Pepe: o jogador que não se cansou de vencer e desafiou a longevidade
Pepe no Euro 2024 (IMAGO / MIS)

Pepe: o jogador que não se cansou de vencer e desafiou a longevidade

NACIONAL08.08.202419:23

Figura acarinhada pelos portistas e pelos 'merengues', o defesa-central tornou-se numa das principais faces da história da Seleção Nacional, ao fazer parte da equipa que ganhou o Euro 2016; No total, deixa um legado de 29 títulos conquistados, espalhados por um período de 23 anos

No dia 8 de agosto, quando Pepe anunciou ao mundo o fim de carreira, vários internautas mostraram-se surpreendidos com a notícia. Escreveram que parecia ser uma decisão inesperada, tendo em conta que Pepe ainda jogava ao mais alto nível. Destacaram a exibição do defesa-central contra a França, com 41 anos, nos quartos de final do Euro 2024, encontro no qual deixou tudo em campo, mas também a liderança que mostrou na eliminatória que pôs o FC Porto frente ao poderoso Arsenal. Não evitou derrota, mas levantou a mesma lengalenga de sempre. ‘Pepe continua incrível’. E não é por acaso que, seguindo este argumento, o anúncio seja surpreendente, afinal, estamos a falar de um dos jogadores com maior longevidade (ao mais alto nível) da história do futebol,. Foram 23 anos de carreira, 895 encontros, nos quais fez 51 golos, com um palmarés composto por 29 títulos.

Chegada ao Marítimo e estágio… no Sporting!

Tudo começou no Corinthians, clube brasileiro no qual fez grande parte da formação, mas foi em Portugal que o jogador, nascido a 26 de fevereiro de 1983, começou a escrever a história. Mais precisamente a 5 de julho de 2001. Tinha 18 anos, quando pegou nas malas e saiu de São Paulo para rumar à Madeira.

Pepe começou carreira no Marítimo em 2001 (ILHAPRESS/GREGORIO CUNHA)

Ia jogar pelo Marítimo, mas antes de chegar à equipa principal, teve de passar pela formação secundária, para ganhar ritmo e forma depois de uma grave lesão. Fez aí mais duas temporadas, mas antes de rumar ao FC Porto, esteve perto de assinar pelo Sporting, na altura liderado por Laszlo Boloni e que contava já com um jovem Cristiano Ronaldo. Foi aí que os dois se conheceram pela primeira vez, mas só iriam partilhar balneário anos mais tarde, no Real Madrid, porque o clube madeirense e o lisboeta não chegaram a acordo para a transferência.

Pepe cruzou-se com Cristiano Ronaldo em Alcochete quando estava a ser negociado para o Sporting

Depois de dois anos no Funchal, Pepe mereceu a atenção de outro dos três grandes portugueses e instalou-se no FC Porto, às ordens do treinador espanhol Víctor Fernández. No dia em que chegou ao Dragão, recordou que o presidente do clube desse período, Pinto da Costa, que disse que seria essa a «casa» do defesa-central. E foi. Estreou-se de azul e branco ao lado de Jorge Costa na Supertaça Europeia, que acabou por ser vencida pelo Valência (1-2).

Pepe e Bosingwa com o troféu da Supertaça de 2006, após vitória contra Vitória de Setúbal (ASF/ANDRE ALVES

Nesse mesmo ano, no primeiro clássico pelos dragões contra o Benfica, acabou expulso, uma cor que viu repetidamente 20 vezes ao longo de 853 jogos na carreira, espaçada por 23 anos. O FC Porto ainda conquistou a Taça Intercontinental em 2004/05, porém, Pepe ficou sempre no banco. Seria só em 2005/06 que levantaria o primeiro troféu, ao vencer a liga portuguesa. E seguiram-se mais três títulos com os nortenhos, com uma Supertaça Cândido de Oliveira, uma Taça de Portugal e o desejado bicampeonato nacional.

À conquista da Europa pelo Real Madrid

Depois de suscitar a atenção dos tubarões europeus, lá se mudou para o Real Madrid, em 2007, num negócio que rondou os 30 milhões de euros. Foi na capital espanhola que reencontrou Cristiano Ronaldo, em 2009, numa fase em que o alvo a abater era o Barcelona. Mas também foi nesse ano que Pepe viveu o pior momento da carreira. Corria o dia 21 de abril quando os merengues defrontavam o Osasuna. Com tudo empatado, dois golos para cada lado, Pepe perdeu a cabeça e acabou expulso depois de pontapear Javier Casquero na cabeça. Quando questionado sobre o que o levou a agredir daquela forma Casquero, Pepe não conseguiu responder. Cumpriu 10 jogos de castigo.

Pepe a pontapear Javier Casquero em 2009

Um ano mais tarde, com José Mourinho ao leme dos madrileños, tiveram pela frente um super Barcelona, visto para muitos como a melhor equipa a pisar os relvados. Voltou a viver momentos polémicos a nível de comportamento em campo, pois acabou por pisar a mão de Messi, em 2012, mas sem consequências disciplinares. Mesmo assim, conquistou 8 títulos em Espanha – três campeonatos, duas Taças do Rei e outras tantas Supertaças. Contudo, a nível internacional, foi peça-chave em três Ligas dos Campeões que o Real Madrid conquistou, venceu o Mundial de Clubes em 2014 e 2016 e uma Supertaça Europeia, também em 2014. Venceu tudo o que tinha para vencer, incluindo o maior que teve na carreira e querido para todos os portugueses, o Euro 2016, o único da história de Portugal.

Pepe e Cristiano Ronaldo com o troféu do Euro 2016 (Miguel Nunes/ASF)

Segunda passagem pelo FC Porto

Ao fim de 10 anos nos merengues, deixou o clube espanhol para rumar à Turquia, onde fez 52 jogos pelo Besiktas. Foi a fase menos boa do português, a nível de clubes, sem qualquer título conquistado, mas pela Seleção, a história era diferente, pois, também com Fernando Santos no cargo técnico, Portugal conquistou a edição inaugural da Taça das Nações (2018/19), na mesma época em que chegou às 100 internacionalizações por Portugal. E a pouco e pouco viu uma segunda passagem pelo FC Porto a tornar-se mais aliciante.

«Na segunda passagem [pelo FC Porto], fui recebido outra vez com enorme carinho dos adeptos, dos trabalhadores do clube, por quem tenho imenso carinho. No meu último percurso no FC Porto, tive um staff técnico que me ajudou bastante e me ajudou a continuar a ter o gosto por jogar futebol, por acordar e poder ser um privilegiado por fazer aquilo que mais amo, que é jogar futebol. Quando decidi voltar, decidi voltar para o meu clube e poder continuar a dar alegrias aos adeptos», disse no dia em que anunciou o fim de carreira.

Marcelo Rebelo de Sousa a entregar a Taça de Portugal a Pepe (ANTONIO COTRIM/EPA)

Tinha 35 anos e a questão era: quanto mais tinha Pepe para dar aos dragões. E a resposta, cinco anos depois, foi: muito mais! Precisamente mais oito títulos, nos quais se destacam dois campeonatos nacionais, aos quais se juntam duas Supertaças, uma Taça da Liga e quatro Taças de Portugal, sendo a última (2023/24) a mais especial para o português. Apesar não ter subido ao relvado, subiu para levantar o troféu com a equipa, naquele que marcou o fim da era de Sérgio Conceição e, acima de tudo, o início da era de André Villas-Boas, como novo presidente do FC Porto.