26 junho 2024, 19:00
Oficial: Paulinho apresentado no Toluca
Avançado já assinou contrato e vai ser treinado pelo português Renato Paiva
Avançado não escondeu emoção no adeus a Alvalade; foi apresentado esta quarta-feira como reforço do Toluca, do México; deixou juras de amor eterno ao Sporting
O Museu do Sporting serviu de palco à entrevista de Paulinho, à televisão do clube, na despedida de Alvalade, onde não conseguiu evitar as lágrimas. Fez um balanço dos três anos que jogou de leão ao peito, falou dos momentos mais marcantes, do bom entendimento com Gyokeres e deixou um pedido aos adeptos: «Continuem a cantar a minha música».
26 junho 2024, 19:00
Avançado já assinou contrato e vai ser treinado pelo português Renato Paiva
- «E se o Paulinho mostra os dentes, eles até caem». Tem noção do fenómeno que se criou com este cântico que lhe é dedicado, sobretudo nos jogos em Alvalade?
- Não, acho que ainda não tenho. Acho que vou continuar a sentir. As pessoas que estão à minha volta, os meus amigos, a minha família, dizem que é uma coisa incrível. E nós que somos profissionais tentamos afastar-nos um bocadinho, mas é quase impossível. No campo é impossível. É impossível. É uma coisa assim… [emocionado]. Eu e os meus colegas cantamos no balneário, no autocarro e em todo lado.
- Falam muito sobre isso?
- Sim. Falamos nos mais no sentido de, obviamente que não fui o melhor jogador do Sporting, nem vou ser, isso não é questão, mas é uma música que fica para a história. Ao início pensei que era para o roupeiro, mas não, era para mim [risos].
- Lembra-se da primeira vez que ouviu o cântico?
- Lembro perfeitamente. Foi no golo que marquei o Ajax. Nunca tinha ouvido, nem sequer tinha noção de que existia uma música ou que haveria alguma coisa do género. E lembro perfeitamente nesse golo que marcou o Ajax. Infelizmente não foi um bom jogo para nós.
- Daí para a frente os adeptos torciam para que o Paulinho marcasse golos, não só pela importância do resultado, mas também para poderem cantar a música.
- Sim, acho que chegou um ponto que era para poderem cantar a música [risos]. Houve ali uma fase que não estava fácil cantarem a música, mas acho que a música está tão grande que agora já não são só os sportinguistas que cantam, acho que já toda a gente canta, até pessoas que não seguem futebol. Sabem a música e cantam.
- E também canta a sua música, de vez em quando?
- Canto, muitas vezes, mesmo quando não quero cantar, ela não sai da cabeça. Basta ouvir uma vez, basta ouvir uma batida. Mesmo nas férias, começava a dar a música, a verdadeira, e vinha logo o cântico à cabeça. Os meus colegas mandavam-me ouvir de férias a música a dar e eles a cantarem.
- Cantou no Marquês de Pombal, naquela noite de celebração do título. Como é que foi a entrada ao som dessa música?
- Acho que mesmo quem estava lá não conseguiu sentir o que eu senti. Apesar de achar que toda a gente vibrou, e é impossível não vibrar com a música, independentemente se gostam de mim ou não. É inesquecível [pausa]…
- Foram pouco mais de três anos de Sporting. O tempo passou a correr, Paulinho?
- Passou a voar [lágrimas]. Disse que não era bom terem maquilhado… Sim, passou a voar.
- Quando foi oficializado no início de fevereiro de 2021 imaginava que ia ter no seu currículo todos estes troféus: dois campeonatos nacionais, uma Taça da Liga e uma Supertaça?
- Acreditava, vim para cá para sermos campeões. Agora não é só o facto de os ganhar, é como os ganhámos. Isso diz muito de como o clube cresceu, a dimensão do clube neste momento. Mas acreditava que ia ser campeão [lágrimas].
- Como é que alguém com 1,87m ou 1,90m é apelidado de Paulinho?
- Porque já tive, se calhar, 60 centímetros e era mais baixo que os meus colegas. E, se calhar, fazia algumas aneiras e a minha mãe puxou-me as orelhas e eu cresci muito [risos], mas de todos os amigos eu era o mais pequeno. E assim, de repente, num ano, cresci bastante. E também ando com as sapatilhas altas hoje [risos].
- Quando era miúdo sempre sonhou um dia chegar-se a este nível?
- Sim, acho que todos os miúdos quando começam a jogar querem chegar a um patamar destes. Eu não fugi à regra. Agora, tinha noção que jogar no Santa Maria até aos 18 anos era muito difícil, mas nunca me passou pela cabeça que era impossível ou que não ia conseguir, nunca. Abdiquei de muita coisa, que confesso não me custou porque para mim jogar futebol era tudo. Quando me perguntam acho difícil, digo que não, se eu consegui mais gente consegue. Mas é preciso fazer escolhas e tem de haver uma paixão enorme. E eu tenho-a e, claro, pelo caminho tem de haver um bocado de sorte e eu tive-a.
- O primeiro equipamento que lhe ofereceram quando era miúdo foi do Sporting.
- Foi o meu padrinho que me ofereceu equipamento e chuteiras, foi o meu primeiro equipamento. Andava sempre com ele vestido, era o meu melhor amigo. Eu não era sportinguista e ele queria que ele fosse. Depois converteu-me, foi ele que conseguiu.
- Como é que foram os primeiros tempos do Paulinho no Sporting?
- Estava muito feliz, mas foram difíceis. Porque tinha vindo de lesão e aqui o ritmo era, e continua a ser, muito alto, o mister me facilita e eu vinha com uma pressão muito grande, que eu coloquei sobre mim, e depois lesionei-me também passado alguns jogos, não foi fácil. Mas acho que foi sempre a melhorar. Foram umas semanas atribuladas para mim, alguma ansiedade para ver se se concretizava, queria muito vir para o Sporting e já tinha havido essa possibilidade no início da época, até o último dia de mercado, e não aconteceu. Foi uma época difícil para mim, muito difícil. Era para ser apresentado antes do jogo do Sporting com o Benfica, que era o último dia de mercado, mas atrasou-se alguma documentação, era para ser antes do jogo, não foi, era para ser a meio do jogo, não foi, mas pronto, no final do jogo já foi oficial.
- Marcou aqui 53 golos pelo Sporting. Fica satisfeito com o que fez? Podia ter marcado mais? Que balanço é que faz desta parte específica do seu trabalho?
- Isso é relativo. Fico muito feliz por mim, pelo profissional que fui, todos os dias, pelas amizades que criei, é incrível [lágrimas]. Apesar de sermos um clube muito grande, temos um ambiente muito familiar, mesmo na Academia. Ganhar também ajuda, mas nós também tivemos dois anos sem ganhar e o ambiente era bom, sempre bom, sempre saudável, o que não é fácil num clube desta dimensão. Espero para o ano vir cá ao museu e ter mais um troféu.
- Tem 21 assistências ao serviço do Sporting. Uma grande assistência sabe tão bem como um grande gol?
- Não, depende do jogo, mas acho que não, acho que um grande golo é um grande golo. Agora, se for uma assistência por um golo de campeonato, acredito que o Nuno Santos tenha gostado mais de me assistir contra o Boavista do que se calhar marcar um golo [risos], também acredito que tenha gostado mais do golo de letra dele do que da assistência.
- Pé esquerdo, pé direito ou cabeceamento. Qual é o seu tipo de golo favorito?
- Pé esquerdo, claramente.
- E o festejo icónico do Paulinho, apontando para a cabeça, como é que surgiu e qual é o significado?
- Aquilo surgiu numa fase difícil da minha carreira, no Gil Vicente, surgiu no sentido de temos de ser fortes psicologicamente. Foi mais nesse sentido. Acabou por ficar.
- Já tem seguidores, temos o Miguel Almeida, o Wilson Lopes, jogador da formação do Sporting, que também já fazem esse festejo.
- Podem imitar à vontade. E espero que o levem mais longe e mais alto para o resto da vida deles, para ficar eterno. É bom ver miúdos da formação a fazê-lo. É sinal que, de certa forma, inspiramos ou eles se inspiram em nós. Portanto, é sempre bom e que as gerações anteriores, as próximas gerações que venham, que se inspirem neles e continuem.
- Qual foi o melhor golo ao serviço do Sporting?
- Se calhar contra o Besiktas, para a Liga dos Campeões, tanto lá como cá, acho que foram bons golos.
- E há aquele golo que fez a terra tremer com o Vizela no início desta temporada. Porque houve um sismógrafo artesanal que no momento do festejo do seu golo e também de um do Gyokeres que registou abalos.
- Sinto-me mais responsável por aquela adrenalina que sentimos ali no jogo todos, que foi no último suspiro, literalmente, foi bom. No campo sentimos o vibrar do estádio, o ambiente que fica, depois não controlámos o resto, mas é sinal de que estava toda a gente contente.
- E o mais importante de todos? Foi o que marcou no dia 11 de maio de 2021?
- Sem dúvida alguma. O golo do título, que foi com o pé direito, já tenho alguns com o pé direito, por incrível que pareça. Acho que importante para mim, mas para o clube também, que foi um virar de página, que vai continuar por muitos anos. A bola entrou na profundidade e o Nuno [Santos] cruzou muito bem, e eu antecipei a jogada, fiquei um bocadinho fora de jogo para quando a bola entrasse eu tivesse alguma vantagem, a bola veio, recuei e pronto, marquei. Com este pé direito, quem diria? Foi uma descarga e uma emoção muito grande porque sabíamos que estávamos mais perto.
- E tinham noção disso que, de facto, estavam muito perto de conquistar o título naquele jogo, era o jogo decisivo?
- Sim, estávamos. E marcámos, passando alguns segundos ouvimos os adeptos fora do estádio. Os últimos minutos do jogo pareciam uma eternidade.
- Foi uma época de condicionantes por cauda do Covid-19.
- Para mim foi complicado também, fiquei dois meses num hotel, não conseguia arranjar casa, não consegui trazer a minha família, estava numa fase de transição. Basicamente era treino, casa, casa, treino. O futebol era a nossa profissão, mas também acaba por ser a nossa vida social com condicionantes. E apesar de ter sido difícil, o facto de termos um bom grupo ajudou-nos.
- Qual foi o jogo mais marcante desse primeiro título nacional?
- Se calhar foi com o Rio Ave, ganhámos 2-0, acho que esse foi o jogo que pensámos ‘nem que a gente morra em campo, temos de ganhar’. E o jogo da vitória frente ao Benfica, com o golo do Matheus [Nunes], mas nesse ano também tivemos muitos golos aos 90 minutos.
- Na conquista da Supertaça em 2021 que histórias tem para contar?
- A Supertaça... Algumas, mas já uma ou outra que não posso contar [risos]. Para mim foi muito bom porque queria ganhar a Supertaça, nunca tinha ganho.
- E a Taça da Liga?
- Foi no ano que ficámos em segundo. Estávamos muito bem, honestamente, pensava que íamos ser campeões. Fomos todos sair vestidos com o fato de treino do Sporting, é amor ao clube dentro e fora do campo.
- De quem é que vai sentir mais falta?
- De muitos. Também vou sentir muita falta do Paulinho. Lembro-me do primeiro dia que cheguei ele tratou-me por senhor Paulo. Disse-me que era para mais ninguém se chamar Paulinho, mas já lhe disse que ele é o único Paulinho. É o maior Paulinho do Sporting. Vou sentir muita falta de muitos companheiros da equipa. Do Esgaio, do Seba [Coates], do Nuno, do Pote, do Neto, do Antonio [Adán], do Quaresma, do Bragança, a nossa amizade cresceu muitos nestes últimos dois anos. E também dos que chegaram agora, o Morten [Hjulmand] é uma pessoa super engraçada, bem disposta, o Geny também, apesar de ser envergonhado, o Franco, o Trincão, que também já conhecia. Vou sentir saudade de todos. Eles também vão sentir saudades, mas alguns vão sentir-se aliviados, aqueles a quem constantemente chateio a cabeça, na brincadeira, claro.
- É comparável a conquista do título nacional da temporada 2023/2024 com o primeiro que conquistou no Sporting?
- É totalmente diferente. Mesmo a forma como o conquistámos. Há aqui dois graus de dificuldade diferentes: o primeiro porque já não ganhávamos há muito tempo e voltar a ganhar é difícil; o segundo porque toda a gente dizia que não ganhávamos com adeptos, que só voltávamos a ganhar outro título daqui a 20 anos, até para os adeptos foi importante este segundo título porque sentiram ainda mais a importância deles. Nós já tínhamos a noção disso. Depois em questões táticas e técnicas acho que fomos mais dominantes este ano.
- Sentiu que esta foi a sua melhor temporada no Sporting?
- Sim, acho que não há dúvidas. Mesmo eu senti-me muito bem, muito melhor, mesmo fisicamente, mentalmente, em todos os níveis, e os números também falam por si.
- Houve grande entendimento com o Gyokeres.
- Sim, quando os jogadores são bons, como o Viktor, o Pote, que é um jogador extremamente inteligente, o Trincão, o próprio Marcus [Edwards] são jogadores que, não só pela qualidade técnica, mas o entendimento do jogo ajuda-nos a jogar juntos.
- A chegada de um jogador com as caraterísticas de Gyokeres ajudou ao seu estilo de jogo.
- Sim, ajudou-me a mim e à equipa, porque acho que também houve aqui uma transformação na nossa dinâmica de jogo. Somos jogadores com características totalmente diferentes que acabam por se encaixarem.
- E aqui, qual foi o jogo mais relevante, mais decisivo para o título desta temporada?
- Acho que foi com o Benfica, aqui em casa, mesmo a mesma forma como ganhámos. Acho que aí foi como o mister dizia, tivemos a estrelinha de marcar no final e o facto de termos aumentado a diferença de pontos para Benfica também foi importante. Tudo isso, não só os pontos, mas também o estado anímico e de espírito dos jogadores, tanto nosso como deles, muda e isso deu-nos um boost e ficámos com confiança para sermos campeões.
- Era dos que acreditavam que podiam ser campeões?
- Sim, acreditava e muito. Aliás, a minha família é de Famalicão, portanto, eu disse aos meus amigos, é a altura de mostrar amor por mim. E aconteceu.
- Conte-nos um bocadinho do que viveu na primeira pessoa nessa noite de festejos do título.
- Fiquei um bocadinho chateado porque acabou a comida que eu gostava e no autocarro estava com sede. Cidra, exatamente [risos]. Lembro-me a certo momento durante a viagem do estádio para o Marquês desligarem a música do autocarro e ter sentido coisas incríveis. Parecia que tínhamos 10 colunas à nossa volta com a música dos adeptos a passar ali por baixo de uma ponte. Só fumo, só gente a cantar. Aquele momento não me sai da cabeça.
- É verdade que só tirou uma fotografia com o telemóvel?
- É verdade. Gosto de viver as coisas, não gosto de perder nada. Ainda bem que há a malta que te filma, porque agora vejo os vídeos e estou arrependido. Mas porque estava ali e divertir-me imenso, estava a festejar nem pegava no telemóvel, a minha preocupação era não o dar o telemóvel para não o perder. Mas na minha cabeça estão todas as imagens.
- Vai partir para o México. Vai sair da sua zona de conforto. O que é que espera desta aventura?
- Como disse há pouco, nem imaginava a sair daqui. Mas acho que tudo se proporcionou para acontecer e também era algo que eu queria experimentar sair da minha zona de conforto. E surgiu a oportunidade, achei que era uma boa oportunidade para mim, mais até do que a Arábia ou outras situações que se falavam. Também é um país apaixonado por futebol e senti que me queriam muito, vou à descoberta.
- Se pudesse escolher um momento para reviver ao serviço Sporting qual é que seria?
- É difícil, porque são muitos. Fora do campo talvez a viagem para o Marquês neste segundo campeonato, dentro do campo é difícil, talvez golos com Vizela, no último minuto, quando todos cantavam a minha música.
- E o momento quando entrou com a sua filha no campo na festa do título, em Alvalade, após o jogo com o Chaves?
- [Emocionado]… Arrepiou-me. Ela é sócia desde que nasceu, vai continuar a ser e espero que quando formos mais velhos tenhamos a nossa cadeira aqui no estádio para virmos ver os jogos [lágrimas].
- Há emoções muito fortes nesta despedida.
- Achei que não ia chorar, mas já estou a chorar desde que entrei no carro. Deixo um sítio onde me senti amado, que amei e amo, fui feliz e é difícil, é preciso ter coragem para sair daqui… Quero ser recordado como alguém que ama o clube, é sportinguista e vai continuar a apoiar o Sporting para o resto da vida. Obrigada por tudo, nunca dei o suficiente para retribuir o que me deram. Continuem a cantar a música, nem que seja para o Paulinho roupeiro, que ele fica contente.
Mesmo com a voz embargada, Paulinho despediu-se da seguinte forma: «Se o Paulinho mostra os dentes, eles até caem!»