A cumprir a quarta época no Salgueiros, no Campeonato de Portugal, Diogo Valente começa a planear a sua retirada do futebol. Aos 40 anos, e com passagens por Académica, FC Porto, Boavista, Gil Vicente, SC Braga, Beira-Mar, entre outros, analisa ainda a nova geração de jogadores de futebol
- Aos 40 anos e com mais de 500 jogos nas pernas, quando chegar o dia da despedida, que recordações e sentimentos vais levar ao despir o equipamento e arrumar as chuteiras pela última vez?
- Sinto que vai ser uma grande saudade. É uma carreira longa, marcada por uma enorme paixão pelo futebol. Cada vez que penso no final, esse sentimento de saudade surge com mais força, porque foi uma vida inteira dedicada a isto. Foram muitas experiências, alegrias e tristezas, mas tudo valeu a pena. Às vezes fala-se em sacrifícios, mas eu nunca senti isso como um fardo, porque sempre joguei com paixão. Quando fazemos algo que amamos, como no meu caso, não há sacrifício, só amor pelo jogo.
- Está perto esse final de carreira?
- Já há três anos que penso nisso, mas a verdade é que me sinto bem, física e mentalmente. A cada época, continuo motivado e o meu rendimento tem sido adequado para a divisão onde jogo. Todos os anos surgem convites, mas os últimos anos têm sido passados aqui no Salgueiros, um clube muito especial para mim. É o único onde fiquei mais de dois anos. Se será o fim aqui? Não sei. Vou vivendo um dia de cada vez.
Em 2012, o avançado/médio, agora com 40 anos, viveu o melhor momento da sua carreira ao conquistar a Taça de Portugal ao serviço do emblema de Coimbra. O jogador recorda o vídeo motivacional que Pedro Emanuel mostrou antes do apito inicial dessa final, além da passagem pelo FC Porto
- O que te faz apaixonar por este clube histórico do Porto? O que continua a motivar-te a sair de casa para jogar futebol?
- No meu primeiro ano, o que me trouxe para o Salgueiros foi o projeto. Lutámos todos os anos pelo sonho de levar o clube às competições profissionais. Não conseguimos, mas estivemos muito perto em duas épocas. Gostava que esse sonho se tornasse realidade antes de terminar a carreira. Este clube marcou-me desde o início, identifico-me com os seus valores, com a humildade das pessoas. Sempre me lembrei do Salgueiros no escalão principal do futebol português, e quando vi a paixão do povo por este clube, percebi que é mesmo um clube especial. Por todo o lado, sinto o carinho das pessoas por este clube.
- Estando rodeado por um plantel jovem, como avalias esta nova geração de jogadores, mesmo que não estejam ainda numa categoria profissional?
- Há grandes diferenças. Vivi esta transição de gerações e isso tem aspetos positivos e negativos. Em termos de qualidade individual, os jovens continuam a ter muita qualidade, até porque atualmente investem muito mais em treinos específicos, técnicos e de força. Muitos têm os seus PTs pessoais, o que é de admirar. Mas a nível de mentalidade, acho que as gerações antigas eram mais fortes. Faltam-lhes espírito de sacrifício e paciência. Hoje, os jovens querem resultados imediatos e, às vezes, não percebem que é preciso um caminho longo e cheio de trabalho. Nós aprendemos a 'partir pedra' para alcançar os objetivos, talvez eles precisem de mais disso.
- Como jogador experiente, o que tentas incutir nos jovens atletas do plantel? Que lições consideras essenciais para o crescimento deles?
- Alguns deles pedem conselhos, o que é bom, mas noto que, hoje, já não olham para nós, jogadores mais experientes, com a mesma admiração que nós tínhamos pelas antigas referências. O respeito existe, mas veem-nos mais como colegas comuns, não pelo estatuto. Pessoalmente, não exijo isso, gosto de ser tratado como qualquer outro jogador, focado em dar o máximo e ganhar o meu lugar. Essa é a diferença de postura que noto. Tento sempre incutir valores de seriedade, dedicação e o espírito de união que considero importantes.
- Pensando no futuro, já te imaginas como diretor desportivo ou treinador? Que tipo de filosofia gostarias de implementar se tivesses essa oportunidade?
- Ainda não tenho nada definido, mas sei que quero continuar ligado ao futebol. É algo que amo. Já tirei o nível 2 de treinador e fui convidado para o nível 3. Também me interessa a gestão desportiva, mas ainda estou a viver intensamente o papel de jogador e não consigo pensar muito nessa transição. Se um dia assumir um cargo, será com a mesma seriedade que sempre tive como jogador: honestidade, profissionalismo e uma boa relação com as pessoas. Conheço bem o mundo do futebol e sei como os jogadores gostam (ou não gostam) de ser tratados, por isso quero ser justo e direto.
O jogador português partilha as impressões das convivências com jogadores como Rúben Amorim e Hugo Viana, assim como a influência de treinadores como Sérgio Conceição, Pedro Emanuel e Jorge Costa