7 setembro 2023, 16:55
As dúvidas que Trubin ainda deixa no ar
Roberto Rivelino, treinador, especialista na posição de guarda-redes e autor, analisa a A BOLA o reforço do Benfica, e compara-o a Samuel Soares e a Vlachodimos
Análise à estreia do guarda-redes ucraniano na Champions ao serviço do Benfica. «Falta-lhe escola», diz Roberto Rivelino, autor do livro 'Pensar o Guarda-Redes'. O contraste com os elogios dos ex-treinadores
Foi apenas o segundo jogo, mas o suficiente para gerar alguma apreensão no universo encarnado: as hesitações e erros de Anatoliy Trubin frente ao Salzburgo. O internacional ucraniano fez um penálti aos 3’, socando a cabeça de Pavlovic na defesa de um canto, teve uma saída precipitada no lance do penálti que António Silva viria a cometer e que redundou no 1-0 para os austríacos e falhou alguns passes, contrariando as boas referências que trouxe da Ucrânia neste aspeto e que, no entender dos encarnados, seria um upgrade face a Vlachodimos.
A 7 de setembro, ainda antes da estreia do guardião de 22 anos pelas águias, Roberto Rivelino escrevia em A BOLA que Trubin ainda criava «muitas dúvidas no ar». Agora quisemos perceber se essas «dúvidas» cresceram e se os problemas são mais momentâneos ou estruturais. Segundo o treinador de guarda-redes e autor do livro Pensar o Guarda-Redes, o novo dono da baliza do Benfica tem um «problema de formação».
7 setembro 2023, 16:55
Roberto Rivelino, treinador, especialista na posição de guarda-redes e autor, analisa a A BOLA o reforço do Benfica, e compara-o a Samuel Soares e a Vlachodimos
«Tem debilidades técnicas e vai ser difícil trabalhar noções táticas com ele. Penso que vai ser muito difícil ele ter tempo para isso», diz Roberto Rivelino, ciente de que a sua opinião contrasta com análises públicas muito elogiosas para com Trubin no momento em que foi contratado ao Shakhtar por €10 milhões (mais €1 milhão por objetivos e 40 por cento de mais-valia numa futura venda).
«Percebo porque se falou tão bem dele porque ele representa o pacote inteiro. É alto, joga razoavelmente bem de pés, tem lastro de Liga dos Campeões. Hoje em dia valoriza-se muito a altura e o jogo de pés», justifica.
Vamos, então, ao concreto. O que falhou, por exemplo, no lance do penálti cometido? «Teve um posicionamento errado, criando uma linha de visão paralela à bola. Isso deu-lhe a perceção de que a bola iria ser dele, a perspetiva ocular enganou a mente. Só que a bola mudou de trajetória, distorceu a perceção e ele acabou por acertar na cabeça do adversário», detalha o especialista.
Este é um caso clássico, diz, de uma tendência «errada» de largar a baliza. «O guarda-redes deve sempre defender de trás para a frente, ou seja, ficar numa posição recuada em relação à bola. Primeiro tem de haver pragmatismo e só depois passar para a agressividade, isto é, o ataque à bola. Digo sempre isto: a baliza não sai do sítio e o guarda-redes é o único que a pode proteger», destaca Rivelino, admitindo que estas falhas são «potenciadas» se existir «nervosismo, tal como o próprio admitiu antes do jogo com o Vizela».
Outro dos pecados cometidos por Trubin foi no lance do penálti de António Silva, que começou no mau atraso de Bah para o guardião ucraniano. «Ele não tinha de sair-se àquela bola porque estava Otamendi a controlar o lance. Além disso, a forma como vai revela uma debilidade física, parece a queda de um guarda-redes de 40 anos, isto tem a ver com coordenação motora e com a falta de escola», insiste.
A questão do momento prende-se agora com a forma como Trubin reage à adversidade e se vai ou não ao encontro das excelentes referências que foram sendo divulgadas na opinião pública. «Vai ser um dos melhores da Europa», afirmou Rui Costa. «O Benfica contratou um guarda-redes fantástico», disse, por sua vez, Luís Castro a A BOLA, em agosto, ele que o treinou no Shakhtar. António Ferreira, técnico de guarda-redes que também trabalhou com ele no emblema ucraniano, também em declarações ao nosso jornal, não poupou nos elogios, destacando o jogo de pés: «Ele não é bom, é muito bom!»