Pedro Alves: Gyokeres e Ioannidis, destaques nacionais e promessas do Brasil

ENTREVISTA A BOLA Pedro Alves: Gyokeres e Ioannidis, destaques nacionais e promessas do Brasil

NACIONAL28.05.202414:00

Pedro Alves, antigo 'chief scout' do SC Braga e diretor desportivo de Estoril e Olympiakos, fala de Gyokeres (e Ioannidis) ao fazer balanço da Liga. Desafiado por A BOLA, destaca ainda alguns nomes da Liga 2 e promessas brasileiras, para acabar com uma história caricata que envolve o «próximo Bola de Ouro» (PARTE 4)

Na quarta e última parte da entrevista a A BOLA, Pedro Alves assume que desconhecia Gyokeres e compara-o a Ioannidis, que já tinha visto jogar antes ainda de trabalhar na Grécia. O antigo diretor desportivo de Olympiakos e Estoril destaca ainda alguns nomes dos escalões profissionais do futebol português, escolhe duas promessas brasileiras para seguir com atenção e conta uma histórica caricata com o «futuro Bola de Ouro», dos tempos em que era chief scout do SC Braga.

- Foi chief scout, agora é diretor desportivo… já conhecia Gyokeres?

- Muito sinceramente, não o conhecia. Muito sinceramente, nunca tinha ouvido falar. Está de parabéns o Sporting, o scouting e a estrutura, pela forma como tiveram capacidade para conseguir este jogador. Hoje é fácil falar, mas há um ano toda a gente criticou os € 20 milhões por um jogador que estava a um ano do final de contrato. Agora essas pessoas não levantam o dedo. Há que dar mérito a quem o tem. Não o conhecia e foi uma agradável surpresa.

- E agora o Sporting está interessado no Ioannidis, do Panathinaikos. Deu para perceber o seu valor na Grécia, se é que já não o conhecia antes?

- Esse já conhecia. Tem o mesmo perfil físico, mas não tem nada a ver em termos de profundidade, de aceleração, até de apoios frontais, rodar e ter o sentido de um-contra-um que Gyokeres tem. O Ioannidis é um claramente um jogador de área, procura muito o espaço vazio e aparece nas zonas de finalização. Está a ter este ano o que não teve nos anos anteriores, que é golo. É um miúdo de 24 anos, internacional pela Grécia, e acho que o Sporting está a preparar muito bem, ou a saída do Gyokeres, ou a reforçar a situação. Acho que seria um reforço importante para o Sporting para a próxima temporada.

- Acabou por não se cruzar com Amorim no SC Braga, mas como tem visto o seu trajeto?

- O principal no Rúben é a comunicação e a forma como é agregadora para quem trabalha com ele. Há um ano o Sporting deu 20 milhões de euros pelo Gyokeres e tinha ficado em quarto lugar. É a tal união, palavra que eles utilizam muito, uma família. É notório que só isso fez a diferença perante os rivais mais direitos. Hoje o Sporting tem uma estabilidade que leva a que nos momentos da adversidade isso não resulte em momentos de crise. O Sporting está a ser trabalhado com sigilo máximo, a preparar os mercados com tempo, a ser proativo e não reativo. Há uma boa comunicação, capacidade de liderança, e depois, segundo aquilo que os jogadores todos falam, é a capacidade de trabalho e estratégia que ele tem. O Rúben é muito bom treinador, mas se não tivesse a união que tem por trás, a proteção que tem por trás, em certos momentos… Perdeu na Luz com substituições mal feitas, a meu ver, e no minuto a seguir já estava a assumir. Tem a capacidade de levantar o dedo, e para mim isso é fundamental, assumir os erros e as virtudes.

- Aceita o desafio de escolher dois ou três jogadores que se tenham destacado na Liga, para lá dos grandes?

- Zaydou, do Famalicão, é claramente um jogador que cabe num plantel de equipa grande. O Luiz Júnior também. O Gustavo Sá não está pronto para equipa grande, neste momento, mas tem potencial para lá chegar. O Rodrigo Gomes tem claramente qualidade para ser titular do SC Braga e o Mateus para fazer parte do plantel do Sporting. O Lelo, do Casa Pia, acabou por fazer mais uma época consistente. Não o vejo numa equipa grande, mas vejo-o numa equipa melhor do que o Casa Pia, com todo o respeito. O V. Guimarães acabou por ter o Jota como destaque individual, e acho que é um jogador com muito potencial, mas para mim o Handel é um diferenciado, é um jogador muito mais de equipa grande. Ao Martim Neto também fez muito bem o empréstimo do Benfica ao Gil Vicente, como antes o Tomás Araújo, ou mesmo o Tiago Gouveia no Estoril

- E nos escalões inferiores? Dois ou três nomes que merecem ser acompanhados?

- O Nacional teve o Gustavo, no Marítimo o Lucas, e o Santa Clara acho que teve o Ricardinho como grande destaque. E o Bruno Almeida, que foi meu jogador sub-23 e andava sempre acima do peso e eu disse-lhe que enquanto não fosse profissional não ia longe. Não foi por ter dito isso, mas fico feliz por vê-lo crescer e ficar mais profissional e mais dedicado e acima de tudo mais seco, porque antes era uma bolinha de Berlim e hoje nota-se que tem uma parede abdominal mais em conta com o que é exigido a um bom profissional.

- Também é um profundo conhecedor do mercado sul-americano. Arrisca soltar dois ou três nomes para o futuro?

- O Endrick e o Estevão já estão na ribalta. Vou falar de dois extremos: o Rayan do Vasco da Gama e o Lorran do Flamengo, que estiveram no Mundial sub-17. Vamos ouvir falar deles em Portugal, pois os clubes grandes vão tentar e não vão conseguir. Os tubarões já vão mais diretos, e com o fenómeno dos multi-clubs. O Savinho só é contratado porque existe um Girona. Isso vai dificultar a vida aos clubes grandes.

 - Qual o jogador que esteve perto de contratar e que agora, quando o vê na ribalta…

- Tenho uma história muito engraçada com o próximo Bola de Ouro. Em 2016 fui ver a Copa Ipiranga, que é antes da Copa São Paulo. Estão lá uns 100 scouts de todo o mundo, e já era a minha segunda presença. Nunca mais me esqueço que fui ver o Fluminense, que tinha o Evanilson como médio, contra o Flamengo do Lucas Paquetá e do Jean Lucas. Tive um episódio muito giro, que me marcou para o resto da vida, do tamanho do ridículo que eu passei. Vi um miúdo de 16 anos a entrar nos últimos 15 minutos e era muito rápido, muito esguio, ia para cima e entortava todos. Uma coisa impressionante! Eu, verdinho, com dois anos de profissão, começo a ver quem era: Vinícius Júnior. Cheguei ao hotel, fiz o relatório e liguei a António Salvador. Disse-lhe que tínhamos uma pérola, que ia valer milhões, e que conseguíamos fechar por 500 mil euros. O presidente disse para eu avançar, e estava lá o empresário do Vinícius. Vim para Portugal convencido que fechava o Vinícius Júnior por esse valor. No início do ano seguinte ele vai aos sub-20, é o melhor jogador do Sul-americano, e acaba vendido por 45 milhões de euros. Isto para mostrar a vergonha que eu passei. Já toda a gente sabia quem era o Vinícius Júnior e que não ia ser vendido por 500 mil euros nem coisa parecida.