente ao México, e não foi visto até aos últimos 19 minutos do jogo dos oitavos de final frente à França. É esperado que tenha um papel mais importante no Euro e que mostre o seu talento aos clubes europeus. Ganhou a Liga Conferência com a Roma, em 2022, mas tem tido menos tempo de jogo esta época. É o melhor driblador na seleção polaca e não têm ninguém como ele.
Espírito rebelde
Kamil Grosicki. O veterano estreou-se na seleção em 2008 e jogou quase 100 partidas pelo seu país. Amadureceu nos últimos anos, mas sempre foi considerado um bocado louco. Costumava ir a muitas festas e agora é o líder de dança no balneário. Teve de ultrapassar um vício ao jogo para singrar no futebol. É bom amigo do treinador Michal Probierz e do presidente da federação, Cezary Kulesza. Os três trabalharam juntos no Jagiellonia Bialystok – Grosicki como jogador, Probierz como treinador e Kulesza como presidente e dono. Os dois últimos são como pais para Grosicki, que nem sempre foi fácil de lidar.
A espinha dorsal
Szczesny, Kiwior, Zielinski, Lewandowski. Wojciech Szczesny foi o melhor jogador polaco no Mundial 2022 e o herói da qualificação para o Euro, frente a Gales. Disse que este será o seu último torneio pela seleção. Jakub Kiwior jogou todos os jogos pela Polónia desde a sua estreia, em 2021, e tornou-se no defesa mais importante do plantel. O médio chave para a Polónia é Piotr Zielinski. Teve uma época difícil no seu clube, mas espera-se que seja um dos líderes durante o Euro 2024. E depois há Robert Lewandowski. 82 golos em 148 jogos pela seleção nesta altura e, durante anos, o mais importante jogador da equipa.
Onze provável
3x5x2 - Szczesny - Bednarek, Dawidowicz, Kiwior - Frankowski, Slisz, Moder, Zielinski, Zalewski - Lewandowski, Swiderski.
Adepto famoso
No Euro 2016 houve Russel Crowe: o famoso ator australiano deu voz ao seu apoio pela Polónia no Twitter, quando chegaram aos quartos de final. Agora há Agnieszka Chylinska – cantora, compositora e personalidade televisiva. Foi vista recentemente em vários jogos do campeonato, ainda que não seja certo se irá replicar o seu amor pelos clubes no que toca à seleção.
Petisco
O prato nacional da Polónia, conhecido por todo o mundo, é o pierogi, mas os adeptos não comem isso nos estádios. Quando vêm os jogos em casa, os snacks mais populares são as batatas frita e a pizza, sempre acompanhados por cerveja. Nos estádios o essencial é a gieta – salsicha grelhada no pão com ketchup e mostarda. Até há rankings sobre qual o clube que vende a melhor salsicha. Contudo, os adeptos das equipas de escalões inferiores – especialmente os mais velhos – ainda vão aos jogos com sementes de girassol.